Capítulo 23

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AGORA 

SASUKE UCHIHA

Estava jogado no sofá, dedilhando minha guitarra, até que bateram na porta. Pensei em ignorar e continuar na posição em que estava, no entanto, ouvi a voz de Sakura do outro lado.

— Sasuke, tá tudo bem? — então ela soca a madeira um pouco mais. — Sasuke?

Eu não sei explicar as coisas entre nós. Não sei explicar o que passa na minha cabeça; o que eu deixo acontecer comigo, desde de sempre, causado por ela. Era uma coisa que me balançava, um tipo de descontrole, que me transformava.

Nunca entendi o porquê de ser tão difícil deixá-la passar. Eu ficava ali, cutucando nossas feridas, pagando para ver se estavam cicatrizadas ou não.

Sakura era uma chave nunca virada, uma porta que deixei aberta no passado sem a mínima intenção de fechar.

Eu queria culpá-la por todas as coisas que aconteceram comigo, assim como ela me culpa, mas tudo que vem à tona, quando penso nela, é arrependimento, porque conheci Sakura novo demais. Imaturo demais. Com problemas demais.

— Abre essa porta, eu sei que você tá aí.

Sorri um pouco, deixando a guitarra de lado e me levantando em seguida, respirando fundo, porque estava muito, muito perto de gritar. Não por ela, mas por tudo.

Entre nós sempre parecia que algum dos dois estava perdido, prestes a se sufocar.

O apartamento não estava trancado, então, um mínimo girar da maçaneta abriu a fechadura.

— Você acha que pode simplesmente me ignorar e... — Cinco segundos me olhando foi o suficiente para que Sakura engolisse qualquer coisa que falaria comigo. Observei sua garganta subir e descer, devagar.

— Desculpa, eu não queria ter te deixado pra trás. Porra. — Esfreguei minha cara com força. — Quando resolvi te mandar mensagem já tava tarde, fiquei com medo de você ficar nervosa, e eu não tô no clima pra brincar de amor e ódio hoje.

Sakura ergueu suas sobrancelhas. Pensei que ela fosse mandar eu me foder, no entanto, ao invés disso recebi um empurrão, e antes que pudesse parar para pensar, ela já estava dentro do meu apartamento, colocando uma bolsa de pano em cima da bancada que separava minha cozinha da sala.

— Brincar de amor de ódio? Acho que é um tipo de jogo que você costuma fazer sozinho. — aproximei dela, curioso com as sacolas que ia tirando de dentro da bolsa.

— É um jogo a dois.

— Não me lembro de participar.

— Você é bem ativa, na verdade. A gente finge que ainda tem algum rancor guardado um do outro, você me xinga, pensa em mim de noite, eu penso em você, arrumo um emprego no lugar que você sempre quis trabalhar, me mudo para o apartamento ao lado do seu, e você finge que fica puta com essas coisas enquanto adora tudo em segredo.

Sakura parou no meio do movimento que fazia. Sua cabeça girou devagar em minha direção, e seus olhos avaliadores me encararam semicerrados.

— As vezes eu fico pensando se você é o louco, ou se a louca nisso tudo, sou eu. — Então me deu as costas novamente, e continuou com o que fazia.

— Acho que pode ser uma mistura das duas coisas, sabe, a loucura. — dei a volta na bancada, escorando os cotovelos na pedra fria e me debruçando para mais perto de Sakura.

Ela parecia ter chegado da rua a pouco tempo. Ainda estava com as bochechas meio vermelhas, e ainda não havia reclamado sobre a temperatura alta do meu apartamento. Itachi costuma sentir frio pra caralho, por isso eu sempre estou sem roupa, o aquecedor me cozinha.

Como Fogo e Pólvora | SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora