07:15, 09/7°/551 Ano Ancestral

O plano não podia começar do nada, a gente precisava de se preparar um pouquinho mais. Tava treinando arduamente naquele plano dimensional ao mesmo tempo que Júlio treinava magia. Eu golpeava com força o boneco de treino enquanto desviava dos braços giratórios. Meu namorado (era tão gostoso chamar ele assim), por outro lado, fazia conjurações tipo assim:

Viagens nos custam tempo

Não me demoro sendo lento

Aí ele sumia por um segundo e aparecia gritando de dor. Eu achava super bizarro e sempre olhava de longe ele se contorcendo no chão me perguntando o quê ele queria. Não achava normal, mas da primeira vez que fiquei preocupada, ele disse que tava tudo bem.

— Pra que isso mesmo?

— Me Teleportar... Na realidade, a magia tem quatro linhas de conjuração, mas tem essa versão de duas linhas com uma distância menor e mais rápida de fazer.

— Tu já voas, pra quê ficar se matando?

— Ah, é mais uma vantagem... Acho que vale a pena ter essa opção, mesmo sendo um mago horrível...

Revirei os olhos e aceitei. Esse povo com magia era maluco, viu.

— Bom, eu já terminei. Quando vamos pra estação de trem?

— Amanhã. Preciso ver alguns papéis hoje e então vamos.

Confirmei com a cabeça olhando pra ele sentado no chão. O lugar era meio sem graça, mas era super particular. Dei um sorriso travesso e ataquei ele mordiscando tudo que podia. Foi engraçado ouvir ele gemendo de dor, mas depois gemeu com tesão. Eles ficam safadinhos tão rápido.

08:30, 10/7°/551 Ano Ancestral

Chegamos à estação. Os trens não paravam nunca, a cada cinco minutos eles chegavam e levavam uma galera de um lugar pro outro. Júlio me disse que a companhia ferroviária conseguia te levar de uma ponta do Oeste até a outra pela bagatela de V$50 em um dia. Ok, isso era incrível e muito barato.

Se bem que não tinha como levar malas... Talvez não pudesse fazer meu plano de viagens malucas logo. Enfim, a gente chegou na plataforma e a minhoca de ferro gigante que baforava fumaça tinha chegado. Feita de bronze e magia, o cheiro etéreo do Cosmo se misturava com a fumaça.

Adentramos e ficamos numa janela de dois lugares sentados de frente um pro outro. Minha primeira vez num trem e parecia uma criança numa loja de doces. Júlio olhava pra mim admirando aquelas paisagens que pareciam borrões de tão rápido que viajávamos e disse:

— Adoro te ver sorrindo assim, tu ficas tão linda.

Fiquei um pouco corada e peguei a mão dele, fazendo carinho.

Uma coisa que me incomodava... Era meio idiota, mas no fim do dia, eu não sabia muito do Júlio. Tipo, sabia que ele era o morcego, formado em direito e tinha uma grana boa. Mas e os pais dele? Sabiam que tavam mortos, fim da história. Fala sério, nem sabia o time dele!

— Júlio, tô incomodada com uma parada.

— Hm? E o que seria? — Senti a preocupação na voz atenciosa.

— Ah, não sei como tocar nesse assunto, então vou ser direta. Tipo, não sei nada sobre ti. Posso saber como eram seus pais?

Ele arregalou os olhos e ficou apreensivo com a pergunta. Por alguns segundos, ficou olhando pra janela com a cabeça nas nuvens. Devia ter perguntado o time dele...

Entre Crimes & PaixõesOnde histórias criam vida. Descubra agora