A Feiticeira

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13 dias depois, em 07 de abril de 2019

Um barulho fez Peter acordar assustado. Estava deitado no sofá da sala de visitas e acabou pegando no sono. Subiu as escadas rapidamente e entrou direto no quarto da escolhida. Ela ainda estava lá, continuava lá. Imóvel. Peter trouxe a poltrona vermelha para perto da cama dela e segurou sua mão respirando fundo. O quarto cheirava a rosas perfumadas, velas queimadas, e madeira envelhecida, e quanto a ela, era banhada em lavanda, com os cabelos de coco e a pele de pêssego. O jovem começou a conversa em um tom calmo, porém triste.

— Não sei se pode me ouvir. Você precisa voltar para mim, Kinsley — sussurrou ele — Você é a esperança desse mundo. Por favor. Volte para o senhor anjo.

E por um milagre —se é que um anjo caído pudesse crer nisso —a jovem abriu os olhos lentamente. Parecia um anjo. Um anjo de cabelos ruivos desgrenhados e olhar cansado. Tinha olheiras negras e estava pálida, mas mesmo assim... Parecia um anjo. Peter esperou pacientemente enquanto ela tentava se sentar. Ele a examinou, não viu uma garota qualquer, viu a coisa mais linda que ele jamais iria ver em outra pessoa, ela parecia um pedacinho do paraíso que ele havia perdido. Maya era o tipo de garota que não chegaria nem a ir ao baile, era especial o bastante para saber que sua própria companhia bastava. Seria o tipo de menina que pediria uma pizza e trocaria o vestido por um pijama. Peter suspirou. Ela era inefável demais para ligar para coisas idiotas como popularidade ou quem seria o rei e a rainha da noite. (Carly Richard e quem quer que fosse seu acompanhante, certamente).

— Vou chamar Helena... — começou, já na porta. Maya se levantou, ironicamente seu corpo não doía, apesar de tudo que aconteceu. A única parte que nunca a deixava quieta, era a mente. Estava quase explodindo de dor. Mas isso era comum desde que ela se conhecia por gente.

— Não! — protestou sem pensar.

Peter a olhou. O medo, e o espanto em perdê-la cada vez mais visível. Um sentimento forte o bastante, talvez quem sabe fosse mesmo amor, ele simplesmente não sabia como aquilo era possível, demônios não tinham alma, não era fácil sentir coisas. Não sentiam paixão, afeto, nem empatia. Na verdade, nenhum sentimento bom que os humanos desfrutavam. Tinham apenas ódio e rancor. A maldade e a inveja. A ira e a cobiça... Mas em meio a tudo aquilo, ele teve a certeza que não era um demônio, não mais pelo menos. Perto dela, ele conseguia sentir sua verdadeira vida voltando. E ele amava isso, isso ele sentia amar. Amava essa sensação estranha. Essa nostalgia boa. Seus pés caminharam lentamente até ela, e meio apreensivo, a abraçou. Teve medo de machucá-la, teve medo de não conseguir protegê-la.

— Pensei que você morreu. Eu não sei o que faria se você morresse... Eu simplesmente mataria Deus se fosse preciso, eu sinceramente acabaria com qualquer ser para te ter de volta.

Aquela confissão havia alegrado todo o seu dia, fizera toda aquela tortura valer a pena. Um rápido momento, ela conseguiu ver as inúmeras vezes que ele morria. Não queria que isso acontecesse, havia se acostumado tanto em tê-lo ao seu lado... Em ouvir seu sotaque britânico todo arrogante.

Maya sorriu, sentindo o coração dele, subindo e descendo rapidamente por baixo da camisa. Seus dedos formigavam. Ela estava dentro de um abraço apertado, sentindo sua pele quente. Estava calma agora, sentindo seu cabelo ser acariciado. Perguntas surgiam em sua mente. O que ela sentia afinal? Era um sentimento completamente diferente de qualquer um, capaz de a fazer sentir o peito arder. Olhar para ele significava sentir aquilo. Sentir saudade de momentos que nem tinham sequer acontecido. Peter a examinou novamente, com olhos fluorescentes preocupados. Pensou tanto sobre aquele momento, desejou tanto estar perto dela, vê-la bem, que não conseguia acreditar que era verdade.

— Se eu beijar você agora, vai me queimar vivo? — questionou. Parecia enfeitiçado, desesperado para provar que aquilo era real.

— Se eu beijar você agora, vai desaparecer depois? — os olhos dela pareciam duas bolas brilhantes. No fim, não importava o que sentia por Peter, ela apenas sentia.

A Espada de Lilith (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora