10:07, 13/7°/551 Ano Ancestral

Depois de fechar negócio com o Norberto, voltamos direto pra Capital. Ele pediu um prazo de um mês. Achei muito tempo pra ficar batendo metal numa forja. Antes da gente partir, ele disse que precisava tirar minhas medidas. Júlio ficou puto e arrancou a fita da mão dele dizendo que ele mesmo tirava. Achava fofo quando ele sentia ciúmes.

Eu já tava de volta à ativa, mas do jeito certo. Arranjei um emprego nos correios da FJV. Não podia ficar parada olhando pro meu homem trabalhando sozinho. Além disso, depois que eu queimei o almoço uma vez ele pediu pra deixar ele cuidando da casa e eu só ajudasse. Não dava pra ser foda em tudo.

Pior que meu serviço era simples e monótono. Até trazia uns livros que tava lendo. Se não tinha cliente, eu ficava sem demanda. Minha tarefa era despachar os envios e então a galera dava sequência pros pacotes até seus destinos.

O local era uma sala grande com cadeiras rentes às paredes, um bebedouro e um balcão com uma balança e máquina de calcular do lado. Tava lendo quando uma cliente chegou e eu tomei um susto, já que era ninguém menos que a Amanda de Honesto. Vi ela tão surpresa quanto eu.

— B-Bom dia, senhorita. Posso ajudá-la? — Por que caralhos eu gaguejei?

— Bom dia... tenho um pacote para envio. — Ela ergueu uma caixa sem me olhar nos olhos.

Peguei, pesei, etiquetei, dei o preço e ela pagou. Tudo feito em menos de um minuto. Mas ela ainda tava lá. Comecei a suar frio quando notei que ela não ia embora.

— Sabe, eu queria... queria te perguntar como o Júlio está?

— Isso é um pouco invasivo, senhorita. — Dei um sorriso torto.

— A-Ah, desculpe-me... É que... — Ela nunca completou a frase.

Tipo, estávamos sozinhas naquele sala, meu supervisor, tinha saído e não deu hora pra voltar. Os peões do galpão estavam ocupados demais pra ouvir qualquer coisa, então, essencialmente falando, era só nós duas.

Tinha umas coisas que queria perguntar pra Amanda. Meio que tinha roubado o noivo dela. Não fiz por mal, sempre gostei do Júlio e demorei pra perceber isso. Mas ela também gostava dele. Pra uma ex-ladra profissional, se sentir culpada por "roubar" era estranho.

— Queria te perguntar uma coisa também. Tipo, tu sabias como ele se sentia?

Externalizei aqueles pensamentos e certa surpresa ficou estampada no rosto verdes dela.

— Acho que sim, só nunca quis admitir. Ele sempre foi distante comigo. Não que ele não se preocupasse ou algo do tipo, mas nunca pareceu meu noivo, era mais um irmão mais velho atencioso. — Ela deu um sorriso fofo. Achei bizarro chamar o noivo de "irmão", mas paciência. — Desde nosso primeiro beijo, achei que a importância do nosso casamento o faria me amar alguma hora, mas esperei e esperei... nunca aconteceu.

A frustração varreu o sorriso no rosto dela num segundo. E as asas dela murcharam como se conseguissem falar. Ok, eu fiquei um pouco puta com o Júlio por ter tratado esse pitelzinho assim. Mas se não fosse isso, nunca teria conhecido ele do jeito que conheço. Ah, meu namorado, tava liberado passar pano, vai.

— Também tive um "relacionamento enganoso". O cara meio que só me usava, trabalhava pra ele e fazia quase tudo que pedia. Eu era uma marionete nas mãos dele e o Júlio me ajudou a perceber isso.

— Ele é incrível, não é? — Amanda sorriu olhando para onde sua aliança ficava.

— Desculpa... Sei lá, mesmo sabendo que é o que eu quero, me sinto mal por ter "tirado" ele de ti? — Cocei a nuca. Cacete, essa conversa era desconfortável.

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