17:03, 16/6°/551 Ano Ancestral

Depois que a gente goza, a consciência bate. Júlio despencou pro lado quando terminamos. Arfava de cansaço e também tava zonzo. Também, acabou de fuder comigo, duvido que qualquer homem não ficasse assim. Levei a mão ao rosto, meio que tapando a vergonha e disse:

— G-Gosta de quais nomes pra crianças?

— O quê? Como assim?

— É que... eu tô em período fértil. Acho que a gente acabou de fazer um bebê...

Ele começou a rir da minha cara, fiquei puta e soquei o braço dele.

— É sério, porra!

— Pelo visto, alguém faltou a algumas aulas na escolinha da FJV. Eu sou um Feral Alado e tu és Humana, Samira. Não conseguimos ter filhos. tu só consegues ter filhos com Orelhudos, Falsários e outros Humanos. Já eu só consigo com outra Feral, que tem que ser alada também, não poderia ser uma Feral Felina, por exemplo.

Tinha faltado muitas aulas, na real. Acho que foi por isso que ele aceitou fazer sem proteção. Então... nunca daria pra ter uma família com o Júlio, seria pra sempre só nós dois... Puta merda, fudeu uma vez e já ficou emocionada? Aí não, Samira!

— Então é por isso que ninguém fala nada sobre seu noivado? Só assim pra "continuar a linhagem"? — Perguntei.

— Meio que sim... Claro, gera uns comentários desagradáveis, mas acho que aceitam. Ferais tem dificuldade em se reproduzir desde sempre. Então as leis dão margem para esse tipo de casamento.

— Saquei, ainda acho estranho, mas faz sentido.

— Sobre isso... não se sente incomodada? Meio que... sou noivo de outra mulher, mesmo que não queira casar com ela.

— Eu taria mentindo se dissesse que tô de boa com isso, mas sei lá, parece que tu vale a pena.

Ele deu um sorriso bobo e olhou pro lado.

— Eu vou arranjar um jeito de terminar com esse noivado, é o mais certo. Amanda também merece alguém que goste dela. Diferente de meus tios, ela é uma pessoa boa.

— Uau, até parece que tu queres algo sério comigo.

— Sou muito emocionado por falar que quero?

Foi minha vez de dar um sorriso bobo. Aff, me sentia uma idiota. Mas uma idiota feliz.

— Não, não é. — Então cheguei mais perto e ficamos agarrados.

Passamos o resto da tarde trocando carinho, conversando, brincando e comendo besteiras. Chutei o pau da barraca da dieta naquele dia. Mas de vez em quando tava de boa, né? Nada podia estragar aquele momento e eu queria que durasse pra sempre.

Mas aí três batidas vieram da porta. Pensei "Fudeu." achando que era um vizinho, mas pelo visto era pior, porque Júlio tinha olhado pra porta como se soubesse quem era. Como se só ela batesse daquele jeito. Caralho, se fosse a prefeita eu não sabia o que faria.

Ele levantou, colocou a roupa e pediu pra eu fazer o mesmo. Engoli seco me preparando pelo pior e fiquei meio que longe da porta, mas ainda olhando de canto. Chatão ter que me esconder, mas sabia que aquilo traria problemas pra ele. Quando ele abriu a porta, fui eu que fiquei em choque.

Era uma mina muito linda. Baixinha, cabelo castanho curtíssimo e duas esmeraldas nos olhos. A pele dela era tão morena quanto a do Júlio e os lábios igualmente carnudos. Não que eu perdesse pra ela, fora aquelas tetas enormes e desnecessariamente grandes. E claro, duas asas, menores que as do Júlio, mas da mesma cor castanha. Ela usava um vestido azul de bolinhas com saia longa e carregava uns papéis nas mãos.

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