Capítulo 18

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ANTES

(HÁ 3 ANOS)

SAKURA HARUNO

Quando Sasuke me contou que desistiria de tocar piano, eu chorei.

Chorei por uma noite inteira, chegando a soluçar por puro egoísmo.

Embora quisesse que ele seguisse seu sonho, também queria continuar dançando enquanto o ouvia. E, foi por isso que eu fiz o que fiz. Foi por amor.

Minha consciência quase me esmagou. Quase.

Perguntava-me constantemente: nós somos mesmo nossas escolhas?

Se tudo que eu sou se limitasse as minhas escolhas, estaria podre. Se tudo que eu sou se limitasse aos meus erros, ninguém conseguiria me encarar sem enxergar a feiura do meu rosto.

Fazer coisas ruins deixam marcas profundas dentro da gente, e não importa o quanto a pessoa tente esconder, as outras sempre conseguem ver. Por isso meus olhos nunca foram um tipo inocente. Por isso, os olhos de Sasuke sempre me pareceram dolorosos.

Ainda sim, mesmo sabendo do risco, eu fiz algo mal.

Com apenas uma decisão, conheci de perto a tragédia que é gostar de alguém mais do que se suporta.

Sasuke me repeliu por meses desde de dezembro, quando eu o beijei. Ele me repeliu de toque, de sussurros e arrepios. Ainda sim, pela ânsia que vivia em mim para que isso deixasse de ser um ideal, eu pequei. Precisava que ele continuasse por perto para que um dia pudesse experimentá-lo novamente na ponta da minha língua. Precisava que ele estivesse por perto para que continuasse sendo meu ponto de equilíbrio.

Sabia que Hidan não deixava as drogas em casa, por precaução. Desde que um de seus sócios foi preso, anos atrás, ele estava sendo bem mais cuidadoso. Contudo, também sabia que quando ele buscava mais em outra cidade, sempre acabava deixando alguma coisa para trás, nas gavetas, nos bolsos da calça...

Numa dessas vezes, eu esperei minha tia se entupir de remédio e vodka. Esperei todos os meus primos saírem. Esperei ficar tarde e silencioso, para que eu escutasse quakquer ruído dentro de casa. Então, abri o quarto de Hidan e fucei suas gavetas. Onde estavam as meias, bem debaixo delas, encontrei um punhado de oxi. Nem pensei muito, só coloquei tudo na mão, e saí dali.

Meu coração saltava e gritava como um louco. Enfiei as pílulas numa sacolinha bem maior do que o necessário. Levei tudo para Sasuke na manhã seguinte.

Eu disse a ele para confiar em mim, e que normalmente vendiam isso caro o suficiente para que ele faturasse o que normalmente tirava na borracharia.

— Não sou traficante, Sakura. — Foi o que ele me respondeu.

— Dá pra comprar iguais a esses com receita.

— Então não tem porque me oferecer isso.

— Sasuke, bailarinos pagam uma nota por esses analgésicos. Pagam mais do que deveriam.

Ele sabia que não era bem assim, mas precisava do dinheiro, e dava para ver no reflexo dos seus olhos a tentação.

— Não posso fazer isso, Sakura. Tenho dois irmãos. Como... — ele encarou o chão, envergonhado por cogitar fazer o que pensava. O que eu propus.

— Você não tem outra saída. Estou ajudando você.

Estou ajudando você...

No silêncio que se sucedeu, a frase que eu disse ecoou entre nós como uma maldição.

Como Fogo e Pólvora | SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora