O Observador

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24 de março de 2019.

Maya abriu os olhos lentamente e encarou o teto escuro do quarto, deveria ter acordado com dores nas costas, como de costume, mas não foi este o caso. Não se lembrava de ter subido as escadas, nem mesmo ter fechado a passagem secreta, então, indubitavelmente, o cavalheiro de nome impronunciável havia feito isto por ela. Os dois varreram a noite vasculhando inúmeros papéis sobre algo útil, mas não o encontraram. Quando a jovem parou para pegar mais café na cozinha, e um cobertor, acabou esbarrando na mesa de estudos e derrubando um embrulho marrom. Seus olhos se estreitaram e ela se abaixou para pegá-lo. Se lembrava muito bem dele, o último livro que Phillip havia lhe entregado. Rasgando-o enquanto descia as escadas, ela o examinou. Era um diário — parecia muito antigo— e contava a história de uma bruxa negra, e sua filha com poderes especiais. O pouco relato do marido, havia sido rasgado e nada mais era possível de ler. Maya vasculhou o restante das folhas em branco e leu as poucas palavras que a olhavam naquele exato momento. Um pequeno bilhete: "Precisamos conversar, senhorita Maya".

As 4:30hrs, ela sentiu os músculos começarem a adormecer, e pegou no sono. O despertador tocou às 6h, levando seus sonhos bons embora. Quando os olhos foram abertos, encarou uma figura sentada na poltrona. Talvez aquela história de anjo da guarda estivesse ficando muito ao pé da letra.

— O que faz aqui? — questionou.

— Estava observando você dormir, alguém já te avisou que você fala dormindo e baba no travesseiro?

— Eu não babo em nada — retrucou ela, atirando-lhe uma almofada. —Pode parar de ser um bisbilhoteiro?

Peter riu, antes do barulho do celular despertar sua atenção. Estava ao seu lado e ele o examinou.

— Quem é garoto da biblioteca?

— Bisbilhoteiroo

— Ele disse que vai te levar para a escola — Peter suspirou — Por acaso é o Jonathan? Já te pedi para ficar longe dele.

— E porque eu deveria obedecer você?

— Porque eu sou o seu anjo da guarda — ele chegou perto dela — E ele não é quem diz ser, tome cuidado.

— Ele é como você?

Três batidas na porta a fizeram mudar sua atenção.

— Ele é pior. — disse o demônio, antes de desaparecer.

...

Encontrou quem procurava a caminho, e quando Jonathan saiu do carro, o arremessou de volta a ele.

— Essa é a minha última ação de bondade, já disse que não quero vê-lo perto dela.

Jonathan se recompôs e o examinou. Desde quando aquilo era bondade?

— O mesmo descuidado de sempre, estamos em um mundo mortal Abbadon, existem regras a cumprir.

— Não me importo com nenhuma delas, eu seria capaz de destruir esse planeta só porque você está nele.

— Não seja rancoroso — disse o outro antes de observá-lo. — Está diferente, mais furioso do que o normal, o que aconteceu?

— Ainda continua não sendo da sua conta. Só siga o que eu disse, não chegue perto dela.

— E porque não?

— Porque o último que tentou fazer mal a ela foi queimado vivo e era meu amigo. Imagine o que eu faria com uma criatura da qual não tenho compaixão nenhuma, como é o seu caso.

— Tentaram fazer mal a ela? — perguntou o ruivo — Isso acredito que seja por responsabilidade sua, não é? Já lhe disse Muriel, a sua presença na vida dela vai acabar matando-a.

A Espada de Lilith (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora