Capítulo 28

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SASUKE UCHIHA

Sakura dormiu contra mim, na sua cama no meio da sala de estar, enquanto eu encarava suas roupas em malas, no canto da parede. 

Pensei que ela poderia estar comigo. No meu apartamento, na minha vida, dividindo a minha cama, deixando seu cheiro no meu quarto. Ela não precisava estar assim agora, como não precisava ter estado com Ino durante todo esse tempo, embora foi exatamente isso que aconteceu. 

Eu não podia suportar a ideia de tê-la chorando novamente, incerta sobre um futuro que eu poderia lhe garantir. Eu não podia suportar o pensamento de que ela ficaria em Maurice Beauvoir mais do que pela vontade de dançar naquela Companhia, mas porque não tinha escolha. 

Estava exausto de vê-la tentar de forma tão obstinada passar por cima das coisas e se erguer, sozinha. Estava cansado de assisti-la em silêncio tentar e tentar, vendo as coisas que quer não funcionar. Queria poder fazer algo por ela. Queria fazer mais do que apenas sentar e encarar sua vida desmoronando enquanto a minha não está. 

Havia algum sentimento de culpa sobre mim, por ter sido conivente com suas escolhas inconsequentes apenas por querê-la; simplesmente porque esse era o jeito de conseguir tê-la por perto. Pior ainda, era a sensação de que não faria nada diferente, porque, apesar de tudo, estávamos os dois juntos. Era tão egoísta, apesar de não querer ser. Acho que sempre quis ser tudo que não sou, e é isso que me frustra. 

O corpo dela está colado no meu, camadas de cobertores sobre nós, e sua pele encostando contra a minha, morna, conforme ela se remexe na cama. A nuca exposta, chamava meu nome num sussurro penetrante, e me senti obrigado a esfregar o nariz contra ela, penas para ter um pouco mais de contato, morrendo de saudades do seu toque, já pensando previamente em como as coisas podem ser ruins daqui pra frente. 

Suspirei, arrastando minha palma pela lateral de seu corpo magro, sentindo as protuberâncias de suas costelas sob a camiseta, esgueirando os dedos pela barra, ansioso para cravar as pontas na cintura dela e arrastá-la para mais perto de mim. 

Respirar o cheiro do seu cabelo, e tê-la absolutamente quieta enquanto respirava manso, fazia minha cabeça ferver, principalmente porque pairava um ar melancólico sobre nós. Isso me fazia lembrar de quando éramos mais novos e ainda morávamos em Soren; me fazia lembrar da vontade incontrolável que eu sentia dela, do seu nome rondando minha cabeça o dia inteiro, de como fiquei obcecado com sua rotina, no tempo que tínhamos juntos, e na raiva ensurdecedora que eu sentia misturada com desejo. 

Eu costumava sentir como se estivesse sendo torturado, fosse com sua presença, ou a falta dela, mas continuava ansiando por mais tão desesperadamente… nunca pude me controlar com Sakura. 

Minha mão esticada sobre sua barriga, trazendo-a mais para perto do meu corpo, e minha boca contra sua nuca, suspirando contra ela, eram as únicas coisas que eu prestava atenção, tirando sua respiração. Da minha alma para dela, as únicas coisas que nos distanciam são ossos e pele, e isso não me assusta. Sinto que nada disso diminui, sinto que estou cada vez mais grudado nela, seja meu corpo ou minha cabeça, seja meu coração ou qualquer outra parte de mim. 

Quero paz para nós dois, para acabar com ela do jeito certo, da forma como fico imaginando, cansando Sakura, fazendo todas as coisas que antes eram proibidas, mas agora não são. 

***

— Ela me largou na cama, hoje. Eu dormi, quase perdi o horário, ela foi trabalhar e me deixou pra trás. — batuquei os dedos na minha guitarra, soprando uma mecha de cabelo insistente que caía na frente dos meus olhos. 

Como Fogo e Pólvora | SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora