Desentendimentos

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Casa da Amélia na foto à cima.

Ano 2017

Infelizmente, desde seu retorno, Ana Sofia não havia conseguido um trabalho fixo. Marta estava odiando ver sua enteada mais em casa do que fora em seus compromissos. Segundo ela, não era justo apenas seu marido e seu filho trabalhar duro para colocar as coisas dentro de casa, enquanto ela se responsabilizava pela organização do lar e Ana ficava apenas enchendo o espaço sem fazer nada. O que era uma acusação ultrajante!

Ana sempre procurou por um bom emprego para ajudar nas despesas de casa. Ela até fez cursos para se especializar em áreas que mais davam lucro, mas teve a infeliz sorte de não conseguir um bom trabalho. Tudo que conseguia era temporário e às vezes o que recebia não era o suficiente.

Por causa de sua dificuldade, Ana passou a ser um incômodo para sua madrasta. Ela não queria alguém atoa em sua casa e como eu disse a cima, Marta não achava justo apenas os homens sairem para trabalhar. Ela queria que Ana Sofia fizesse o mesmo, pois para Marta já era um trabalho ser apenas a dona do lar.

Foi então que em um almoço com a família, as coisas desandaram. Marta começou a lançar direta e indiretamente coisas a respeito disso e Ana é claro, entendeu perfeitamente onde sua madrasta queria chegar, não gostando nenhum pouco que seu pai, aquele que sabia de suas condições e desafios, não a defendeu.

-Por favor! Eu já expliquei inúmeras vezes que estou fazendo o que posso, Marta.

-Não é o suficiente pra mim! Você passa mais tempo em casa do que trabalhando, Ana Sofia. Está apenas ocupando espaço aqui.

Sem aguentar tal humilhação e sentindo-se um fardo, Ana se levantou.

-Então vou embora e você não precisará se incomodar mais.

-Ótimo! É a melhor decisão que você já tomou na vida.

-Marta?_Edgar interrompeu a discussão, mais a mulher ainda parecia firme em não voltar atrás no que falara.

-Por favor Marta, reconsidere.

-Se ela quiser sair, ótimo. A porta está logo ali. _Marta apontou e Ana, engolindo o choro, apenas olhou uma última vez para o pai que intimidado, abaixou a cabeça. Vendo que não tinha mais jeito, a jovem mulher respirou fundo e se retirou da mesa indo para o quarto onde arrumou uma mala pegou tudo que lhe pertencia e saiu de casa. Seu pai não correra atrás dela, o que era de se esperar, pois é claro que ele iria preferir ficar ao lado da mulher. Ana pegou um táxi e saiu sem rumo enquanto lágrimas escorriam de seus olhos.

Ela jamais quis ser um fardo para sua família e mesmo que tenha tido algumas desavenças com sua madrasta, nunca havia chegado nesse extremo. Ana se sentia grata por tudo que fizeram por ela, mais estava chateada por ter sido tratada com tanta frieza por aquela que pensava ser sua segunda mãe.

-Você não devia ter feito isso, mãe. _James, o filho de Marta disse saindo da mesa. Ele considerava a irmã, nunca pensou que sua mãe fosse tão rude com ela. Então se sentindo culpado, o homem pegou o celular e tentou ligar para Ana.

"Este número se encontra desligado ou fora da área de cobertura. Por favor, ligue novamente mais tarde."

Disse a moça da operadora. James não desistiu de contatar a irmã enquanto o casal discutia sobre a saída dela de casa.

Alguns minutos depois...

-Conseguiu falar com sua irmã?_Perguntou Edgar ao entrar no quarto do rapaz

-Não. Ela deve ter desligado. _James jogou o celular na cama e passou as mãos pelos cabelos. _-Não faço idéia de onde ela pode estar.

-Nem eu. Eu devia ter intervido. Sua mãe foi longe demais.

-Pois é, pai. Você deixou que Ana saísse de casa por nada. Não foi justo com ela.

-Não venha você defende-la filho! _Marta entrou no quarto ao ouvir o que o filho falou. _-Sabe que eu tenho razão!

-Que razão mãe? Ana fez tudo que estava ao alcance dela para conseguir um trabalho. Até pegava trabalhos noturnos para ajudar em casa. A senhora agiu de má fé. Porque vive me colocando num pedestal? Sabia que era Ana quem me ajudava quando eu mais precisava dela? A senhora não faz idéia do que pedi a ela para não te contar. Eu não tenho trabalhado há dias porque fui demitido. Mas sempre estou fora de casa com a Ana tentando arranjar um emprego porque eu não queria te decepcionar. Mais aí você expulsar minha irmã de casa quando sou eu quem devia sair, é o cúmulo do absurdo! Ana me ajudava com a grana porque ela sabia que eu me sentia impotente e estava com medo de contar a verdade a senhora. Agora eu deveria tê-la ajudado; mais assim como nosso pai, não fiz nada! _James levantou, pegou seu celular e tentou ligar para a irmã novamente enquanto saía do quarto. Seus pais seguindo atrás.

-Onde você está indo, filho? Essa conversa ainda não terminou!

-Vou atrás da minha irmã, não espere por mim!

-Filho?!

-E nossa conversa já terminou, mãe. _ele saiu e bateu a porta do apartamento, deixando os pais para trás.

No carro e alheia a tudo a sua volta, Ana ainda chorava. O motorista a olhou pelo retrovisor interno e perguntou tentando fazê-la despertar.

-Para onde estamos indo, senhorita?..._Ana não lhe respondeu_-Senhorita? Ei...senhorita?

-Hum? _Ana voltou a realidade, limpou as lágrimas e olhou meio sem jeito para o motorista _-O que perguntou, senhor?

-A senhorita ainda não me dera um endereço.

-Ah! Claro. Por favor...uh...me leve para xxxxxxx...

Ela passou o endereço de sua ex-professora de intercâmbio, já que Amélia havia prometido que sempre a ajudaria quando precisasse. Agora tendo um endereço, o taxista a levou para lá.

Uma hora depois, Ana pagou a corrida e saiu do carro com sua mala. Logo caminhou até a casa de Amélia, tocou a campainha e segundos depois o marido de Amélia atendeu.

-Uh...oi. Eu sou Ana Sofia, a senhorita Davis está?

-Olá. Sim. Vou chama-la, espere um minuto...Amélia! Tem uma visita pra você na porta.

Segundos depois a professora apareceu com um enorme sorriso, mas que foi desmanchado ao ver que Ana Sofia tinha os olhos vermelhos e com lágrimas indicando que havia chorado.

-Oh! Minha querida. Entre por favor e me conte o que aconteceu para você estar assim.

Amélia levou a jovem para a sala e lá, Ana lhe contou tudo detalhadamente. Compadecida com a situação, Amélia permitiu a estadia temporária da ex-aluna em sua casa. O que deixou Ana muito agradecida.

A mulher apresentou para a jovem o quarto de hóspedes e pediu que ela ficasse a vontade enquanto iria falar com o marido e também pedir alguns conselhos a ele.

Por sorte o homem não se opôs a receber Ana em sua casa. E ele torcia que tudo se resolvesse para ela.

...

A Jovem e o Cavalheiro Onde histórias criam vida. Descubra agora