Quando a explosão de cores aconteceu na caverna número 4, todos os outros sentiram, inclusive ela. Se defendeu das inúmeras estalactites que caiam do teto, talvez tenha sido uma má ideia. Maya vasculhou o lugar à procura de algo. Chegou ao centro da escuridão.
— Pode aparecer Magnum, venha com suas ilusões de morte e vamos acabar logo com isso — começou ela andando em círculo, sua voz calma e baixa. — Sei que meu maior medo é ver eles sendo mortos por minhas mãos. Então quanto antes começar, antes terminaremos.
— Aí você se engana — disparou uma voz inundando a caverna inteira. — Seu medo jamais fora às mortes; seu medo real não é Magnum. Seu maior medo é sentir isso quando acontecer ou pior ainda, não sentir. — quando a mesma voz que soou na entrada do nemeton soltou a última frase, tão curta e, ao mesmo tempo, tão dolorosa, uma dor transpassou o peito de Maya. Era como uma flecha rápida que atravessou seu corpo numa velocidade exorbitante. A jovem caiu de joelhos. Pontadas fizeram seu coração parecer prestes a explodir. Maya jogou os braços esticados no chão antes de colocar um deles sobre o peito.
— O que você fez comigo?
— Qual seu medo escolhida?
— Ver eles morrendo. — ela disparou automaticamente.
Outra pontada, mais forte que a anterior. A escolhida se contorceu de dor.
— Qual seu medo Lauren?
— Eu não quero morrer — ela gritou antes que outra pontada passasse como flecha em seu corpo. Uma estranha sensação tomou conta de seu peito; como se aquilo nunca mais fosse parar, aquelas pontadas que a faziam instantaneamente colocar a mão perto do coração.
— As duas coisas são medos, e você é uma mundana que tem muitos medos. Mas agora, apenas o que me interessa é seu verdadeiro medo.
— Não quero que Magnum saia — respondeu a jovem em gritos. Agora se contorcia no chão; entre gritos e gemidos tão dolorosos, parecia prestes a desmaiar. E... Tão rápido como veio, se fora. Instantaneamente a dor parou em seu peito, e a menina se levantou apressada.
— Vocês se enganam ao pensar que armas vão ajudá-los. O teste nunca foi saber sua força física.
— Era saber a emocional... — a menina sacou antes que tudo parasse, como se ela tivesse congelado no lugar. Maya arregalou os olhos, sua dor de cabeça que sempre a acompanhava também se fora completamente, e as dores que invadiam seu corpo não deixaram nem sinal. Joelhos no chão novamente. Ao invés disso tudo, apenas uma coisa crescia dentro de si. Uma escuridão negra, uma esfera de vazio se inundou em seu corpo inteiro. — O que você fez?
— Assim como Lilith; você não gosta de sentir, então eu fiz as duas entrarem em uma ilusão e forcei-as a admitir seus medos reais. Ela é uma mulher ferida, acima de tudo senhorita escolhida. Ela cometeu um erro que jamais irá se perdoar. Como você. A senhorita prefere vê-los morrer, prefere morrer ao invés de sentir isso, então eu a fiz enfrentar seu medo.
— Tire ele de mim, por favor — gritou a menina toda encolhida. Seu coração já não pulsava, e ela sentia apenas o vazio, inundando cada veia de seu corpo; cada célula e átomo tão pequeno. — Tire ele.
— Essa deveria ser a hora em que começa a chorar não é? Creio que perdeu esse dom. Espero que consiga sair da minha ilusão; Satrina não conseguiu. — disse a voz antes de deixar a menina sozinha. No mesmo momento, uma luz se apagou e o silêncio sombrio tornou-se ainda maior. Maya ficou lá, quieta, imóvel, tentando controlar o vazio que a controlava por inteiro. Nenhum sentimento, ela já não sentia mais nada. Com sua mão direita passou os dedos pela saia e puxou a adaga, que rapidamente a cortou. O sangue vermelho pingava sem parar na pedra, mas ela nada sentia, continuava a se afogar no mar do vazio devastador.
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A Espada de Lilith (Livro 1)
FantasíaOs olhos da fera a encararam com curiosidade. Ela dormia envolta por cobertores leves, parecia ter um gosto tão bom, ele quase podia sentir o gosto do sangue dela escorrendo pelo chão, manchando as paredes de escuro. O que sentiria ao cortar sua pel...