A adolescente respirou fundo antes de sentar no sofá e pensar por um longo tempo. Estava exausta de todas aquelas tentativas falhas e inúteis! Aquilo era gelo, porque simplesmente não se derretia! Estava com os olhos no chão quando ouviu três batidas na porta que fizeram-na voltar à realidade num espanto imediato. A menina dirigiu os olhos para tal direção. Quem diabos sabia sobre aquele lugar isolado? Quem estava do outro lado daquela porta?
Decidiu se levantar. Caminhou lentamente até a porta, sentindo o ar se congelar a cada pequeno passo. Respirou fundo antes de encostar a mão na maçaneta...
Os segundos viraram minutos. Sentiu a respiração pesar, o corpo dolorido e um grande frio na barriga, mas nenhuma dessas sensações se comparava aquela que acabara de se impregnar. Uma sensação que agora era pior que todas as anteriores. Uma espécie de segurança, como se os átomos dela sentissem que mesmo o cérebro não reconhecendo, eles reconheciam. Foi a pior sensação que ela sentiu na vida, porque depois disso, veio o medo. O medo de quem estava do outro lado da porta. Quem estava provocando aquilo sob o corpo dela.
Respirou fundo mais uma vez, e com calma abriu a entrada. Para sua surpresa não havia ninguém. Havia apenas a floresta a encarando de volta, e o chão marrom; não havia uma alma viva a encarando do outro lado. O que foi surpresa e ao mesmo tempo satisfação. Ela suspirou aliviada, antes de se virar e deixar a porta fechar atrás de si.
Por meros segundos, seu corpo deu um pequeno espasmo e ela sentiu o coração parar naquele instante eterno. Alguém agora, estava junto com ela e Helena na casa, sentado na poltrona esverdeada como alguém tão familiarizado com aquilo, com ela. Seus olhos a examinavam com atenção, eram de um café reluzente — brilhantes e intensos. Maya não pode deixar de encará-lo.
Tinha, como mencionado, olhos marrons, como café quente em um dia chuvoso na cafeteria calma que toca música clássica. Os cabelos estavam penteados, de um marrom terra sedoso. A jovem conseguia até mesmo sentir o novo cheiro que agora exalava um pouco na cabana. Carvalho envelhecido sem dúvida, além de sândalo e um leve toque de... whisky? Rum? Ela não sabia dizer. O rosto dele tinha o formato de triângulo invertido e parecia feito de mármore, esculpido em dias antecedentes, na Itália ou na Florença, por escultores brilhantes. Se assemelhava a Davi, do formoso Michelangelo em certos pontos — a boca pequena, os olhos expressivamente intensos, o nariz grego. Parecia petrificado olhando para ela, com os olhos brilhantes, o que mais chamava-lhe a atenção. Seus lábios eram bem desenhados, tinha as sobrancelhas grossas e o filtro do lábio superior — acima do arco do cupido— fundos. Um sorriso surgiu em seu rosto, e dentes brancos apareceram.
O rapaz se levantou, vestia belo terno: negro como a morte, lapelas notched, duas fendas, dois botões, calça ajustada na cintura; sapatos engraxados com perfeição. Seus olhos continuaram a andar: vestia uma camisa social bordo por baixo do paletó, uma cor muito bonita que acabava realçando o brilho dos olhos, e o sorriso debochado. Em seus pés descansavam belos oxfords pretos. A superioridade em sua face era visível nas sobrancelhas. O garoto sorria. Um sorriso afiado... Travesso talvez, como se aquilo fosse normal, como se eles se conhecessem há tanto tempo. Como se aparecer misteriosamente em uma sala fechada fosse a coisa mais banal do seu dia. Arrogante, indubitavelmente. Ele tirou o casaco negro e se fez silencio por um tempo, até ser quebrado por ele ao dizer:
— Olá Kinsley! — cumprimentou com um sotaque diferente.
Maya colocou a mão na maçaneta.
— É-é vo-você! — gaguejou ela — Você estava no meu sonho...
— No seu sonho? — ele riu, preenchendo o lugar de calor — Não seja maluca, pessoas não invadem sonhos, invadem casas.
— Quem é você? Como entrou aqui? E o que fez com a Helena? — perguntou a menina recobrando a consciência. Aos poucos, ela lembrou da faca guardada em uma das gavetas abaixo da janela, havia deixado-a quando percebeu que não poderia simplesmente furar o gelo. Seus pés deixaram a porta com relutância e ela caminhou até lá sem tirar os olhos do intruso.
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A Espada de Lilith (Livro 1)
FantasyOs olhos da fera a encararam com curiosidade. Ela dormia envolta por cobertores leves, parecia ter um gosto tão bom, ele quase podia sentir o gosto do sangue dela escorrendo pelo chão, manchando as paredes de escuro. O que sentiria ao cortar sua pel...