Depois do jantar trazido pela própria Madame Pomfrey, os dois garotos começaram a se preparar para dormir, indo um após o outro para o pequeno banheiro adjacente à enfermaria. Seus olhos se encontravam com frequência e Harry teve que se esforçar para não corar.
Ele nem sabia por que ficou subitamente envergonhado. Ele dividia o dormitório com os outros grifinórios, com Rony na Toca, e nunca teve a menor hesitação.
Ele estava na mesma cama que Malfoy desde o dia anterior, em contato constante com o sonserino. Eles haviam brigado dezenas de vezes, encontrando-se fisicamente próximos em inúmeras ocasiões antes disso, desde os onze anos.
Porém, com Malfoy tudo era diferente... Tudo sempre foi diferente.
Havia essa necessidade irresistível de estar perto dele e de tocá-lo. Harry tentou se convencer de que isso era consequência do vínculo mágico que se formou entre eles, mas no fundo ele sabia que não tinha nada a ver com isso. Não só por isso de qualquer maneira.
Se ele fosse completamente honesto, teria que admitir que acima de tudo precisava ter certeza de que Malfoy estava bem. Ele o havia ferido gravemente, quase o matou, até, e assim que se afastava do sonserino, o via novamente caído no chão, tão pálido que sua pele parecia transparente, seu sangue formando uma poça cada vez maior sob seu corpo. Não tê-lo mais em seu campo de visão fazia ele começar a entrar em pânico, que só diminuía quando ele podia vê-lo novamente.
Seu coração disparou e ele foi rapidamente para a cama, sentando-se com as costas rígidas e os olhos fixos na porta do banheiro. Ele relaxou um pouco quando viu Draco sair, então pareceu genuinamente aliviado quando o sonserino se aproximou dele e se acomodou na mesma cama, sem a menor hesitação e sem fazer perguntas.
Harry sorriu nervoso para ele e deitou-se, de frente para Malfoy para que pudesse vê-lo, enquanto Draco se deitava da mesma forma. Mais uma vez, seus olhos se fixaram para não se soltarem, como se depois de todos esses anos ainda estivessem fascinados um pelo outro. A enfermeira trouxe para eles dois frascos de poção calmante para ajudá-los a adormecer com mais facilidade e sorriu carinhosamente ao vê-los instalados confortavelmente. Ela gentilmente desejou-lhes uma boa noite, certificando-se de que estavam bem acomodados.
Depois que ele tomou a poção, não demorou muito para que os olhos de Harry tremulassem enquanto seus músculos relaxavam e o jovem bocejava. Atordoado, ele se contorceu para encontrar uma posição confortável e acabou se pressionando contra Draco, abraçando-o e enroscando suas pernas. Então, soltou um suspiro de alívio e fechou os olhos, adormecendo em paz.
*
Draco não adormeceu tão rápido. Deixou-se ser abraçado pelo Potter como se fosse um urso gigante e fofinho, achando o contato agradável. A iniciativa do Grifinório fez seu coração bater um pouco mais rápido, pois ele não o havia afastado apesar do passado deles. A poção permitiu que ele relaxasse completamente e ele caiu em um leve torpor, perdido em pensamentos.
Seu primeiro pensamento foi que ele não culpava Harry Potter nem um pouco.
Ele se arrependeu de ter sido resgatado, porém, porque a morte lhe ofereceu a paz que tanto desejava desde que recebeu aquela marca horrível.
Quando ele parava pra pensar nisso, alguns meses antes de tudo acontecer, ele a desejava. Ele se vangloriava dizendo a todos que seria marcado ao atingir a maioridade… então a marca lhe foi concedida antes do esperado e ele acabou descobrindo o quão enganado estava.
Ele havia perdido o sono e o apetite, não ousava mais se olhar no espelho. Embora ele quisesse desaparecer, Potter não tirava os olhos dele desde o início do ano letivo e encontrava olhos verdes por toda parte, até mesmo em seus pesadelos.
Ao ver Potter surpreendê-lo em um momento de fraqueza, ele atacou, furioso porque seu rival poderia imaginar que ele estava fraco. Mas, como sempre, Potter estava em vantagem e sentiu o sangue sumir de seu corpo, enquanto seu peito queimava.
Ele nunca poderia ter imaginado que Harry Potter choraria por ele. As lágrimas dele, o olhar cheio de culpa, a maneira como ele tentou curá-lo... tudo tocou seu coração e ele se sentiu em paz. Queria tranquilizá-lo, dizer-lhe que não devia se sentir culpado e que o tinha libertado, mas não tinha forças para falar.
Potter havia prometido ajudá-lo. Ainda mais, ele havia prometido tudo a ele, implorando para que ele aguentasse. Draco não queria acreditar, embora seu coração estivesse batendo forte e ele se agarrasse ao Grifinório como se tivesse medo de que não fosse real.
Contra todas as probabilidades, ele sobreviveu. Snape chegou, tratou-o e levou-os para a enfermaria. Na neblina, Draco não tinha entendido o que havia acontecido, mas sabia que não queria deixar Potter ir. Sua mão quente e seus olhos verdes eram tranquilizadores, como uma prova de que ainda havia esperança de um futuro para ele.
Quando ele acordou, ele permaneceu calmo. Longe de seu comportamento habitual.
Afinal, não era todo dia que ele passava tão perto da morte e ele rapidamente notou que Harry estava sempre perto dele, segurando sua mão, protegendo-o, como havia prometido. Ele o deixou explicar a Dumbledore e Snape, interrompendo-o no momento em que ele estava prestes a se acusar, então com confiança ele disse que tudo foi apenas um acidente. A ideia de Potter se metendo em problemas por causa dele o deixou doente e ele se recusou a acusá-lo de qualquer coisa.
A menção de Dumbledore sobre a promessa de sangue o deixou tenso e incrédulo. Ele não conseguia acreditar que Potter pudesse ter sido tão sincero em suas intenções a ponto de a própria magia ter decidido proteger sua palavra!
Quando seu rival de longa data fingiu ter esquecido tudo enquanto apertava sua mão, ele entendeu que o moreno tinha uma ideia em sua cabeça. Então ele seguiu sua ideia e declarou que também não tinha a menor memória.
Ele realmente não sabia o que esperar do Grifinório, mas certamente não que tentaria protegê-lo tanto quanto possível. Além de suas esperanças mais loucas. Draco não poderia ter esperado tanto, não depois de todos esses anos de discussão.
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Promasse de Sang ( Tradução )
FanficApós a morte de seu padrinho, Harry afunda. Ele se afasta de seus amigos para protegê-los e perde a confiança em Dumbledore por causa de suas omissões. Até que um antigo ritual é acidentalmente realizado, mudando a vida de Harry... ▷► ESSA HISTÓRIA...