O pecado

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Novamente Lilith se viu num castelo imenso, preto, majestoso e ao mesmo tempo, tão sem graça, sem vida. No trono adornado das pedras mais preciosas estava um rei. Um rei ambicioso e covarde. Astuto e acima de tudo, manipulador. A mulher ainda tinha alma, e naquele tempo não sabia que esse era seu ponto fraco. Lúcifer a manipulou com palavras dóceis, com promessas que jamais iria cumprir e Lilith aceitou, faria o que ele pediu.

Os dois então chegaram ao Jardim, Lilith tinha o poder da transfiguração, e Lúcifer, tinha asas que eram agora horripilantes até para o mais nefasto ser. Os dois encararam o casal que dormia silenciosamente sob o luar, Lilith tentou não pensar no que estava prestes a fazer.

— Se transforme em um animal gracioso. Em uma pantera preta como a noite, de olhos amarelos como o dia, que eles jamais irão esquecer.

— Ele. Adão não vai esquecer.

— Claro. Adão

Lilith encarou-o.

— Qual nosso trato?

— Lilith eu...

— Qual nosso trato, Estrela da manhã?

— O fruto proibido.

— Eva não vai se machucar, entendido?

— Claro, porque eu machucaria uma dama indefesa.

Desde que sairá do jardim, Lilith adquiriu 500 vezes mais poder e habilidade. Começou a sugar o sangue de anjos derrubados, e outrora em tempos descuidados, sugava a energia dos anjos vivos. Isso era mais difícil, mas mesmo assim, a primeira mulher, a rainha do Éden conseguia.

— Ótimo... Vamos lá. — Lúcifer olhou para o lado. — Abaddon sabe o que fazer?

— O que você pensa que eu sou? Um idiota? É óbvio que eu sei o que fazer. — disse o demônio.

— Uma pantera.

— Sei o que fazer! — gesticulou a mulher.

— Não arrisque tudo Lilith. — uma mão lhe preencheu o braço, segurando-a.

— Vai para o inferno! — disparou ela antes de se transformar. Lúcifer ajustou a visão antes de ver uma cobra sair por entre os arbustos. Agora estava tudo correndo de acordo com seu plano, a vingança contra Deus seria mais dolorida se viesse por intermédio dos humanos que ele tanto amava.

Quando os olhos se abriram, Lilith se viu novamente com ela, às duas tendo o prazer que jamais tiveram.

— Estou fazendo isso para o seu bem — sussurrou exausta a mulher de cabelos negros, antes de ver tudo mudar tão drasticamente.

Lilith foi enganada por um anjo que era agora um caído, e fugiu do Éden. Todos os anjos a procuraram; e não acharam-na por apenas um que decidiu ajudá-la. Ela nunca soube porque ele havia feito aquilo, e nunca iria perguntar; jurou que teriam inimizade, como pediu o anjo.

Não confiava em Uriel tanto quanto não confiava em qualquer outro homem agora. Encontrou em Eva, uma confidente. Uma amiga que ela poderia sempre confiar, mesmo não querendo. No fim, Lilith ainda tinha alma, ainda sentia como qualquer outro mortal comum. Lúcifer a enganou, depois Deus e principalmente Adão, que simplesmente a substituiu sem mais nem menos. A mulher sentiu tanta raiva quando viu aquela mulher perto dele; aquela mulher delicada e tímida que corria alegre pelo paraíso e tinha medo de sua própria sombra. E no final, precisava agradecer a Deus pela primeira pessoa que ela confiou totalmente, uma mulher assim como ela.

...

Na caverna do meio.

Ninguém poderia imaginar que dentro daquela caverna escura alguém estava encolhida. Dentre todos os medos, Maya percebeu que aquele era o pior de fato. Não sentir exatamente nada era como se a própria morte te tocasse e você fosse morrendo aos poucos, até que seu corpo inteiro estivesse morto por dentro e a casca continuasse de pé, continuasse existindo. Por longos minutos ela ficou naquela posição, esperando que a morte atingisse seu coração, esperando seus olhos ficarem tão cansados que ela seria obrigada a fechá-los. A menina respirou fundo.

A Espada de Lilith (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora