09:15, 16/4°/551 Ano Ancestral

Grama irregular, calçadas quebradas por raízes, inúmeros formigueiros, lixo no chão jogado por gente mal educada e algumas estátuas velhas e corroídas de um prefeito antigo. A praça de Verídico era um lugar muito popular para passeios familiares nos dias de luno. E eu era forçado a fazer parte desses piqueniques idiotas pelo simples fato de estar noivado com Amanda. Estava tão focado no que deveria fazer para encontrar o ladrão dos Santos Cavaleiros que a única coisa que pensei foi a lista de suspeitos durante as pentanas que passaram. Era incrível como Alfredo conseguia qualquer informação sobre o submundo da Capital do Oeste, eu só precisava pegar a lista com ele pra começar a trabalhar.

— Sobre o bufê... — Disse Amanda, que sentava ao meu lado na grama.

— Ele tem que ser grande. — Não poderia ser qualquer ladrão, quem conseguiria invadir um forte e sair ileso? Tudo bem, deixou rastros, mas só isso?

— S-Sério? Sim! Com bastante comida, aposto que tu queres chamar toda a defensoria pública, certo?

Mas por quê? Tenho certeza que todos sabem a importância da ordem dos Santos Cavaleiros. Só dinheiro não convenceria alguém a lesar todo o Oeste assim. Não, aquilo lesava o mundo inteiro, de certa forma.

— Tem tanta gente mesquinha que faria isso...?

— Como assim...? Do que estás falando?

— O quê? — Deixei meus pensamentos e olhei para Amanda. — Do que tu estás falando?

— Do... casamento.

Ela ficou cabisbaixa e com os olhos verdes fixados na grama. Estava olhando para alguns sanduíches numa cesta. O cabelo curto e castanho dela também tinha uma quantidade altíssima de químicos para tentar esconder os defeitos que não eram tão fáceis de esconder. Percebi que ela estava entristecida quando suas asas murcharam e tocaram o chão. Suspirei e tentei falar, mas quando abri a boca, ouvi aquela voz rasgada me gritar:

— Júlio César!

Eu me virei lentamente com ainda mais cansaço para a direção de Antônio de Honesto, sabendo que seria outra conversa desgastante. Como sempre, ele me fuzilava com os olhos verdes iguais aos da filha. As rugas na testa estavam em formato de "v". Ouvi ele quase rosnando para mim. Não era necessário o gesto para me chamar, pois não era a primeira e nem a última vez que me chamaria a atenção.

Olhei para Amanda novamente, então me levantei sem fazer mesura. Como era manhã de luno, ele fazia questão de mostrar status diante as demais famílias na praça de Verídico. Bastou chegar ao lado dele que o fogo começou a ser cuspido baixo e lentamente:

— Isso é forma de tratar a tua esposa? O que acha que estás fazendo? Ein? Me responda, moleque!

Sempre foi um esforço falar com ele. Percebi que era menos cansativo simplesmente deixar ele falando sozinho.

— Eu não fiz nada com ela, tio Antônio.

— Como sempre, aliás. Tens noção da importância desse casório, não é? Do fardo que carrega em suas costas — Ele se aproximou e agarrou minha asa abruptamente —, nessas asas?

Eu encarei a raiva dele mais uma vez. As entradas em sua cabeça e a barba mal feita revelavam a idade. Ele soltou minha asa e então bufou frustrado, acredito. Desviei o olhar e então falei com fraqueza na voz:

— Certo...

— Ótimo, eu e sua tia já toleramos demais tua birra infantil. Adiar o casamento por conta da faculdade e depois pra arranjar um emprego, tudo bem, mas tu precisas casar com Amanda. Morar naquela espelunca ao invés da casa que demos de presente foi um absurdo, e eu tenho que ouvir todos os dias do desgraçado de Fortuna sobre como está a relação de vós. Vamos marcar uma data até o fim do quinquemestre. Agora, vá lá e faça sua noiva sorrir. Seja homem e cumpra com sua palavra.

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