Capítulo 10

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ANTES

(HÁ 4 ANOS)

SASUKE UCHIHA

Eu não deveria ter ficado tanto tempo longe de casa no verão.

Não deveria ter ido trabalhar fora, e ficado semanas sem voltar para casa.

Não deveria ter me ausentado, mesmo sabendo o que podia acontecer.

Pensei que minha mãe já tinha superado tudo que se propôs a superar. Pensei que ela tinha deixado o passado em seu lugar, esquecido, como deveria ser. Mas eu estava enganado.

Há três anos saímos de Hazel, uma cidadezinha isolada, mais ao norte do Estado. Era quase como uma vila.

Meu pai foi um bom homem. Embora as coisas que eu lembrasse dele se limitassem ao fato de que me ensinou a tocar piano e de que era meu pai, eu sabia que ele nunca foi alguém ruim.

Seu nome era Fugaku. Sagan Fugaku Uchiha. Uchiha, assim como eu. Era o único sobrenome que eu tinha.

Ele foi adoecendo aos poucos. Bem devagar. E algumas pessoas até acham melhor, porque dá para se despedir se for deste modo, mas eu odiei cada segundo. Odiei cada dia, cada semana, cada mês que via-o cada vez mais incapacitado e dependente.

Foi uma coisa que chegou do nada, e eu era novo demais para entender a gravidade de tudo. Só fui perceber o quão sério era quando ele parou de tocar. Quando parou de ser ele, e ficou acamado, triste e cabisbaixo. Lembro dele dizer por repetidas vezes: "Meu Deus, eu não mereço isso. Não mereço. Eu não pequei tanto."

Meu pai e minha mãe tinham uma pequena escola de música. Só os dois. Era bonito vê-los tocando juntos, e eu aprendi assim, observando. Sempre gostei. Amava isso. Amava eles.

Então as aulas pararam. E no mês seguinte veio a venda do piano, depois as decorações da escola, o cello da minha mãe, os violões, a guitarra, nosso carro, e enfim, o ponto comercial. Foi devagar a decadência, não um tombo súbito.

No fim de tudo eu tinha uns dez anos, e Itachi, dois. Ainda era muito novo. Ainda era muito criança. Ele cresceu sem conhecer de fato meu pai. Cresceu sem saber o que eu sabia sobre o homem mais correto do mundo.

O homem que jamais faria nenhuma das escolhas que fiz.

Quem sabe, se meu pai estivesse vivo, eu fosse uma outra pessoa. Alguém que não errasse tanto quanto erro. Mas ele se foi, e as coisas ficaram tão difíceis. Fiz o melhor que podia — ao menos era isso que eu gostava de acreditar.

Minha mãe começou a trabalhar no supermercado da cidade. Uma vendinha, na verdade. O salário era péssimo, disso me recordo bem, mas os donos sempre foram muito bons para nós. Um casal de idosos simpáticos; a senhora por vezes fazia um monte de biscoitos e os mandava para nossa casa. Eu adorava, achava que era uma coisa especial ou algo assim.

Éramos só nós três: eu, Itachi, e minha mãe, Mikoto. Nossa vida não era perfeita naquele ponto — pelo menos nem perto do que costumava ser —, mas também não era ruim de um todo.

Entretanto, a tendência das coisas é piorar.

Nós tínhamos um vizinho. Ele se mudou para o lado da nossa casa quando pai ainda era vivo, e seu nome era Danzou.

Danzou era italiano, tinha um sotaque forte e uma oficina na garagem de casa. Meu pai nunca gostou dele, mas Danzou estava lá pela minha mãe quando ele morreu.

Eu era um menino mais quieto, sempre fui. Itachi, muito novo para ter alguma proximidade comigo. Estava acostumado a passar um monte de tempo na escola de música, porque assim lidava melhor com a solidão.

Como Fogo e Pólvora | SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora