Capítulo 13

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ANTES

(HÁ 4 ANOS)

SASUKE UCHIHA

Sakura me ignorou por quase uma semana depois do que eu perguntei quando estávamos no carro. Eu não me arrependi, então não pedi desculpas.

Quando finalmente voltou a falar comigo, veio pedir para que eu a levasse até a escola. Nem pensei duas vezes para dizer que sim. Seus olhos estavam cheios de uma espécie de desespero, como se ela não suportasse mais estar o tempo todo em casa. Eu conseguia imaginar o quão terrível era, porque já estive em seu lugar.

Ter um teto, um lugar para dormir, não era a mesma coisa do que ter um lar; um lugar para descansar. Entender Sakura não era difícil, porque nós tínhamos uma dorzinha no peito bem parecida. Uma cicatriz semelhante. Eu também encontrava dificuldades em me sentir em casa. É uma vozinha desconcertante e insistente, que te deixa ansioso, com medo que as mesmas coisas aconteçam novamente.

Eu queria proteger Sakura dos primos nojentos dela, mas ao mesmo tempo, não podia simplesmente chamar ela pra dentro da minha casa. Sakura só tinha dezessete, era ela entrar pela porta, que no outro dia seus primos derrubavam minha casa. Também não podia ligar para polícia e denunciar sua família, porque ia sobrar pra ela no final.

A corda sempre arrebentava do lado mais fraco. Sempre.

Arrumei uma muleta emprestada com um cara que ia consertar a moto na borracharia de Gai, e passei a levar Sakura comigo toda manhã, além de buscá-la toda tarde.

Seu horário de aula era o mesmo que o de Shisui e Itachi, que estudavam numa escola há umas quatro quadras de casa. Gostava da sensação de carro cheio, ainda mais com eles.

Minha mãe costumava se certificar que os meninos fossem à aula, mas agora ela parecia ter outras prioridades, e eu cansei de lembrá-la que precisava de ajuda. Cansei de pedir para que ela escolhesse a mim e aos meus irmãos. Então, ela apenas... ela apenas o escolheu. E, por isso, sua presença em casa foi diminuindo a frequência.

Apesar de cansativo, era bom ter Shisui e Itachi por perto, porque ficar vendo Sakura com o cabelo trançado, os olhos grandes e verdes meio cansados e a boquinha pequena combinados com o uniforme de colegial só fazia com que eu me sentisse mais velho na mesma proporção que deixava-na ainda mais jovem aos meus olhos.

Sempre que eu via Sakura resolvendo suas coisas sozinha e lutando pelo próprio futuro, eu me identificava, o que era um pecado, porque distorcia minha percepção sobre ela. Mas tê-la bem ao meu lado, vestida como uma garota de sua idade, me deixava perturbado.

Nunca fiquei com as garotas da escola. Não cheguei nessa parte. Quando finalmente iria poder fazer algo assim, parei de estudar e, ao invés disso, fui trabalhar. Sakura era um eterno lembrete que nunca dei um beijo escondido depois da aula, e nunca sussurrei no ouvido de uma colega de turma ou enfiei meus dedos por debaixo de sua saia.

Eu devia gostar bastante de me torturar, porque era só nisso que eu pensava. O quanto a queria, o quanto não podia, e o quanto perdi.

Todas as manhãs e todas as tardes, assim que Sakura entrava no meu carro, eu pensava na cena dela tirando a calcinha e entregando-a para mim. Nunca a devolvi, e ela nunca me pediu de volta. O desejo que senti, entretanto, não foi embora apesar de não ser alimentado desde então.

Quer dizer... eu tentava não alimentá-lo. Mas, no escuro, quando sozinho, fazia isso. Fazia, e me arrependia. Fazia, e lamentava por ser como era.

Descontrolável.

Como Fogo e Pólvora | SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora