Capítulo 19

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ANTES

(HÁ 3 ANOS)

SASUKE UCHIHA

Não sei o momento que me perdi. Quando parei de ter receio das coisas; das minhas atitudes, das consequências das minhas ações.

Não sei quando parei de pensar que tudo que faço tem um resultado, e que vivo por esses resultados.

Existem momentos que ficamos cegos. Por amor, por vingança, por ganância... Sempre tem algo em jogo, que tira a vista de qualquer homem.

E eu era homem.

Sempre fui homem.

Eu era humano.

Sou humano.

E fiquei cego.

Não percebi onde estava indo até que cheguei em um ponto sem retorno.

Sakura foi um dos pecados mais doloroso da minha vida; o que me levou a cometer mais idiotices. Tudo veio de uma só vez, e não deu para segurar.

Então, menti para ela, e fiz isso sem remorso.

Quando Gai, o cara para quem eu trabalhava, disse que iria para Sartre tentar uma vida nova, ele me chamou para ir junto. Não sei porque ele me fez esse convite. Se por gostar muito de mim, ou por dó.

Gai disse que a casa que alugou tinha um sobrado atrás, e que poderia caber a mim e meus irmãos. Apenas quatro cômodos, mas não me cobraria se quisesse ficar por lá.

Foi tentador... Eu quase fui. Quase deixei tudo para trás e fugi com Shisui e Itachi. Quase. Mas não fiz isso. Não podia deixar Sakura para trás, sabendo como ela sofria; o que ela passava.

Só que pessoas como eu não devem ficar por aí desperdiçando as chances que o universo dá. Quando o destino separa algo para nós, e não aceitamos, ele se enfurece de tal forma, que fica impossível sobreviver em meio a sua fúria. Minha negação de mudança ocasionou um efeito borboleta que mudou tudo.

Ao escolher o coração ao invés da razão, engoli todo meu medo, e me preparei também para deixar a Academia Merveilleux Danse, porque, apesar de tocar piano ser meu sonho, com Gai fora da cidade, sem me dar colher de chá para que eu pudesse trabalhar em sua oficina, não dava para levar o lance da música para frente.

Sakura quase chorou por mim quando disse que sairia da Academia. Ela quase chorou por eu não seguir o meu sonho. Essas atitudes me fazem pensar que eu estava certo sobre lutar por sua liberdade, porque algo, lá no fundo, me fazia acreditar que, se eu precisasse, ela faria o mesmo por mim. E entre nós havia tanta dor parecida, tanto machucado igual... eu quase me afogava com os meus sentimentos e os dela, juntos. Pessoas como nós não deveriam gostar uma da outra desse jeito, mas aconteceu, e era... era tudo. Tudo e todas as coisas, de uma só vez, atravessando meu coração e minha cabeça.

Para evitar perguntas, disse a Sakura que Gai simplesmente avisou que iria embora para Sartre, e me dispensou. Foi uma mentira necessária, porque ela jamais iria permitir que eu ficasse caso contasse a verdade. No entanto, percebi tarde demais que, fosse como fosse, nós acabaríamos da mesma forma: machucados e magoados. Isso porque, embora eu não me recordasse sempre disso, tinha só vinte anos, e Sakura, dezessete.

Como algo vindo de nós poderia dar certo num cenário de desespero, sem apoio, movidos por uma paixão reprimida?

Todo mundo sabe que amor que se engole faz qualquer um enlouquecer, e eu engolia tanta coisa para continuar ao lado de Sakura sem estragar tudo. Tanta coisa. Nossa distância mantinha uma margem segura, mas transbordava desejo. É um sentimento perigoso, e eu o sentia ferver sob minha pele, junto com a raiva e o medo.

Como Fogo e Pólvora | SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora