24:12, 16/4º/551 Ano Ancestral

Eu demorei tanto pra abrir a boca que ela acabou falando primeiro:

— Posso ajudar?

— Ah, sim, é... Tu és Samira Ferreiro?

— Ela tá te devendo dinheiro? — A ruiva arqueou uma sobrancelha.

— Não...?

— Então queres o quê com ela?

— Ouvi de uns contatos que ela presta uns serviços... — Coçei o pescoço e desviei o olhar. Parando pra pensar, eu não pensei no que iria falar caso ela estivesse aqui. Fiz besteira...

— Eu não sou puta não, maluco! — Ela me empurrou ao gritar. Céus, quanta força!

— N-Não! Não é nada disso. — Ergui as mãos rendido e tentando não cair.

Ela me olhou com uma fúria que me deixava acuado, mas ao mesmo tempo interessado em saber o que ela faria. Não sei dizer o porquê, mas ser fuzilado por aqueles olhos era... Não sei. Então, a raiva deixou aqueles olhos carmesins e então encarou meu pulso, surpreendida, e ela perguntou:

— Isso é um Índice Encantado?

— É sim... — Respondi, tocando a pérola caleidoscópica. — Uso como... melhor não comentar.

— O quê? Acha que homens não deveriam ter diário?

Ela riu, puxando a manga esquerda da jaqueta e mostrando um Índice Encantado também. Bom, estava usando mesmo como diário e tudo mais, mas eu poderia estar usando de várias outras formas. Foco, já estava desconcentrado demais. Já sabia que a ruiva era a Samira, agora precisava confirmar que era a ladra.

— Enfim, eu estou te procurando há algum tempo, senhorita Ferreiro. Sabes entrar e sair de locais sem ser vista? Tirar encomendas e fazer entregas, eventualmente...

— Ô, burguês, tu és maluco? Sou criminosa não, qual foi?

Era um blefe, conseguia sentir isso no olhar dela, estava mais acuada que irritada. Tinha uma pista.

— Não sou exatamente burguês, mas devo dar-te motivos para isso. Tu não prestas esses serviços mesmo? Nem conhece alguém que presta? Estou com um pedido grande e que paga bem.

— Quanto...? — Mordeu a isca, mas antes que pudesse falar, ela tentou se corrigir. — N-Não importa! Não tô interessada e mesmo que tivesse, não saberia como fazer. Some daqui.

— Não quer recon...

— Vaza, burguês!

Cerrei os dentes e respirei fundo. Tudo bem, já tinha evidências o suficiente. Sem uma palavra sequer, virei minhas costas e ouvi uma batida de porta violenta. Talvez o morcego continuasse a investigação.

§§§

24:57, 16/4º/551 Ano Ancestral

Já tinha me transformado no morcego enquanto seguia o alvo com adagas afiadas. Esperava não precisar usá-las. Nunca tinha patrulhado tão cedo assim, pude ver alguns operários deixando fábricas enquanto seguia o rastro da tal Samira Ferreiro. Não sou nenhum advogado da área trabalhista, mas trabalhar com horas extras e no dia de luno não era permitido. E ainda diziam que ignorância é uma benção...

Foi difícil rastreá-la, já que tudo que tinha era o endereço da suposta casa dela. Mas tinha uma pista, ela estava arrumada, então sairia logo. Infelizmente não tinha me preparado para encontrar com ela, só portava minhas adagas e minha armadura de couro batido. Agi rapidamente e me transformei num local reservado o bastante. Comecei a perseguição dos ares e notei que não era o único que queria passar despercebido.

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