O Dia da Kaili

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Invadir o apartamento e pegar o chapey é fácil, difícil é sair dali sem se sentir uma merda.

Ela vai de pessoa em pessoa questionando se viram um músico - ou ladrão - bonito de cabelos castanhos chamado Zyan. Queria que fosse mais fácil, mas acaba dormindo na rua abraçada ao instrumento. Continua sua busca pelo garoto.

Sem querer entra em uma briga com um velhinho por conta de um pedaço de pão, mas desiste. Ela é mais jovem, ele logo vai morrer mesmo, além de ter tido o jantar da noite passada para sustentar ela.

Apesar de Ba Sing Se ser a cidade mais segura do mundo ela também é a mais estranha, quanto mais caminha mais entra nos anéis maiores da cidade e mais percebe a disparidade. Quanto mais alto mais as pessoas tem dinheiro e agem como se fossem importantes. É bizarro.

Já está um dia em busca de Zyan, está nos anéis do meio quando passa perto de um restaurante escuta a voz mediana dele. É doce e suave, como se não tentasse ser quem é.

Ela o vê através da janela e tenta entrar, mas os guardas a barram com suas mãos de terra, então se vê obrigada a esperar fora do restaurante.

Basicamente escuta o show de graça e ao parar de ouvir o instrumento ela quase chora de alegria. Espera e o vê. Está mais alto e seu cabelo mais longo, está muito bonito, como sempre foi.

Ele está arrumando cumprimentando alguns fregueses que gostaram dele quando Kaili se aproxima Zyan parece ver um fantasma.

- Kai... Kaili.

- Oi, Zyan. - ela está feliz de vê-lo bem.

- O que você está fazendo aqui?

- Nós conseguimos chegar aqui faz algumas semanas, aí eu resolvi te fazer uma visita.

Zyan sorri para ela apesar da confusão dentro de si. Ele balança a cabeça e sorri.

- Está tarde... quer ir até a minha casa?

Kaili prometeu para si mesma que quando o visse de novo seria o mais sincera possível, mas quando vê o efeito que ainda tem nele ela puxa o braço dele até que esteja nem próximo da sua pele.

- Eu adoraria.

A casa de Zyan é tão pequena quanto a de Iroh e Zuko, mas é para uma pessoa, então acaba ficando bem maior e espaçosa.

- Então o que você tem feito? - ele coloca um copo de água para ela.

- Trabalhar numa loja de chá... aqui o seu chapey.

- Eu disse que ia conseguir fazer outro. - aponta para o instrumento que usava no restaurante.

- Eu queria entregar mesmo assim. - Zyan morde o próprio lábio e se aproxima dela, então para e se afasta. Kaili suspira - E você?  Como é ser músico aqui?

Tem uma leveza na voz dele.

- É bom, consegui bons trocados e as pessoas parecem gostar das minhas músicas.

- Claro que elas iriam gostar... eu comecei a compor também.

- Sério? Você é talentosa, certeza que são músicas maravilhosas.

- Sou nada, apenas aprendi com os meus pais e... com você. - Os olhos dela são convidativos.

- Posso escutar alguma música?

Kaili dá um sorriso malicioso e pega o instrumento da mão dele.

- Mas é claro, ela é sobre uma pessoa... uma pessoa que não sai da minha cabeça.

Não quero mais escrever
É tudo sobre você
Minha mente se enrola e quer te conhecer
Cale a boca
Você é como veneno
Quanto mais te tenho menos te quero

Ela sabe que não é sobre ele, disso tem certeza.

Não quero complicar
Eu já tenho medo

Então quero te levar para um lugar
Um lugar para bagunçar
Me bagunçar

Eu preciso do seu calor
Me esquenta no frio
E eu só quero me esquecer
Eu preciso do seu calor
Me deixa com ódio
E eu só quero me esquecer

Mas ele não sabe, pode até suspeitar que ela esteja mentindo, mas nunca poderá confirmar.

Zyan chega próximo dela e coloca um fio solto para trás da orelha dela.

- Você está me usando de novo?

- Não.

As bocas se encontram e é bom demais, mas não bom porque é pra ser, é bom porque Kaili sabe o que está sentindo, ela sabe que o que pedir para Zyan ele vai fazer, ela sabe exatamente o que é aquela situação, aquela sensação. E quando ele começa a tirar a roupa dela Kaili deixa, apenas o impede de tirar suas bandagens, isso ela não permite. Se mostrar pela metade, nunca por inteiro.

Os dois estão no chão e nus.

Aquela foi a primeira vez dela.

Zyan dorme calmo e tão pacífico que parece um pecado acordar ele, então ela fica ali, parada, imóvel, intocável. Ela não faz nada. Será que aquela foi a primeira vez dele? Se foi ela sente pena, mas não totalmente, ele é bom, é legal, merece alguém que goste de verdade dele, não Kaili... mas se ele gosta dela por que cortar a onda? Poderia ser bom para os dois, ele teria ela e ela teria onde ficar e não ficaria em uma constante de sentimentos felizes, tristes, sem lembranças dos pais, sem confusões... é poderia fazer aquilo.

Quando Zyan acorda ele vê Kaili na cozinha, preparando o café da manhã como se já morasse ali, é uma visão tentadora e futurística, aquele podia ser o seu futuro.

- Podemos cantar juntos. - sugere ele enquanto comem - E você pode ficar aqui se não tiver pra onde ir.

- Sério? - finge surpresa.

- Sério. - ele entrelaça os dedos nos dela.

É tão fofo que é doloroso ver aquilo, saber que está brincando com o coração de outra pessoa. Era perigoso, mas necessário.

Avatar  - E A Lenda Do Eclipse Onde histórias criam vida. Descubra agora