16 anos depois, em 10 de fevereiro de 2019 (em Maia/mundo proibido).
Naquele quarto escuro havia uma coisa sombria, escondida perto da janela, encarando o ambiente com curiosidade. A moça continuava a dormir e embora não estivesse coberta, sua pele estava inundada de suor e seu corpo se contorcia em uma dança estranha. Ela falava frases desconexas e sem sentido. Nas sombras de seu quarto, o observador pode ouvir um grito alto e prolongado. Ela estava agora sentada na cama, seu corpo foi subitamente jogado para frente e o grito saiu sem sua autorização. Maya vinha sofrendo de pesadelos há algumas semanas e eles pareciam piorar a cada dia. A jovem jogou as costas na cabeceira da cama e com um gesto mecânico tirou os fios de cabelos grudados em sua pele. Ela já havia se acostumado — de certo modo — a acordar todas as noites daquele jeito.
Perguntas sem respostas, era isso que inquietava sua alma ainda mais. E aquelas memórias falsas não a ajudavam de jeito nenhum. Mesmo feliz ela sentia um vazio no peito, uma vontade de estar em outro lugar, de fazer uma coisa que ela não sabia o que era. Sempre a mesma sensação, de estar em um corpo errado, de estar perdendo tempo fazendo coisas idiotas. Aquela não parecia a vida dela, ela sentia que deveria estar fazendo outra coisa, mas que coisa era essa? Ela não sabia.
Recém-nascida, foi levada até Helena. Seus verdadeiros pais haviam morrido e ela, ficado, era isso — ou pelo menos isso que a tia afirmava. Helena não gostava que tocasse nesse assunto, não gostava de falar dos pais dela e nem mesmo na forma como eles morreram. Maya sentiu uma pontada em seu coração.
O observador deu um passo à frente, ela era de fato uma simples humana, tão sentimental que fedia a insegurança.
Ela ainda estava meio zonza quando levantou os olhos. Havia escutado algum barulho, ou talvez fosse apenas sua mente pregando peças —não era a primeira vez. Levantando os olhos verdes examinou a escuridão, uma forma humana se desenhava no escuro, aos pés da cama. Seu corpo inteiro se congelou, mas seus dedos procuraram lentamente pela corda do abajur, a procura de luz, a procura de respostas. Acendendo-o, vislumbrou o quarto. Nada. A sombra que se projetava antes, havia sumido! Ela pensou que era coisa de sua cabeça, mas continuou acontecendo por mais de uma semana, até que enfim o dia chegou.
...
Dia 19 de fevereiro de 2019, em Maia.
O sono a acordou novamente, desta vez, sem grito algum. Apenas a pressão esmagadora a atingiu e ela foi levada à frente com brutalidade. Quando seus olhos enfim se acostumaram à pouca luz, ela viu a fiel sombra tremeluzir a sua frente, aos pés de sua cama, como se quisesse fazer parte da realidade, como se quisesse dizer alguma coisa.
— O que você quer de mim afinal? Diga-me!
Os olhos da coisa brilharam se dirigindo a ela lentamente. Maya queria que aquilo respondesse, queria que aquilo parasse e voltasse para seu lugar, queria apenas paz.
— Você consegue me ver? — a voz da criatura saiu num sussurro rouco.
É claro que eu consigo ver voce, idiota — pensou ela, mas estava com muito medo para falar.
— Quem é você e o que você quer? — questionou com algumas lágrimas brotando em sua face.
Pela milésima vez, seus dedos deslizaram suavemente até o abajur e a voz surgiu novamente antes que ela puxasse a corda.
— Não acenda.
Era um som áspero e cavernoso, como o rugido de um leão. O corpo inteiro da jovem congelou no lugar e seus dedos correram em busca da corda.
Quando a luz amarela invadiu o quarto, transformando-o em um cenário morto, a sombra negra que desaparecia se escondendo nas sombras todas as noites, decidiu não fugir. Talvez fosse mesmo a hora de tudo aquilo começar de verdade.
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A Espada de Lilith (Livro 1)
FantasyOs olhos da fera a encararam com curiosidade. Ela dormia envolta por cobertores leves, parecia ter um gosto tão bom, ele quase podia sentir o gosto do sangue dela escorrendo pelo chão, manchando as paredes de escuro. O que sentiria ao cortar sua pel...