O clypeus

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Enquanto Jonathan arrumava o próprio desastre, avistou um corpo entre os destroços.

— Maya?

A escolhida caminhou até ele acompanhada do demônio. Sobre uma bola roxa estava a moça quase morta, e ao seu lado, fora do círculo, um ser espetado com inúmeras lanças. Maya tirou o escudo da mulher.

—Ela está bem?

Jonathan se aproximou do corpo da mulher ao mesmo tempo que Peter examinou o demônio.

— Era para eles sumirem quando morriam — advertiu. Na mesma hora o ser o examinou com olhos negros.

— Eu não matei, ainda — Maya sorriu. Era quase impossível acreditar nisso, levando em conta todas as lanças atravessadas em seu corpo.

— Abbadon, por favor... — pediu o ser.

— Peter não!

O anjo caído tirou a espada da bainha e atingiu o coração do monstro com uma explosão silenciosa de luz.

— Ele merecia morrer, empaladora Vlad.

— Ele merecia mais do que isso — Maya assentiu, antes de respirar fundo e tirar a única lança que não havia desaparecido, encravada no chão. — Como ela está?

— Bem, ela vai sobreviver, mas mesmo assim, não vai poder se desfazer dessa cicatriz.

Maya a examinou. Depois que Jonathan cuidou da moça jovem e loira, e arrumou o próprio desastre, descansou sentado em um sofá vermelho. Peter se teletransportou até a casa de Helena e Maya caminhava de um lado para o outro.

— Fez um feitiço de proteção? — a garota questionou o menino ruivo.

— Fiz sim.

— Se não tivesse feito, mataria eles?

— Teria matado a cidade toda, ela é bem pequena.

Maya o encarou, depois sentou ao seu lado.

— Não tem medo do seu poder? Você tem o dom de queimar qualquer coisa.

— Pelo que eu fiquei sabendo, você também tem. A Fênix não é?

— Ela só apareceu uma vez, dentro da minha cabeça. Não sei se é real. — a jovem disparou, desviando os olhos.

— Confie no seu poder Maya. A Fênix é um símbolo muito poderoso. Imortalidade, cura, vitória da vida contra a morte. É um clypeus muito atacante.

— Um, o quê?

— Clypeus, foi burrice minha, do Peter e da Lilith não ter percebido isso antes. É como uma espécie de guardião. Um escudo. Ele sempre vem em forma de animal, mas existem objetos e pessoas também, que são muito raros, quase nem existem atualmente.

— A fênix é meu clypeus?

— Sim. É um ser protetor que você chama quando precisa, alguns deles não costumam aparecer com facilidade. Muitos magos nunca viram seu próprio clypeus.

— Como eu posso chamá-la?

— É mais com sentimentos do que palavras. O meu, por exemplo, é uma águia. A águia é um animal solar e celestial, símbolo universal do poder, da força, da autoridade, da vitória e da proteção espiritual. Muito ágil e habilidosa, é uma ave guerreira e predadora, conhecida como a "rainha das aves", está relacionada com os deuses e a realeza. Isso porque a perspicácia do seu olhar lhe permite fitar o sol diretamente. Porém eu nunca uso, nem mesmo a vi.

— Você não precisa, é impressionante.

— Eu saio por cinco minutos e você já está jogando seu charme para outro, Kinsley?

Maya o encarou. Sobrancelha arqueada.

— O de Muriel, é um grifo. Vem da mitologia grega. É um pássaro fabuloso com asa e bico de águia (as garras de águia podem ser encontradas nas quatro patas ou apenas em duas delas) e tem corpo de leão. Ele também participa da terra e do céu e é, portanto, um símbolo das duas naturezas —humana e divina. Une a força terrestre e a coragem do leão com a energia celestial da águia. Muriel nunca o soltou, mas ele é mesmo um guardião e tanto.

Maya encarou o demônio. Um sorriso arrogante surgiu em seu rosto.

— É mesmo.

— Lilith, por exemplo, tem o clypeus de uma coruja, que representa a sabedoria, a inteligência, o mistério e o misticismo. Por outro lado, por ser uma ave de rapina noturna, pode simbolizar mau agouro, azar, escuridão espiritual, morte, trevas e bruxaria. — Jonathan se levantou.

— Qual o sentido da Fênix? — a garota perguntou seguindo-o. Helena já estava preparando um feitiço de barreira invisível, impedindo que seres malignos conseguissem entrar na casa.

— A Fênix é uma ave mítica, símbolo universal da morte e do renascimento. Também simboliza o sol, a renovação, ressurreição, imortalidade, e longevidade. Esse escudo só poderia ser dado a uma escolhida por Deus, é uma ave perfeita. O Clypeus perfeito do Messias, se ele precisasse de um. Você sempre foi forte Maya, sempre carregou um peso, renasceu todas às vezes que disse que não aguentava mais; e se tornou invencível para proteger quem você ama. Confie em mim, seu escudo vai aparecer muitas outras vezes. Mas precisa tentar controlá-lo. A demonstração que viu hoje não chega nem aos pés da destruição de um Clypeus.

— Escudos são seres fantásticos — começou o jovem demônio caminhando até eles. — Prontos para defender seu receptáculo a qualquer custo. Você precisa mesmo tomar cuidado com isso, um Clypeus devasta um país inteiro em poucos segundos.

Maya arregalou os olhos. O anjo se aproximou dela.

— Não só isso Maya. Dentro de você, não há apenas um Clypeus, são dois.

— Magnum?

— Sim.

Maya deixou seu corpo cair no sofá vermelho e se manteve calada.

— Talvez eu não deveria ter dito — começou Jonathan.

— Não, você fez o certo, eu só, fiquei pensando nisso.

— Pessoal — começou Helena andando até os três adolescentes. — Terminamos aqui. Acho melhor voltarmos. Está escurecendo.

...

Extraído de "O poder de Arcana" de AZ. Capítulo " Os chamados clypeus".

"Clypeus são seres poderosos que vivem para proteger seu hospedeiro. São escudos contra qualquer tipo de ameaça. São guardiões para que nenhum mal caia em seu receptáculo e o protegem de tal modo, que não se importam com a vida que se esvai dos outros. Em meu tempo de longa vida, pude vislumbrar muitas espécies de guardiões habilidosos e interessantes. Alguns que parecem fofos —e que não são; e outros mitologicamente espetaculares. E como presente para gerações futuras, deixo a pequena amostra de alguns desses belos animais que tive a honra de ver nestes 160 anos de vida.

A Espada de Lilith (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora