XXIII

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04:23, 10/8°/551 Ano Ancestral

A patrulha tinha ido muito bem até aquela hora. Conseguimos nos livrar de três distribuidores sem problemas. Não precisei vestir minha armadura, foi fácil fazer justiça naquele dia. Um ou outro cara reclamou de perder produto, mas quando o mandava olhar pra cima e ver o morcego, mudaram de ideia na hora.

Do nada, Júlio sussurrou pra mim sei lá como:

— Tem um dos vereadores se aproximando de ti. Acho que não está sozinho, fique alerta.

Era a Maitê? Por que caralhos ela estaria aqui e agora? Quando olhei pra frente no cruzamento, me vi de cara com um Pequenino. Aquela raça de baixinhos sortudos e de pés peludos. Diferente do meu namorado, não ligava e nem sabia muito sobre políticos pra reconhecer o sujeito. Ele parecia meio assustado e pude ouvir mesmo a distância ele falar algo tipo:

— M-Mas é seguro, chefe? Aqui parece tão...

Ele nunca terminou a frase. Ninguém estava perto dele. O sujeito parou de andar quando me viu a alguns metros enquanto ia em sua direção. Ele me olhou com tanta repulsa e medo que tive que parar também. Cacete, era quase como se tivesse quatro armas apontadas pra mim.

— Boa noite...?

— P-Por que está aqui, garota?

— Não posso andar pelas ruas pra voltar pra casa?

— Ah, é que... é que tão tarde é perigoso, sabe? Não é bom uma moça ficar andando por aí sozinha nesse horário. Eu... acabei de parar para pensar aqui, não quer que eu lhe acompanhe até em casa? Uma companhia seria bom.

A voz dele era atarracada e fina. Parecia que o vereador estava procurando entender outra coisa com aquela conversa, sem falar que ele não olhava diretamente pra mim, como se prestasse a atenção em alguém perto dele. Não precisava ser nenhum gênio pra saber que tinha coisa errada naquilo:

— Tô de boas, sei me cuidar. E aliás, tu não és nenhuma figura pública de importância, tipo um guarda, pra precisar fazer isso. — Dei de ombros e olhei a meia luz do cruzamento.

Ele ficou paralizado. Puta merda, falei algo que não devia? Tinha que saber o que ele queria sem revelar minhas intenções. Por que me levar pra casa? Com certeza não era gentileza ou algo do tipo. Um vereador andando por aí sem motivos era, no mínimo, suspeito.

Não tive muito tempo pra pensar, já que logo após o silêncio ele falou:

— Pelo visto, vou ter que te levar, Samira.

O som saiu da boca dele, mas a voz não era dele. Parecida, porém desigual. Até que era meio familiar, mas de onde? E como ele sabia meu nome? Não tive tempo pra pensar em nada disso, pois quatro caras armados surgiram do nada prontos pra uma briga.

Só tive tempo de vestir minha armadura e rolar pro lado.

Um tiroteio veio em minha direção, as balas quase me acertaram, mas consegui desviar. Me escondi atrás de um poste, vi que minha armadura estava com seu primeiro amassado de uma bala que teria furado minha coxa. O primeiro de muitos.

Saquei minhas espadas e me levantei, estava prontíssima pra uma briga.

— Ora, ora. Cinco contra uma? Não acham isso engraçado? — Sorri debaixo do elmo.

— Sua vadia...! Vai ver o que é engraçado! — Disse um dos guarda-costas.

Cada um estava equipado com uniforme tático de infiltração. Discreto, reforçado com couro e impossível de reconhecer. Usavam capacetes numerados que iam de zero a três. Foi o número zero que disse. Novamente, aquela sensação estranha de déjà vu me tomou ao ouvir a voz. Tinha cinco caras pra dar conta agora, sem tempo pra pensar em detalhes.

Entre Crimes & PaixõesOnde histórias criam vida. Descubra agora