capítulo 12

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ANTES

(HÁ 4 ANOS)

SAKURA HARUNO 

Karuine pisou no meu tornozelo.

Não. Não simplesmente pisou, ela fez um tombé que deu errado, e seu pé enorme parou bem na curva do meu, empurrando-o para dentro. Doeu tanto.

Eu engoli o choro. Engoli a dor, as lágrimas, a vontade súbita de gritar, e todo o resto. Só consegui pensar: "Na frente deles não."

Era uma sexta-feira, por isso os ensaios haviam sido na parte da tarde, depois da escola. Eu fui de bicicleta, e na hora de voltar acabei tendo que pedalar com um pé só. Cheguei em casa já passava das 21h:00, e Hidan estava me esperando com uma cara nada boa, sentado no sofá com uma cerveja na mão e um cigarro entre os lábios, deixando a sala numa neblina fedorenta, que me fez prender a respiração e começar a inspirar aos poucos.

— Onde estava? — sua voz assustadora me arrepiou desde o começo da espinha. Estávamos só os dois em casa e, apesar de soar calmo, eu sabia que Hidan não estava. Isso me deixava com medo.

— No balé. — retrai os dedos das mãos, apertando-os com força em punho.

— Ah, no balé. — Ele repetiu o que eu disse. — E sabe que horas são, Sakura?

Encarei o relógio em meu pulso.

— 21h20.

— E nas sextas você está sempre livre assim, Sakura? Para chegar o horário que quiser? Para chegar depois das 20h00?

— Não. — me remexi no lugar e senti meu tornozelo reclamar. Já estava há muito tempo em pé. Já havia forçado-o demais na bicicleta.

— Então porque você insiste em quebrar as regras? — Hidan grunhiu entre dentes, levantando-se como um touro, vindo em minha direção com violência, somente para parar bem diante do meu rosto e segurá-lo com força. Senti seus dedos afundarem em minha pele; senti meus dentes arranharem a parte de dentro da bochecha pela pressão que ele exerceu sobre mim. — Estou ficando cansado em chamar sua atenção. — Seu rosto irritado estava bem próximo ao meu. Conseguia sentir o ar que escapava-lhe os lábios. — Cansado não, puto. Estou ficando puto, Sakura. Porque você continua desrespeitando minhas ordens, agindo como se não ligasse para as consequências. Nunca pensei que fosse burra.

Então ele sacudiu meu rosto. Eu estava acostumada com seu jeito bizarro, com o modo como ele me dominava sem conter meus movimentos. Desestabilizada, tentei apoiar meu peso com o pé em que o tornozelo estava lesionado. Isso me arrancou um gemido doloroso e lágrimas rápidas e escorregaram por minhas bochechas. Eu já estava fingindo a tanto tempo que não estava com dor... não suportei mais aquilo.

Desequilibrei-me, caindo no chão de costas, batendo a bunda no chão com força.

Minha expressão de dor fez Hidan sorrir.

— Não vem com teatrinho hoje, você vai levantar daí agora. — sua mão pesada agarrou meu antebraço. — Vai ir lá pra dentro, tomar um banho, colocar aquela roupinha apertada de balé e entrar na merda do meu carro.

Num puxão, ele me colocou de pé. Embora tenha me deixado ser erguida, cambaleei para trás, escorando na parede mais próxima, exausta pelo modo como meu tornozelo latejava e doía, tanto pelo dia corrido, tanto pela agonia que sentia ao ter meu pé encostando no chão.

Hidan aproximou um passo e eu coloquei minha mão entre nós. Ele detestava manha. Detestava ser contido e, principalmente, detestava se atrasar para seu bar de merda.

Como Fogo e Pólvora | SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora