22:21, 10/8°/551 Ano Ancestral

Eu sou um péssimo namorado... Como podia não confiar em Samira? Cada segundo que passava o remorso parecia me golpear impiedosamente, mas conseguia não transparecer tal sentimento. Deveria contar para ela o que acho que descobri? Parecia tão arriscado...

Maitê era uma maga licenciada, mas apenas magos da guarda podiam conjurar magias de Dominação. Toda magia precisa de uma dobra de Cosmo, voz para falar a conjuração e gestos somáticos para ser performada. Porém, quando um mago se tornava habilidoso o bastante, tudo isso pode ser descartado. A vereadora era perigosa.

Ela tentou me controlar. Não sei dizer qual era a magia ou como aquilo funcionava, mas eu senti algo naquele momento. Tendo essas habilidades, ela poderia facilmente controlar toda a câmara dos vereadores. Se existisse uma ligação com O Falsário e Maitê, ele poderia decidir qualquer coisa na cidade. Aprovar ou vetar qualquer projeto de lei e dificultar todo e qualquer empecilho para os negócios de ambos.

Não que eu desconfiasse de Samira ou algo do tipo, mas era muito perigoso alguém mais saber daquilo. Além disso, não passava de um palpite baseado em uma falha arcana. Não tinha como provar nada nem mesmo que era uma magia de Dominação. No pior cenário, Samira já estava sob controle dos magos da Dominação que trabalham para O Falsário e no melhor, ela acharia que sou paranóico.

Não podia pensar isso, não podia ser tão negativo, mas minha mente insistia em me dizer aqueles palpites baseados em nada além de paranóia. Eu não deveria estar mais tranquilo? Afinal, tínhamos acabado de sair da estação de trem com a armadura da Samira, que estava saltitante de tanta empolgação com aquele pingente. Aninhada ao meu braço, ela sorria tranquilamente.

— Júlio?

— Sim?

— Tu estás bem? Pareces disperso... tem alguma coisa te preocupando?

— Ah, não é nada. — Sorri para ela e beijei sua bochecha.

Andávamos pelo meio daquela noite agitada, onde lojas ainda estavam abertas atendendo clientes. Restaurantes, bares e casas de dança recebiam os amantes da farra. Samira sorria e confiava em mim naquele momento. Me senti a pessoa mais horrível de Vernya. Estava fingindo descaradamente e ela não notou, mas notou que eu fiquei preocupado. Não merecia Samira.

§§§

25:06, 10/8°/551 Ano Ancestral

Finalmente em casa, começamos a preparar o ritual. Jantamos fora e consegui dispersar aqueles pensamentos tendo uma boa conversa com minha namorada. Ao chegarmos, começamos os procedimentos do ritual. Com tudo montado, comecei a revisar os passos com Samira e relemos o juramento. Aquelas palavras tinham poder para tornar um mero mortal num guerreiro implacável. Seja quem quer que tenha feito isso, só podia agradecer agora. Ou condenar, pois logo um exército mercenário poderia ter esse poder.

Entendia que precisávamos de que Samira se tornasse uma Santa Cavaleira, mas agora que era possível, não sei se queria. Santos Cavaleiros devem ser castos. Em tese, desde antes do juramento. Isso significava que não poderíamos manter nossa relação. O juramento era tão poderoso que simplesmente impedia o Santo Cavaleiro de tentar sequer quebrá-lo, tanto que havia histórias de alguns membros da ordem que foram jogados em bordéis e mesmo diante de muita tentação, suas "espadas" não subiam, se é que me entendes.

Colocamos os componentes e desenhamos os círculos mágicos. A armadura estava disposta em frente a Samira e eu com o cântico em mãos. Ela se ajoelhava ao centro do círculo e parecia um tanto quanto nervosa. Para performar o ritual, precisávamos que duas pessoas fizessem a conjuração. Com tudo preparado, começamos:

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