Capítulo 15

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ANTES

(HÁ 4 ANOS)

SASUKE UCHIHA

Às vezes, sinto que gosto de sofrer. Deve ser isso; não tem outra coisa.

Há um tipo de eletricidade em meu peito que bombeia meu coração e me move; um tipo de coisa que não me deixa desistir. Sem isso, não sou nada. Não sou nada, porque minha vontade sempre foi desistir de tentar remar contra a maré. Tentar fugir do meu destino, que parecia me puxar com desespero para um poço fundo e escuro, um abismo de extremidades húmidas e cheiro podre.

Minha mãe agora quase nunca está em casa. Na semana passada ela veio uma vez para ver como Shisui se sentia depois de saber que ele havia ficado doente, mas foi embora mais uma vez. Como última palavra ela falava que em breve estaria em casa; que chegaria mais a noite, só que o horário nunca vinha.

Tive uma criação diferente da dos meus irmãos. Uma boa infância. Eu lamento todas as vezes que eles não podem ter o mesmo, então não falo nada quando minha mãe simplesmente sai pela porta da frente. Prefiro que ela se vá do que correr o risco de que traga aquele porra para casa.

Pensei que minha mãe nunca mais iria ter coragem de olhá-lo nos olhos. Pensei que ela o odiava tanto quanto eu. Pensei que estava seguro agora, numa nova cidade, porque ela me disse que aquilo nunca voltaria a acontecer.

Eu devia saber que não era verdade, porque até que minha mãe decidiu que não queria mais me ver apanhar, eu tive que sangrar.

Tive que sangrar um monte de vezes.

Danzou...

Nunca pensei que um nome pudesse ser tão amaldiçoado.

Eu já o amei um dia. Eu o amava. Nem acredito que fui capaz disso. Entretanto, no começo ele não era tão ruim. Só que foi piorando.

Até meus quinze, a presença ameaçadora de Danzou não passava disso: uma presença ameaçadora.

Era como se fosse uma espécie de receio, onde eu me esgueirava pela casa, por ser amedrontador demais. Sentia-me sufocado quando percebia estar num mesmo espaço que ele; meu ar ia todo embora, e meu corpo ficava em estado de alerta.

Pode parecer uma bobagem — para quem nunca viveu algo parecido sempre parece com uma bobagem —, mas eu conseguia distinguir os passos da minha mãe e os dele. Passei a perceber a diferença entre as respirações dos dois; a diferença entre um Danzou zangado, um Danzou raivoso, e um Danzou prestes a se tornar violento. Sabia quando podia contestá-lo, quando podia questioná-lo, e quando podia negá-lo. Em contrapartida, também sabia quando não fazer nenhuma dessas coisas.

Aprendi a lê-lo por medo. E eu sentia tanto medo, meu Deus.

Com dezesseis anos eu já não era mais franzino ou pequeno. Já havia crescido bastante, e, enquanto garotos da minha idade iam para aula, o que me restava era repor sacos pesados nas prateleiras do mercadinho que minha mãe outrora trabalhou também, o que me rendia músculos. Um monte deles. E nenhum me fazia sentir seguro.

Cara a cara com Danzou eu ainda conseguia me sentir pequeno e indefeso. Cada vez que ele abria a boca, um tremor subia pelo meu corpo. Eu era uma vítima. Era uma vítima e tinha cada vez mais certeza.

Os gritos e a humilhação sempre foram ruins. Shuisui era pequeno demais para saber do que se tratava, e Itachi, por ser criança, alienado demais em seu próprio mundo para se importar com os berros do nosso padrasto. Meu irmão normalmente pegava um carrinho e o arrastava pelo chão conforme Danzou chamava-o de nomes sujos. Contudo, comigo e com minha mãe era onde estava a coisa toda. Quer dizer, antes, não acontecia tanto comigo. Mas eu era grandinho o suficiente para tomar as dores da minha mãe.

Como Fogo e Pólvora | SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora