27 - "There's no heroes or villains in this place"

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O funeral de Nathaniel Hawthorne foi pacífico.

Dazai e Chuuya assistiram de longe, escondidos dos olhos do povo mundano.

Um mar de pessoas vestidas em preto. Uma chuva leve conferindo um ar desolador à cerimônia. Não passava de um ato simbólico, afinal, o túmulo não carregava corpo algum quando foi afundado na terra.

Era fácil compreender o motivo da pacificidade. John Steinbeck optara por revelar ao fiéis que seu Padre fora vítima de um infeliz roubo. Nada mais. Nem mesmo uma palavra sobre seu estado vampírico antes da morte.

A procissão se separou em carruagens puxadas por viçosos cavalos negros. Rumaram a um só destino. E Dazai e Chuuya os seguiram.

Nobuko Sasaki se mantivera quieta demais nos últimos dias. Respeitando o luto? Dazai descartou a teoria. Improvável. Ela tinha um plano.

"O que está ouvindo?" — Dazai perguntou a Chuuya.

Espiando por trás de um prédio, os dois assistiram a multidão toda adentrar a nova sede da sociedade anti-vampiros. A construção que foi testemunha da transformação de Akutagawa e Ace não era maior por dentro do que por fora, e quando a última pessoa desapareceu e a porta foi fechada, Dazai ficou surpreso pelo prédio não ter explodido por superlotação.

"Um salão subterrâneo." — Chuuya respondeu. Estava de olhos fechados, os ouvidos aguçados — "Mas não estão discutindo planos da sociedade anti-vampiros. Ouço danças e crianças rindo..." — olhos azuis abriram para encarar Dazai em confusão — "estão apenas se divertindo."

A noite apropriava-se do céu e um trabalhador de costas curvadas acendia os lampiões nos postes das ruas. Os círculos mornos de luz amarelada quase revelaram Dazai e Chuuya espreitando na beira de um prédio e eles apressaram-se em afundar na escuridão, costas na parede úmida.

"Um baile." — Dazai desvendou — "Para distrair os adoradores em luto por Hawthorne. E uma desculpa perfeita para os membros do clube se reunirem."

Eles esperaram o trabalhador se afastar e uma carroça passar chacoalhando antes de cruzar correndo a rua. A porta da sede dos anti-vampiros estava trancada, nada que Dazai não pudesse resolver em míseros segundos.

Uma vez dentro, Chuuya guiou o caminho. Apoiando-se em sua audição para encontrar um corredor escondido e uma porta secreta. A passagem levou-os por dois lances de escadas de pedra e mais um corredor amplo antes de Dazai começar a ouvir as vozes.

Um arco, com espadas e crucifixos entalhados na pedra, abria-se para uma câmara surrealmente grande.

Um passo para o interior e Dazai sentiu a morte assentar sobre seus ombros como um casaco congelado. Havia morte ali. Talvez não neste instante. Mas ela chegaria. E seria devastadora.

Ninguém notou a aparição dos dois. Centenas de pessoas dançavam ao som de um piano solene; outras fofocavam em grupinhos; crianças roubavam doces da mesa de comes e bebes. Tudo banhado pela luz dourada de milhares de castiçais e candelabros.

Chuuya se escondeu atrás de uma coluna de pedra negra.

"Se a sua teoria estiver correta, todas essas pessoas estão em perigo." — disse — "Eles não têm culpa."

Sim, é claro que não tinham. Curioso que Dazai nunca se importou com isso. Em outro período, teria dado as costas para o salão de mundanos ou sentado a mesa mais próxima e apreciado o espetáculo.

A diferença do presente, no entanto, eram os grandes olhos azuis de Chuuya Nakahara. Brilhando com tanta emoção e atitude, que Dazai se ouviu suspirar e sabia que estava perdido.

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