13 - "We are the warriors, who learned to love the pain"

310 52 50
                                    

ℭ𝔥𝔲𝔲𝔶𝔞

"Nesta sala, por favor." — disse Kyōka.

Chuuya empurrou o carrinho de ferro para dentro da saleta que ficava embaixo da escada. As rodinhas rangeram de leve ao parar.

Kyōka abriu a tampa molhada da garoa e pegou dois pacotes de sangue entremeio as pedras de gelo, enquanto Bram Stoker veio logo atrás com um segundo carrinho de mão.

"É nosso carregamento de sangue que ouço chegar?" — a voz de Kouyou flutuou a alguns cômodos de distância.

Àquela hora da madrugada o Instituto Escarlate estava quase vazio. Chuuya conseguia ouvir raros passos nos andares acima, indicando que grande parte dos vampiros saíram para aproveitar a cidade. Para viverem o que o dia os impediu.

Cruzando o corredor e passando por baixo da estátua da cabeça de bode, Kyōka, Stoker e Chuuya chegaram na sala de estar principal.

Não importava quantas vezes a visitasse, Chuuya sempre ficaria boquiaberto com a grandeza e o luxo. Noite vazava pelas janelas entreabertas. A lareira estava acesa, emanando um calor que ninguém ali realmente necessitava. A maioria dos divãs e poltronas vazios, exceto por onde Jun'ichirō e Ace se encontravam, em lados opostos da sala.

Ace abriu um sorriso irônico ao avistá-lo e aversão aflorou com toda a força em Chuuya.

"Lamento dizer que consegui apenas trinta litros." — Stoker informou. Suas longas pernas percorrendo o recinto em poucas passadas até trocar um ósculo educado, na bochecha, com Kouyou — "Ainda possuo meus clientes antigos e as doações não estão sendo o suficiente."

Kouyou esfregou a têmpora com a ponta dos dedos.

"Justamente o que eu temia. O sangue está se esgotando. Jun'ichirō aqui foi na patrulha noturna e encontrou outra vítima. Estamos esperando pelo renascimento."

Jun'ichirō assentiu sem comentários. Ele apoiava um tabuleiro de xadrez nos joelhos, entretido no que parecia ser uma partida consigo mesmo.

Kyōka abriu os dois pacotes de sangue e encheu o decantador sobre uma das mesinhas de centro. Ela serviu apenas um cálice para si e outro para Kouyou, deixando que os convidados se servissem sozinhos.

"E Taneda ainda se recusa a ajudar." — Kouyou vociferou — "Aquele cão vira-lata. Imagine só, se um lobisomem estivesse atacando inocentes na cidade, ele esperaria por nossa ajuda para prendê-lo."

"Devo dar uma palavrinha com ele?" — Kyōka perguntou, tomando um assento ao lado de Kouyou.

"Uma palavrinha?" — Chuuya repetiu, curioso.

Kouyou abriu um sorriso cheio de afeto. Seus dedos enfeitados por anéis ajeitaram uma mecha do cabelo de Kyōka para trás da orelha.

"Não, Kyōka querida. Não queremos criar mais conflito." — ela bebericou o sangue e ergueu os olhos para o outro lado da sala — "Só nos resta torcer para que a investigação do senhor Dazai e o senhor Nakahara tenha resultados efêmeros."

Chuuya retirou o chapéu. Seus cachos ruivos estavam um pouco úmidos do frio e garoa do lado de fora. Ele ainda se mantinha no umbral da entrada, em pé.

"Estamos em um bom caminho." — garantiu.

Stoker pegou o decantador e encheu um cálice para si.

"Entrarei em contato com o banco de sangue de uma colega vampira, em outra cidade. Talvez ela possa nos socorrer."

Um bufo debochado veio de Ace.

"Sangue não se esgota. Seu antigo método sim." — ele estava atrás de uma poltrona, os braços inclinados no encosto — "Senhor Dostoevsky oferece, por um precinho, a-"

What The Dead WhisperOnde histórias criam vida. Descubra agora