25:12, 9/6°/551 Ano Ancestral
Caralho, que sensação assustadora era essa? Tipo, sempre me falavam que a prefeita era um amor de pessoa e quando cheguei ela me tratou bem e tudo mais. Por que parecia que aquela baixinha iria arrancar minha pele?
Andando na nossa direção sem nem piscar, olhava fixamente em mim. Geral na rodinha calou a boca quando ela chegou com aqueles olhos pretos me fitando e aí perguntou tão baixo que quase não ouvi:
— Samira, por que paraste de trabalhar?
— D-Desculpe, senhora, vou voltar agora pra cozinha e servir os outros convidados. — Ela lembrava meu nome? Cacete, me fudi...
— Espere, prefeita — Disse o tal Belchior. —, ela está nos servindo, não tem problemas, certo? Tem garçons o suficiente pros demais convidados.
Não sei por quê, mas senti um medinho na fala do burguês.
— Eu preferiria ela trabalhando para todos, senhor de Bravo. Aliás, porque não nos sentamos e damos alguns lances? Acho que algumas peças são de interesse de vós. Esse dinheiro vai ajudar a cidade nos bairros mais necessitados.
Ela falava isso, mas não via toda essa ajuda que ela dava não. Podia contar nos dedos as paradas feitas nos distritos.
— Miriã, meio que... — Disse Júlio, tentando aliviar minha barra.
— Meio que o quê, Júlio César? Queres brindar com a criadagem agora? E como tu conheces essa garota, para início de conversa?
— Na realidade, eu que a conheço, prefeita. — Disse Catarina.
— De onde? — Porra, a baixinha não tinha feito uma ameaça mas, a branquela se cagou.
— C-Como pode ver, ela daria uma boa modelo.
A mão da prefeita foi ao queixo, e mesmo eu sendo mais alta, ela levantou meu rosto como se me olhasse com alguma familiaridade, o olhar de julgamento me dizia que ela não engoliu aquilo, mas não desmentiu a branquela.
— Pois bem, não se demore e volte logo ao trabalho.
Ela largou meu queixo e saiu batendo os pés com fúria. Algumas pessoas pararam pra olhar pra gente e até mesmo o leiloeiro parou quando o "barraco" começou.
Então entendi. Eu tava falando com o Júlio, ela... ficou puta por ele me conhecer e brincar comigo. Ou seja, os dois tinham alguma coisa. Ela tinha alguma coisa com ele. Achei que eu era a única garota com quem ele falava de outro jeito, mas pelo visto eu tava errada nisso também.
Tipo, sei que ele tava noivo, mas porra... era um casamento arranjando e forçado. Júlio nem tentou me defender. Ele não tinha obrigação nem nada, mas eu meio que queria isso. Não que eu não pudesse me virar, dois socões e essa metida tava fudida na minha mão, mesmo que eu fosse me fuder depois.
Fiquei tão bolada e de cabeça cheia que só falei foda-se. Nem falei com ninguém, saí pra área dos funcionários, peguei minhas coisas e meti o pé. Foda-se tudo isso.
⚔
25:34, 9/6°/551 Ano Ancestral
Mãos nos bolsos, vagabundos bebendo nas ruas e eu saindo da área nobre da Capital. Precisava esvaziar a cabeça. Eu não tinha um jeito particular de fazer isso, não costumava encher a cara ou me afundar em comida, geralmente eu só caminhava sozinha. Mas aí eu ouvi um bater de asas fortes vindo de trás e já sabia que vinha problema.
— Podemos conversar? — Disse Júlio atrás de mim.
— Conversar o quê? Volta lá pra sua prefeita, não precisa de mim pra nada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Crimes & Paixões
Mystery / ThrillerEle é um Feral Alado, noivado, membro da alta sociedade e com uma vida repleta de decisões peculiares. Ela é uma Humana, marginalizada, se preocupa com a comunidade e tenta fazer de tudo por aqueles que se importa. Conseguiriam eles desvendar os mis...