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Forçar fantasmas a fazerem o que se recusam sempre exigia um preço alto no corpo de Dazai. Quase como correr uma maratona carregando uma rocha nas costas.
Com o passar dos anos, aprendeu a lidar com as consequências. Sim, a enxaqueca pulsava nas veias de Dazai como minhocas rastejando sob a pele, porém, a energia retornava aos pouquinhos, tornando a exaustão uma mera lembrança distante.
E se podia se mover, poderia simplesmente fingir que a dor não existia.
"Uh, vou finalmente conhecer o seu ninho sagrado?" — Dazai indagou, o olhar curioso ao exterior do prédio. Parecia um dedo em riste ao céu, meio esquelético com suas janelas turvas.
"Calado." — Nakahara resmungou, lutando contra a porta que emperrou e se recusava a abrir — "Ter sua presença infestando meu espaço já é tormento suficiente, não piore com seus comentários enfurecedores."
"Prometo me comportar."
"Não acredito em você."
Obtendo sucesso em não quebrar a maçaneta, a entrada foi concedida. Era frio ali dentro. O frio comum, seguro. Gavetas aguardando corpos mundanos e equipamentos organizados nas extensas mesas.
Dazai fez menção de enfiar um dedo no afastador de incisão mas o olhar severo de Nakahara o impediu.
Deixando o laboratório de Tanatopraxia para trás, os dois subiram uma escadinha e adentraram o apartamento.
Nakahara saiu em missão para acender cada um dos candelabros. Em cima do fogão à lenha, nas prateleiras e na mesinha de centro redonda. O apartamento foi banhado numa luminosidade morna e Dazai catalogou cada novo pedacinho que teve o privilégio de ver, procurando o Chuuya Nakahara nos quadros de artistas boêmios, no papel de parede, nas pilhas de tralhas no chão.
Era semelhante a um ninho de camundongo. Cortinas pesadas escondiam a janela inclinada e a noite do lado de fora.
"Fique à vontade." — disse Nakahara — "Mas não muito."
"Você não precisa de luz para enxergar, não é?"
"Mas você precisa." — ele assoprou o fósforo, um fino fio de fumaça subindo.
Dazai sabia que a calma de Nakahara se devia ao fato de estar aplacado pela visita que receberam após Dazai mencionar que receberiam uma. Decidiu não contar que aquela não era a visita que esperava.
"Hora do trabalho." — Dazai se jogou no sofá preto, o móvel rangeu sob seu peso — "Ofereça-me algo quente para beber."
"Tenho chá."
O armário com suas portas de madeira áspera era lar de vidros com ervas e grãos. Os únicos alimentos restantes que escaparam da podridão.
Dazai apanhou o caderno da sociedade anti-vampiros e começou a arrancar as páginas, espalhando-as sobre a mesinha para uma visão mais ampla.
O próximo curso de ação seria pesquisar os nomes na prefeitura mas isso desencadearia perguntas demais. Teriam que se satisfazer com os meios convencionais.
"Alguma chance de ter jornais por perto?" — Dazai perguntou, se apossando de uma caneta e começando a anotar as datas de admissão mais antigas, ganhando uma ideia aproximada de quando o clube foi fundado.
Uma pilha de jornais caiu aos seus pés. Nakahara sentou-se no tapete mesmo, as pernas dobradas.
"Não o vejo como alguém que paga por jornal todo dia." — Dazai comentou.
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What The Dead Whisper
FanfictionNa Era Vitoriana, Osamu Dazai é um assassino de aluguel. Quando seu mais novo trabalho o leva de volta à sua cidade natal, ele conhece Chuuya Nakahara, um vampiro novato que busca vingança contra o tão famoso Vampiro Demônio. Em uma história de mist...