26 - "You can't bribe the door on your way to the sky"

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ℭ𝔥𝔲𝔲𝔶𝔞

"Quero saber o que aconteceu com ele." — Chuuya pediu.

Dazai não o condenou ou riu de seu pedido estranho. Havia se passado duas noites desde que Hawthorne ressuscitou como vampiro e ninguém ouviu um sussurro sobre o Padre.

Exceto os fantasmas de Dazai, é claro.

E assim os dois acabaram novamente na Catedral.

Era uma coisa peculiar. Ver algo que outrora fora de uma beleza imensurável agora nada mais que uma lembrança tenebrosa de um ato inescrupuloso.

Não era culpa da catedral. Era uma construção criada para durar, para ser uma rocha na vida dos fiéis.

E por isso a reforma já começara. O povo ansioso para consertar o que foi quebrado. Andaimes e escadas de madeira escalavam as paredes, ao redor das janelas e estátuas arruinadas. Bancos partidos ao meio. Documentos detalhando os consertos se espalhavam por cima de mesas improvisadas.

Graças à bagunça, os sermões aos domingos estavam em pausa. Restos do púlpito foram recolhidos e aglomerados num canto, até um púlpito novo ser construído.

"Perdoe-me, Padre, pois eu pequei." — disse Dazai, seus passos ecoando brutalmente no silêncio austero da igreja — "E pecarei novamente."

Nathaniel Hawthorne estava sentado em um dos poucos bancos ainda inteiros. Chuuya de repente sentiu-se nostálgico de seu trabalho porque olhar para Hawthorne era como olhar para um cadáver pronto para ser enterrado.

O terno preto sob medida, sem manchas ou amassados, os sapatos brilhantes e os cabelos bem penteados. Até os óculos cintilavam sob o fulgor do luar que adentrava pelas janelas quebradas.

Uma fútil tentativa de normalidade. Nada escondia a pele cinzenta, as pálpebras finas que mostravam uma teia de veias negras. A expressão em seu rosto podia mostrar solenidade, mas Chuuya passou por aquilo.

A pior dor que ele já sentiu foi a dor da fome. Se seu chamado por sangue não surtisse efeito, começaria a devorar a si mesmo como uma fera furiosa e desesperada para ser saciada.

Chuuya podia sentir os vestígios de sangue na própria língua, apreciava o cheiro divino de sangue que emanava de Dazai, mas para Hawthorne era só mais um castigo. Ele torceu o nariz e eles finalmente se viram na mira do olhar do Padre.

"O Diabo enviou dois demônios para me tentar. O Senhor me dará forças para passar por um último tormento."

"Você não sabe nada sobre tormento." — disse Chuuya com veemência — "Sua morte será pacífica em comparação com a daqueles que você torturou pessoalmente."

"A purificação dói mas é necessária."

Olhos azuis baixaram para as mãos no colo de Hawthorne. Formavam uma concha ao redor do pesado crucifixo que Nobuko arrancara de seu pescoço.

Fé é uma coisa peculiar, não é? Enquanto a cruz não fazia nada a Chuuya, as palmas das mãos de Hawthorne queimavam lentamente, deixando impressa a marca do crucifixo na pele.

Ele parecia apreciar a dor. Pressionando as mãos com mais força na cruz.

"Acredita em Deus, senhor Dazai?" — Hawthorne perguntou.

Dazai, encostado na parede, abaixo de uma colossal pintura de uma santa, respondeu simples:

"Não."

"Imagino que não crê no céu também."

"Eu poderia acreditar em inferno, mas seria impossível para mim acreditar na existência de um paraíso."

Hawthorne balançou a cabeça, refletindo.

What The Dead WhisperOnde histórias criam vida. Descubra agora