26:13, 20/7°/551 Ano Ancestral

Cara, eu tinha ímã de atrair lésbicas? Inexplicável essa merda. A garota lá filha da vereadora queria me devorar viva, ficou me cheirando e me elogiando a cada passo que a gente dava na dança. Podia parecer grosseira pensando assim, já que nada impede de ela estar sendo educada. Mas que pareceu, pareceu!

A dança terminou e ela trocava olhares comigo, mas fiquei confusa quando eu vi ela puxando um cara pra um canto bem reservado da festa. Aposto que foi trocar de batom, se é que tu me entendes.

Vi o Júlio sendo levado pela vereadora pro bar. Fiquei meio enciumada com aquilo. Não que eu fosse perder meu homem pra uma piranha velha que se acha A ninfetinha, maaas... Tá, eu tava com ciúmes.

Fiquei impaciente com a demora dos dois, então fiquei num canto bebendo o que era servido pelos garçons e ouvindo alguns comentários desnecessários. Eventualmente, alguma rodinha tentava sussurrar pra que eu não ouvisse, ou acho que queriam que eu ouvisse coisas como:

— Ouviram falar daquela garota? É a "namorada" do garoto dos de Honesto.

— Uma humana? Quem é? Tão básica e comum.

— Não faço a mínima ideia, mas pelo que ouvi, não tem nada. Ele arranjou uma mendiga qualquer pra meter, aposto.

Os comentários eram acompanhados de risadas maldosas. Devia ser isso que Amanda quis dizer com "apoiar a gente". Eu fiquei puta pra caralho quando ouvi aquilo, mas estava impotente. Se fosse bater boca, provavelmente sairia humilhada, e se fosse quebrar a cara daqueles burgueses de merda, traria problemas dos grandes pra gente. Eu podia ser presa e o Júlio ficaria encrencado.

A frustração não foi minha companheira por muito tempo, pois logo Júlio apareceu e estava com o rosto estranho. Quase pálido e suando, como se tivesse visto algo que o aterrorizou.

— Samira, me dê um tapa.

— O quê? — Arregalei os olhos. — Júlio, sei que tu gostas, mas não é hora nem lugar de fazer essas safadezas.

— Não...! É... Preciso que me bata, só isso, é um teste.

Olhei pra ele, acho que tinha bebido demais. Não podia bater nele de fato, afinal, estava no meio de uma festa. Olhei pros lados e fiquei caçando alguma coisa, olhei pra pista de dança e então uma moça pisou no pé do parceiro... Isso! Dei um pisão no pé do Júlio.

Ele revirou os olhos e chupou os lábios para dentro engolindo um grito que foi na alma dele e voltou. Uma lágrima queria escorrer pelo olho quando ele abriu a boca e disse, extremamente fraco:

— O-Obrigado...

— Acho que exagerei... Desculpa, amor.

— Tudo bem. — Falou ele, recuperando o fôlego. — Acho que tá tudo bem?

Ele começou a se olhar e caçar alguma coisa pelo terno. Não, ele tava caçando algo na pele dele. Franzi as sobrancelhas tentando entender.

— Olha, não vamos sair pra lugar nenhum no dia 15, tudo bem?

— Tudo bem...? Júlio, tu estás estranho.

— Estou sangrando? — Questionou ele, girando de um lado pro outro, abrindo e fechando as asas.

— Não. Pera, ela te atacou??

— Não, relaxe. Eu... te conto depois, vamos embora.

E começamos a sair. Eu nunca tinha visto o Júlio tão estranho.

10:13, 10/8°/551 Ano Ancestral

Até hoje, ele não comentou nada da festa. Paciência. Estava na estação de trem com Júlio para receber o Norberto, pelo visto o prazo foi cumprido e a entrega da armadura era hoje. Fiquei ansiosa, uma coisa era um vestido caro, outra era meu brinquedinho novo! Dizem que alguns Santos Cavaleiros conseguem criar asas e voar. Será que minha armadura faria isso? Voar nos braços do Júlio era bom, mas voar com ele seria ainda melhor.

Entre Crimes & PaixõesOnde histórias criam vida. Descubra agora