16:02, 07/6°/551 Ano Ancestral

Depois de uma noite mal dormida e um dia inteiro de cama devido aos hematomas, com toda certeza eu ouviria dos meus colegas quanto ao meu estado. Havia muitas ataduras e alguns inchaços em mim mesmo depois de tentar me curar. Fui dormir quase quatro da manhã naquele dia, levei Samira em casa e conversamos por um bom tempo. Não sei o quê, mas alguma coisa mudou em mim naquele dia.

Estava saindo da defensoria para almoçar, mas então Douglas apareceu. A calvice dele parecia ter piorado e as feições que eu já considerava horríveis pra mim estavam ainda piores. Não só pela raiva estampada na face do Furioso, como também pelo andar e respiração forte.

— Júlio César de Honesto! — Vociferou Douglas, andando em minha direção.

Não disse nada, bufei e virei em sua direção.

— Não pense que só porque estás machucadinho que pode deixar de trabalhar! Onde estão as juntadas que te pedi na pentana passada?

— Ah, sim, claro. Tu chegas à minha sala às 19 horas de giovo com pilhas de serviço como se não faltasse uma hora pro fim de pentana e espera que qualquer um conseguisse fazer? Por favor, Douglas, mantenha o decoro. — Falei com nojo.

— Seu moleque! — Ele se irritou e bateu com o dedo em meu peito, acertando um hematoma. Trinquei os dentes para não reclamar. — Sou seu superior e o que eu mandar tem que ser feito! Tu devia ter ficado mais ou, no mínimo, ter focado nisso hoje pela manhã! Mas fui na sua sala e o que encontrei? Outro coisa que não tinha nada a ver com minha demanda!

— Eu já disse, isso não é minha atribuição! Não sou obrigado a fazer isso, é totalmente desvio de função!

Ao passo que discutíamos, alguns defensores públicos, estagiários e assistentes se reuniam para ver. Claro, furdúncio era algo que o povo gostava de ver, seja letrado ou não. De repente, ele se aproximou mais de mim, como se quisesse violência. Ele era um Furioso, a raça de pele vermelha naturalmente forte e grande. Mas quem disse que Douglas sabia brigar? Tinha o triplo da experiência dele e mesmo com ele me pegando pelo colarinho, poderia derrubá-lo com dois ou três golpes. Porém, não o fiz, afinal, perderia meu emprego se o agredisse. Mas se ele me socasse, a história era outra.

Estava sorrindo ao ver aquele babaca incompetente prestes a ser demetido, mas para minha infelicidade, um grito surgiu da porta que eu estava prestes a sair. E com aqueles malditos cabelos roxos e nariz empinado, Miriã de Verídico gritou:

— O que pensas que estás fazendo!?

De braços cruzados, ela olhava para o homenzarrão vermelho ao meu lado. Lentamente ele largava meu colarinho enquanto se virava incrédulo para ela:

— P-Prefeita, o que estás fazendo aqui? N-Não esperávamos sua visita...

— Cale a boca! Tu vais agora para a sala do diretor comigo, chefe de setor!

E como se fosse um cachorro triste grunhindo, ele se curvou e foi atrás da mulher baixinha de metade de seu tamanho. Passaram-se alguns segundos e alguns colegas vieram falar comigo como se aquilo tivesse sido loucura da minha parte e que minha "amizade" com a prefeita não mudaria nada, já que Douglas é cunhado do diretor e jamais o puniria. Conversa. Sabia que Miriã era louca e faria qualquer coisa para não ver violência. Ela voltou quando estava indo embora e então parou ao meu lado rapidamente dizendo:

— Está indo almoçar? Posso lhe acompanhar? — E todos que fingiam não trabalhar ouviram aquilo.

Não podia recusar, era como se ela estivesse me forçando a fazer aquilo com uma cara ridícula de pidona. Recusar seria humilhar a prefeita da Capital na frente de um órgão público inteiro. Sai pra fora e ela me seguiu, nos guiando até um restaurante chique onde o dono não tinha coragem de cobrá-la.

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