20:19, 02/9°/551 Ano Ancestral

Fiz amor com Júlio pela tarde toda, devia ter ficado assada depois disso... mas valeu a pena. Só fico puta da vida porque era a segunda vez que a gente brigava e resolvia isso com sexo, porra, parecia que nossas brigas eram bobas e que éramos imaturos. Não me achava a mulher mais madura e com a cabeça mais desenvolvida do mundo, mas imatura eu não era, tinha muita responsabilidade naquele relacionamento.

Inclusive, precisava conversar com Júlio alguma hora. Aquele pedido de desculpas foi muito... entregue, muito "só posso ser feliz contigo". Claro que gostava do meu namorado dizendo que me amava e precisava de mim, mas não queria isso pro Júlio. A qualquer momento algo podia acontecer e...

Não consegui terminar o pensamento, mas eu queria aquele Feral Alado sendo feliz mesmo sem mim e eu sabia que poderia ser feliz também sem ele. Mesmo que meu maior desejo naquele momento fosse ficar agarradinha na cama com esse magricela penudo e burguesinho. A gente ainda estava na cama, cochilando depois de se cansar bastante. Era fofo como ele dormia como um anjinho, respirava baixinho e até chupava o dedo.

As asas atrás dele se moviam devagar, como se fossem sonâmbulas. Eu sempre dormia de lado olhando pra ele ou de conchinha sendo abraçada por aquele moreno lindo. Olhando ele dormir, não queria que o tempo passasse.

Eventualmente, a fome bateu e eu resolvi levantar pra fazer um café da tarde pra gente. Fui até a cozinha e peguei pão, manteiga e queijo pra fazer mistos quentes com queijo derretido. Isso pelo menos eu sabia fazer. Passei a manteiga no pão e joguei as fatias na frigideira e preparava uma jarra de café. Quando coava o café, o cheiro forte subiu pelo apartamento e invadiu o quarto, consegui ouvir ele gemendo ao acordar com o aroma.

Vi ele se espreguiçando e indo até a cozinha enquanto bocejava. Quando chegou até mim, ele me abraçou por trás e disse:

— O que estás preparando? O café tá com um cheiro maravilhoso.

— Uma besteirinha qualquer pra acompanhar. — Virei a cabeça para dar um selinho nele.

Ele sorriu pra mim, olhando no fundo da minha alma com aqueles olhos castanhos escuros e lindos. Rimos enquanto trocamos carícias, mas então um cheiro estranho de carvão começou a subir. Quando olhamos pra frigideira, vimos os mistos quentes queimados igual fuligem, entrei em desespero e Júlio foi até a pia pra jogar água na frigideira, desliguei o fogo gritando em desespero tentando salvar a comida.

Ficou uma merda.

O pão tava queimadíssimo e o queijo também, a manteiga tinha evaporado e subiu um fedor horrível queimado na cozinha que só saiu depois de uns três minutos abanando a fumaça pela janela. Caralho eu me senti muito inútil, cara, queria enfiar minha cara num buraco e morrer.

Mas aí o Júlio pegou um prato e uma espátula. Cuidadosamente, raspou a frigideira e tentou tirar o máximo que dava pra salvar daquele misto quente. Serviu um no prato e respirou fundo. Fiquei sem entender quando ele pegou e comeu. Com alguma dificuldade, ele mordiscava, soprava e engolia aquele pedaço de carvão com restos de queijo.

— Júlio? Isso tá queimado! Joga fora.

— Samira, eu adoro misto quente. Porque não comeria um feito por ti especialmente para mim?

Ele sorriu pra mim com a boca cheia de fuligem e os dentes pretos com o misto. Ri da cara dele e me juntei. Raspei o segundo misto da frigideira quebrando os pedaços queimados da melhor forma que pude e mordisquei junto com ele. O gosto era horrível, crocante demais, quente demais e literalmente igual carvão. Mostrei os dentes pro Júlio, que engasgou de tanto rir e eu também. Não sabia dizer o porquê, mas mesmo que aquilo tivesse um gosto horrível, era maravilhoso comer misto quente queimado com meu namorado.

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