29 - "Vanish into the night with me"

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Dazai estava sentado em um banco da calçada. Observava o telhado das casas polvilhado em branco e a fumaça preta vazar das chaminés das fábricas.

Se permitiu um momento para apreciar os diferentes aromas da cidade: neve velha, fumaça, pão no forno. Nunca ficou mais do que poucos meses em um só lugar e estava satisfeito em finalmente poder se despedir.

Mas ainda não.

"Parece apropriado — disse Odasaku, sentando-se ao lado dele no banco — que tenhamos retornado ao nosso ponto de origem, para enfim nos despedirmos."

Dazai olhou para ele. Olhou de verdade. As roupas gastas, o ruivo enferrujado do cabelo, a barba rala no rosto. Odasaku sorriu e a luz prateada da lua atravessou sua silhueta.

"Eu não quero que vá, amigo." — Dazai confessou. As palavras trôpegas.

"Mas você precisa."

Ele ergueu uma mão a frente do rosto. Era possível enxergar as árvores do parque através de si.

"Como pode estar tão calmo?" — Dazai questionou.

"Meu tempo nesta terra terminou há muito." — Odasaku respondeu — "E você ainda me permitiu ver mais desse mundo do que eu poderia pedir."

Uma nuvem escondeu a lua e a cidade caiu em temporária escuridão.

"Viva bem, Dazai." — a voz de Odasaku ecoou nos fiapos sendo soprados pelo vento — "Não caia na monotonia da imortalidade."

O banco ficou vazio. Exceto por Dazai e seu corpo trêmulo, tomado por emoções. Quantas vezes uma pessoa é capaz de sofrer o luto antes de se afogar na própria dor?

"Está uma bela noite, meu amigo." — Dazai sussurrou para o vazio.

༝༝༝༝

A estação de trem era um prédio que agigantava-se acima das pessoas como um lorde do tempo. Ditando quando sair e quando entrar e quando correr.

Os fantasmas eram um entretenimento a parte. Mulheres vestidas de seda e homens com seus fraques sob medida. Tão ocupados com seus compromissos que nem notavam que estavam mortos.

O gongo deu as horas e o som reverberou nas paredes cinzentas. Encostado numa coluna em frente a plataforma que tomaria, Dazai não se moveu. Esperava por alguém.

Quase riu de si mesmo. Osamu Dazai nunca esperava. Mas ali estava ele. E era uma sensação gloriosa. Pela primeira vez em sua curta vida, Dazai não temia passar a imortalidade sozinho.

A multidão se partiu por um instante e Chuuya Nakahara apareceu em sua linha de visão.

"Você confia em mim?"

Engraçado. Dazai não conseguia pensar em uma forma de explicar que confiou em Chuuya, mesmo que subconscientemente, desde a noite em que se conheceram. Desde o momento em que Dazai lhe ofereceu o próprio sangue e mesmo faminto Chuuya se controlou o suficiente para não matá-lo.

"É bom que esse trabalho pague bem." — a voz exigente tocou-lhe os ouvidos — "Pretendo comprar vestes novas."

"Levarei você às melhores modistas de todas as cidades que visitarmos, mon petit vampiro." — Dazai garantiu — "Temos a eternidade para provar do ápice da moda."

Chuuya carregava uma única mala na mão. Como o homem prático que era.

"Devo anotar o endereço de nosso destino. Prometi escrever a Akutagawa. E Stoker. E Kouyou. Ace pode ir para o inferno."

Dazai riu. Yosano também o fez prometer que não desapareceria completamente como da última vez.

O apito soou e o Maquinista acenou para o público.

"Pronto?" — Dazai perguntou, afastando-se da coluna da plataforma.

"Dê-me um segundo."

Dazai virou, curioso para saber o motivo da estagnação. E uma rosa negra apareceu diante do seu rosto.

"Você disse que é a sua favorita." — Chuuya explicou. Aquela obra de arte em formato de vampiro. Os olhos de um teimoso azul, as mechas caindo nos ombros como lava hipnotizante, as costas eretas apesar do óbvio embaraço.

Dazai estava inegavelmente e profundamente apaixonado pela vida violenta que Chuuya irradiava. Chamá-lo de criatura meio-morta era uma blasfêmia.

E Dazai simplesmente teve que beijá-lo.

A fumaça da locomotiva se acomodava acima de suas cabeças, como nuvens cinzentas; alguém gritava o preço de jornais; e Dazai aninhou Chuuya em seus braços e beijou sua boca com todo o fervor que sua alma impregnada por fantasmas era capaz de demonstrar.

A rosa foi guardada com carinho no bolso do colete e as mãos enluvadas de Chuuya deslizaram por seu rosto. Suaves. Quase em idolatria e veneração.

"Obrigado, mon petit vampiro." — cada palavra causava os lábios a roçarem um no outro. Tão perto. Tão íntimo.

Então eles embarcaram no trem. Em direção à outra cidade. Em direção ao futuro desconhecido e imortal.

༄✦༄

Nota da Autora:

FIM

Eu ficaria muito agradecida se cada leitor tirasse um momentinho para relatar o que achou da história. Quais foram suas cenas favoritas, se minha escrita é coerente, se gostaram desse ritmo mais focado em um plot de tensão, se faltou química entre Dazai e Chuuya. Qualquer comentário serve.

Entendo que vocês entraram na história pelo romance e me pergunto se alguns trechos se tornaram entediantes.

Mas o futuro ainda reserva muitas fanfics Soukoku novas, e se você quiser acompanhar minha escrita considere me seguir aqui no Wattpad.

Muito obrigada à todos que leram What The Dead Whisper!

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