XXXIII

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Acordei.

O quê...? Minha cabeça doía, eu tive aquela visão aterradora de estar sendo baleada e então tudo ficou escuro, estranho... Acho que tinha uma magia alterando as coisas ao meu redor, não fazia sentido nenhum o que estava acontecendo naquele pesadelo.

Passei a mão na minha cabeça ao me levantar do chão. Havia sangue na minha boca e não era meu, senti algo quente em minha cabeça como se alguma coisa tivesse passado ali e queimado meu cabelo. Não fazia ideia de que horas eram e de onde eu estava, mas aí minha memória começou a voltar com tudo. Galpão. Reunião. Lázaro. Morte. O Falsário. Tortura. E só aí que consegui ver tudo ao meu redor.

Todo o chão estava tingido de vermelho, havia mais buracos de bala do que podia contar e oito corpos no chão, incluindo O Falsário e... e...

O corpo do Júlio.

Ele estava sem asas, completamente manchado de sangue e com um sorriso mórbido no rosto, só então tinha notado que sua mão gelada estava segurando a minha. Me aproximei tentando não gritar, não enlouquecer e então vi aquela marca de bala na lateral de sua cabeça, assim como o buraco do outro lado. Ele havia...

Me desfiz em lágrimas. Eu não sabia o que tinha acontecido e aquilo doía ainda mais por conta disso, porque tinha sido uma inútil que não fez absolutamente nada contra o inimigo e ele tinha lutado sozinho. E agora ele estava morto.

Como eu poderia continuar? Não tinha um momento na minha vida que eu não pensasse em Júlio, não tinha um momento em que eu não estava feliz com ele. Mesmo com as brigas, mesmo com tudo que vivemos, eu não queria nada além da companhia de Júlio nos dias mais sombrios que tomavam meu coração. Eu o ama incondicionalmente e aquela morte doía mais que se tivessem amputado todos meus membros.

E eu querendo dar aula de dependência emocional para ele, minha Deusa...

Ri da minha própria mediocridade, não tinha vergonha de amar ele dessa forma. Ajoelhei-me diante de seu corpo e acariciei seus lábios, sentindo-os com a ponta de meus polegares. Ó, Júlio... seus lábios ainda estavam quentes. E então eu percebi que minha vida tinha acabado. Eu com certeza seria incriminada daquelas mortes e coisas muito piores aconteceriam assim que qualquer um chegasse ali. Tomei a arma das mãos dele e comecei a procurar por munição, mas nada encontrei.

— Meu amor... usaste até a última bala? — Disse ao corpo, com os olhos marejados.

Não tinha outra escolha, saquei-lhe a adaga que guardava e então a ergui, sabendo que a bainha dela seria meu peito e ali repousaria. Então, o fiz.

Senti o calor deixando meu corpo enquanto abraçei Júlio, sabendo que, ao menos, minha vida tinha sido feliz a cada segundo que passei ao lado dele. A dor não era nada diante da libertação que senti. E lentamente, todo meu sangue se juntou àquela poça carmesim do galpão.

Entre Crimes & PaixõesOnde histórias criam vida. Descubra agora