13:13, 13/8°/551 Ano Ancestral

Estava saindo do médico com o atestado na minha mão. Sentia algumas dores fortes pelo corpo todo depois de toda aquela confusão. Não tinha deixado de ir à academia, então as lesões se acumularam e começaram a cobrar o preço da minha teimosia.

É, acho que minha armadura era à prova de balas, mas isso não impedia que alguns machucados acontecessem. Tomei um ou dois bons golpes na luta contra o vereador e agora precisava passar umas pomadas e tomar remédios. Nem queria imaginar o estrago que seria se eu não tivesse minha armadura.

Ganhei uma folga pra hoje. Eu poderia ver logo o presente pro meu namorado. Fala sério, ele já tinha me dado mais de V$5.000 em coisas! Pagava tudo, gato, bom de conversa e ainda era bom de cama. O namorado perfeito, sério! Não merecia o Júlio.

Mas tinha aquela parada que ele não queria me contar... Não sei o que era, mas sabia que estava escondendo alguma coisa. Tínhamos que falar daquilo eventualmente, mas não fazia a mínima ideia de como abordar o assunto. Ele ficaria magoado e puto comigo? Ou ficaria encurralado e eu seria a maior desalmada do mundo? Ah! Eu não sei!!

Parei de pensar naquilo, estava saindo para ver o presente dele, isso que importava naquele momento. O foda era o quê comprar, eu sabia que ele gostava de perfumes e roupas chiques, mas isso era básico demais. Não ia dar um carro ou uma casa, mas queria algo mais único, sabes?

Pra minha sorte, enquanto voltava do consultório, passei do lado de uma loja do Forjador Negro. A famosa loja de armas de fogo. Era meio bizarro, mas quem daria uma arma pro Júlio? Só eu sabia do "segundo trabalho", então acho que valia a pena dar uma olhada.

Adentrei a loja e senti o cheiro fresco de pólvora explodindo, assim como o barulho abafado no estande de tiro ao alvo. Havia muitos rifles, pistolas, fuzis, espingardas, escopetas e munição pelas paredes. Fala sério, tinha tantas armas que poderiam botar uma na mão de cada pessoa na cidade. Provavelmente sobraria ainda.

Pelo menos não tinha essa quantidade de clientes, havia apenas um atendente no caixa e dois ou três gatos pingados olhando aquelas armas sozinhos na loja imensa, mas o que me chamou a atenção foi ter visto dois caras conversando com alguns papéis na mão discutindo, um humano caucasiano de cabelos pretos e um Feral Réptil com escamas multicolores pelo corpo e cabelo loiro-alaranjado.

— Esses números só podem estar errados! Como teríamos quarenta e sete rifles kalashnikovs nos estoques e quarenta e quatro pistolas magnum? Não comprei metade disso! — Disse o humano.

— M-Mas, senhor, esse guarda-livros não era, tudo foi registrado. Cada compra está no livro razão e temos os recibos das compras também.

— E não confere com o estoque da loja, quero um relatório de contagem do estoque. Tenho certeza que não são só esses dois produtos que estão errados...

— Certo, vou só atender aquela cliente e já faço isso. — Ambos olharam para mim, então reconheci o humano e ele me reconheceu também.

— Quer saber? Pode ir direto, eu cuido dessa aqui.

E se aproximando de mim, Belchior Júnior sorria como se estivesse vendo um velho conhecido que não via há muito tempo. Alguns burgueses gostavam de forçar amizade, pelo visto.

— Samira! Que surpresa vê-la aqui, como posso ajudá-la?

— Ah, e aí. Eu meio que... queria ver umas armas?

— Veio ao lugar certo! Me acompanhe!

O cara era meio chato, mas fala só o necessário e conversava comigo mesmo. Quase caí no papo de vendedor umas quinze vezes enquanto fazíamos um tour pela loja. Quando fui inventar uma mentira ou outra pra justificar a compra, não consegui. Simplesmente parecia que eu não podia mentir e então comentei que era pro Júlio e ele ficou surpreso. Quando começou a fazer perguntas demais, só tentei mudar de assunto:

Entre Crimes & PaixõesOnde histórias criam vida. Descubra agora