Capítulo 17

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ANTES

(HÁ 3 ANOS)

SASUKE UCHIHA

Existe um único mês do ano, entre agosto e setembro, onde eu e Sakura estamos com apenas dois anos de diferença, e, nesse tempo, eu sempre costumo enlouquecer um pouco.

Principalmente esse ano, que ela faria dezoito.

Era uma ideia que rastejava em minha cabeça; um pensamento intrusivo que simplesmente ficava lá, se repetindo, quase como uma obsessão.

Quando ela me observava atrás das cortinas de seu quarto, e eu descobri que tinha feito quinze, fiquei refletindo se seria babaquisse pedir um beijo antes que eu fizesse dezoito. Contudo, Sakura me encarava deslumbrada, e eu não queria magoá-la. Pensei mesmo que só olhava de volta porque ela tinha aqueles olhos verdes dolorosos.

Mas então, ela fez dezesseis, e eu já pensava em mais que beijos. Por fim, veio os dezessete, e eu comecei a refletir que esfregar minha boca na dela talvez não fosse grande coisa, porque eu queria tanto, e ainda não tinha feito vinte anos.

Contudo, quando retornei para casa, no final do verão, Sakura já tinha alguém. Doeu.

Doeu, mas não de ciúmes. Eu sabia que seu coração era meu. Doeu, de inveja.

A inveja que senti da garota que detinha toda sua atenção, me cutucou como uma lança de ponta em brasa. Os demônios que costumavam se empilhar em meus ombros me deixaram zonzo de tanto julgamento.

Lembro-me de ter chegado em Soren antes do esperado do meu serviço de verão. Fiquei uns dias, talvez dois, trancado em casa, pensando pra caralho sobre ir até Sakura e beijá-la por uma noite e um dia inteiros.

Fiz uma música em seu nome.

As coisas deram errado, claro, porque sempre davam. E, de repente, tudo ficou mal; a realidade que eu achei que era perfeita, começou a ruir como um castelo de areia diante de uma ventania. Minha mãe, Sakura, meus irmãos, meu serviço...

Quando algo é bom, parece vir aos poucos, de um jeito difícil e suado, quase como se a felicidade tivesse que ser parcelada. Contudo, as coisas ruins são diferentes, e chegam de uma vez, esmagando todo o resto pelo caminho, como as ondas violentas de um mar furioso.

O que eu sentia por Sakura era um tipo de coisa cruel, que se expandia por debaixo da minha pele, de forma gradativa e silenciosa, um desejo oculto, que crescia latente dentro de mim, e eu permitia.

Parecia perigoso, porque conforme o tempo passava, ficava maior, mas eu mantive isso, foi uma escolha minha.

Não vi o momento que caí por Sakura, mas foi um tombo feio, daqueles que se machuca os joelhos e sangra. Era exatamente assim que eu me sentia: ralado e exposto.

Vi seu lado mais escuro em segredo, sem que ela soubesse. Escuro, porque ela sempre aguentou sozinha, suportando o medo e a insegurança sem reclamar, como se isso fosse certo.

Em primeiro momento, tentei dar espaço a Sakura para que ela me contasse o que estava acontecendo por todos esses anos, com a porra dos primos. Mas não adiantou. Não adiantava. Ela nunca falava. E eu passei a adoecer todas as vezes que olhava para seu rosto e não sabia como prosseguir com a situação. Não sabia se colocava-na na parede, dizendo que sabia de tudo, ou se esperava mais um pouco para que ela resolvesse confessar suas dores a mim.

Meu maior medo era seu afastamento caso a intimidasse com esse assunto

Mas então... Então veio o natal, e eu a deixei tomar seu presente direto dos meus lábios. Permiti que envolvesse sua língua na minha, sentasse em meu colo, roçasse seu corpo no meu, e me provocasse com seus olhos tristes a porra da noite toda.

Como Fogo e Pólvora | SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora