A testemunha

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Mulder e Elliot se davam bem, eles conversaram sobre o que gostavam, sobre o que achavam daquele mundo, e o rapaz fez milhares de perguntas a ela sobre seu mundo. Mulder amava falar sobre ele, e Elliot adorou ouvir cada história.

A mulher sorriu. Elliot sentiu em seu coração a chama de uma nova esperança nascer aos poucos.

— Mundanos são estranhos. — comentou ela. — Vivem apressados, nunca tem tempo. Porque vocês são assim?

— Somos um grão de areia no meio de todo esse universo. Agimos com pressa porque parece às vezes que já perdemos muito tempo sem fazer nada. A vida é curta demais para nós. Seres arcanos como vocês, tem a vida inteira pela frente, tem uma vida que dura cerca de 500/900 anos, não é? Mundanos vivem até os 80/90 no máximo. A maioria dos anos estamos tentando ter uma vida boa, corremos contra o tempo. Alguns nem conseguem.

Mulder encarou os olhos negros do menino. Olhos brilhantes, como a noite em Arcana. Fria, sombria, e ainda assim brilhante em seu interior. Mulder respirou fundo.

— Sinto muito

— Não tem problema, não há nada que você possa fazer, é simplesmente a vida dos mundanos.

Passados alguns minutos os dois riam na fila de espera. Elliot contara sobre a primeira vez que fora a uma roda gigante, parecia gritar tão alto que todas as pessoas da cidade pensaram ser uma ave dando à luz e depois que tudo parou, que a roda deixou ele novamente no chão, um enjoo repentino invadiu seu estômago e ele vomitou na menina que gostava. Mulder riu muito disso. Era estranho, mas Elliot estava começando a se sentir bem novamente. Sentiu como se o mundo não fosse desabar em cima dele. Como se ele não precisasse se tornar o tão famoso Atlas.

— Porque me trouxe aqui? — perguntou ele enquanto os dois entravam na cabine.

— Achei que precisava — ela sorriu..

Quando a roda gigante começou a se mover, Mulder agarrou os dedos de Elliot com força. Ela nunca vira um instrumento daquele jeito
— Eu sempre quis andar em um gigante — confessou ela, quando sentiu que não iria cair. — Desde pequena. Eles se assemelham a isto, como vocês chamam?

— Roda gigante.

— Roda gigante — repetiu — Eu achei legal. Gostei de ter vindo aqui com você

Elliot encarou o horizonte. Talvez ser uma testemunha de Deus não fosse tão ruim assim, pensando melhor e com calma ele nem mesmo sabia o que tinha que fazer. Um sussurro lento invadiu sua mente. Um passo para trás para ver todo o ambiente. Era o que ele estava fazendo agora. Dando um passo para trás para pensar melhor, visualizar de outra forma. Mulder respirou fundo sentindo aquela brisa, era a única coisa que ainda a fazia sorrir. Quando a roda começou a descer, Mulder soltou os dedos de Elliot.

— Me perdoe por isso.

— Não se desculpe. Eu iria fazer a mesma coisa se estivéssemos em um gigante.

"Quais as hipóteses?" ela se perguntou enquanto agradecia. De uma forma, seu peito já sabia que ela iria amar o mundo proibido, mas mesmo assim, nunca imaginou que iria criar sentimentos bons por um mundano.

...

Quando os dois voltaram para casa, o céu já estava escuro e sem estrelas. Elliot respirou fundo antes de colocar a mão na maçaneta e entrar. Maya saiu rapidamente da cozinha de Helena e correu até ele. Tê-la em seus braços era sempre algo que ele desejava. Maya lhe trazia alegria e conforto. Era mais que uma irmã, era como se fosse uma parte dele mesmo, sabe?

— Obrigada por cuidar dele — agradeceu a jovem, antes de voltar outra vez para a cozinha e trazer duas taças transparentes para eles.

— O que é isso?

A Espada de Lilith (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora