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Estava uma noite linda quando Dazai, Nakahara e Akutagawa se juntaram à comoção próxima à torre do sino.
O céu ainda exibia pinceladas púrpura. Sem estrelas e sem lua. Os lampiões dos postes estavam sendo acendidos por trabalhadores. Um por um, a rua se iluminando devagarinho.
Era uma rua imensa. O orgulho da cidade. A Ópera com seu domo, vitrines douradas de lojas, o fontanário. E a torre do sino assomando acima de tudo. Semelhante a um pai orgulhoso.
A multidão era impressionante. Pessoas chegando de cabriolés, outras de bicicletas, uma mistura de vestes importadas ou manchadas de carvão, sapatos do mais raro couro ou cheio de buracos a ponto dos dedos tocarem a neve velha que sujava a rua. Não importava a diferença de status. Se acotovelavam e espichavam os pescoços.
A rua estava também abarrotada de fantasmas. A caminho da frente da aglomeração, era quase impossível não atravessar a silhueta maculada de pelo menos uma dúzia de fantasmas.
Dazai olhou por cima do ombro, para seus companheiros. Akutagawa, no fim do trio, encarava de lado aqueles que ousavam esbarrar em seus braços ou pés. Nakahara, logo atrás de Dazai, tropeçou numa pedra da rua de paralelepípedos, cambaleando como se estivesse tentando não passar mal.
No aperto de pessoas, Dazai não parou para perguntar, mas observava cada movimento, cada retesar dos músculos de Nakahara. De forma sutil mas constante.
Eles se espremeram até o fontanário ficar visível. Uma construção de pedra ornamentada onde água jorrava das bocas de anjos.
Alinhados logo em frente, estava duas filas de jovens e crianças. Vestes brancas. Sorrisos beatíficos.
"...encantados e privilegiados em poder compartilhar esta dádiva com tantos filhos do Senhor." — Nathaniel Hawthorne dizia. A cruz pesada pendurada no pescoço refletia no céu escuro — "Devemos abençoar esta cidade como nossa casa..." — seu discurso falhou ao que seus olhos encontraram Dazai e Nakahara no meio da multidão.
Por um mísero segundo, Padre Hawthorne crispou os lábios em descontentamento e Dazai sorriu em resposta.
"Vamos ouvir a música dos anjos." — Hawthorne se recuperou com louvor. Unindo as palmas das mãos — "E que o Senhor esteja conosco."
Ele se afastou para a lateral do fontanário. O coral de jovens e crianças tomaram fôlego e começaram a cantar.
As vozes vibraram pela rua. Etéreas. Acompanhando o uivo do vento. Sussurros angelicais soprando nos ouvidos dos presentes.
Dazai tocou o pulso de Nakahara e indicou que se afastassem da primeira fila. Os três se ajuntaram na calçada. Longe do feixe de luz dos lampiões.
"Sinto cheiro de sangue." — Akutagawa confidenciou. O sobretudo cinza cobrindo sua silhueta como uma mariposa dentro do casulo.
"Se estou correto, e sempre estou, — Dazai falou — hoje é a única noite para descobrir como eles mantêm uma lista de todos os vampiros da cidade. Se não obtermos respostas, teremos que esperar o próximo mês."
Vendedores espertos montaram suas barracas por toda a extensão da rua, oferecendo petiscos e doces por um preço baixíssimo. Provavelmente induzindo fiéis a alimentarem suas crianças na presença do Senhor.
"Mon petit vampiro-" — Dazai chamou e se interrompeu no mesmo instante.
Nakahara estava parado à sua direita. Os músculos tão tensionados que seu corpo tremia.
Estava perdendo o controle da feição de vampiro.
Veias emurchecendo e escurecendo. Repuxando seu rosto até o crânio ficar visível. E os olhos. Se tornando concavidades, sem vida. Íris escarlate pulando loucamente de um ponto ao outro.
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What The Dead Whisper
Fiksi PenggemarNa Era Vitoriana, Osamu Dazai é um assassino de aluguel. Quando seu mais novo trabalho o leva de volta à sua cidade natal, ele conhece Chuuya Nakahara, um vampiro novato que busca vingança contra o tão famoso Vampiro Demônio. Em uma história de mist...