Capítulo 27

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Draco deveria tê-lo afastado e perguntado o que havia de errado com mesmo. Ou ele deveria ter se afastado do moreno e o sacudido para obter uma explicação. Ou qualquer outro comportamento sensato com o qual ele encerrasse esse estranho momento.

Em vez disso, após o primeiro momento de surpresa, Draco ouviu-se gemer levemente. Embora fraco, foi um som de aceitação, mostrando que apreciava a iniciativa de Harry. E como se isso não bastasse, ele levantou a mão para colocá-la na nuca do grifinório e retribuiu o beijo sem jeito, mas com entusiasmo.

Quando o beijo terminou, Draco não soltou o pescoço de Harry e nem tentou se afastar. Eles apenas ficaram juntos, testa com testa, completamente silenciosos. Foi um momento de ternura e paz que nenhum dos dois queria quebrar.

Sem soltar Harry, sem se afastar, Draco murmurou, de olhos fechados, convencido de que seria rejeitado assim que terminasse de confessar o que estava em seu coração.

— Harry… Você não entende. Minha missão… é trazer os Comensais da Morte para Hogwarts. Mas também tenho que matar Dumbledore.

O moreno suspirou suavemente, permanecendo perto de Draco, não muito impressionado com a confissão.

— Não é realmente uma surpresa. Quero dizer, estando em Hogwarts, havia poucas coisas que ele poderia forçar você.

Draco se apoiou em Harry, parando de lutar naquele momento. Ele se sentia exausto, emocionalmente esgotado. Admitir em voz alta pela primeira vez o que precisava fazer para permanecer vivo — e salvar a vida de seus pais — fez com que ele se sentisse infeliz. Ele esperava ser chamado de monstro, mas Harry recebeu o anúncio com uma calma desconcertante. Pior, ele o confortou, abraçando-o, sem hesitar.

Demorou alguns segundos para o jovem se recompor, para não desmoronar à menor palavra. Quando se julgou forte o suficiente para falar sem soluçar desesperadamente, ele sussurrou, com a voz embargada.

— Por que?

Harry riu baixinho e deu um leve beijo em sua têmpora, um toque que fez o sonserino corar e causou um calor agradável em seu estômago. Então, o Grifinório respondeu calmamente.

— Deixa para lá. Eu te disse, ninguém merece isso. E não quero que você se machuque. Eu só... quero manter você segura.

Draco piscou, pronto para argumentar que eles nunca foram próximos antes, que sua nova amizade tinha apenas um dia e eles ainda tinham tempo para brigar e perceber que não se davam bem.

A ideia o incomodava, pois ele gostava de estar perto de Harry Potter. Esse menino era um sol por si só, atraindo todos que passavam por ele sem nem perceber. Ele era tão cheio de contradições, tão forte e ao mesmo tempo tão infantil, que Draco queria ficar perto dele para ajudá-lo. Para protegê-lo apesar de si mesmo. Finalmente, Draco balançou a cabeça.

— Potter...Harry. Você não pode dizer isso. Quero dizer... nem éramos amigos antes disso! Você não me deve nada, você sabe. Fui eu quem lançou o primeiro feitiço e...

Harry completou calmamente, parecendo teimoso.

— E eu quase matei você.

Ainda havia aquele toque de culpa no olhar verde, o que fez Draco suspirar.

— Seriamente. Estou bem. Não tenho lesões nem sequelas. Eu arrisco muito mais com a marca no braço, sabe?

Harry estremeceu e Draco não sabia se era pela possibilidade de ele se machucar ou pelo fato de ter a marca de Voldemort na pele. Ele teria gostado de afastar Harry e sair do calor de seus braços. No entanto, ele estava muito fraco e permaneceu contra ele. Draco ansiava por perguntar por que o havia beijado, o que aquele beijo significava para ele, mas temia demais a resposta.

Até agora, Draco nunca tinha deixado ninguém se aproximar dele assim. Seu pai lhe disse desde muito jovem que sua futura esposa seria escolhida com cuidado, pela influência de sua família. O amor nunca entrou nisso. O jovem nunca fez perguntas, como um herdeiro perfeitamente obediente. Então... ele recebeu a marca e todos os pensamentos de flerte desapareceram de sua mente. Ele não conseguia imaginar se apaixonar durante a missão de matar um homem... sem mencionar que seu pai nunca o deixaria escolher por si mesmo.

Porém, neste momento, Draco achou a hipocrisia de sua família repugnante. Seu sobrenome sacrossanto não tinha mais valor, não quando eles tinham que rastejar aos pés de um monstro quase humano. Seu pai estava na prisão, em completa desgraça.

Por um breve momento, Draco se viu sonhando com a liberdade. Ele se perguntou se ter Harry ao seu lado lhe permitiria fazer suas próprias escolhas, longe da influência de seu pai. No entanto, todos esses pensamentos foram destruídos no momento em que ele abaixou a cabeça e  olhou o braço dele. Mesmo escondida pela manga, a marca parecia queimá-lo, como se quisesse lembrá-lo de sua presença.

****

Harry beijou Draco por impulso. Provavelmente era estúpido, mas ele queria. Mais precisamente, ele precisava disso. Nada poderia fazê-lo se arrepender. Beijar Draco já havia apagado a experiência infeliz com Cho. Ele tinha certeza que gostou da jovem asiática — que brevemente fez sua cabeça girar — mas beijar Draco o fez esquecer tudo que não fosse o pretensioso Sonserino…

Ele respondeu com calma às objeções do jovem, porque não queria perdê-lo. Ambos estavam desempenhando um estranho equilíbrio entre a antiga rivalidade e a nova amizade. Cada palavra poderia trazer a lembrança de uma discussão, cada palavra poderia ser mal interpretada...

Ver Draco à beira da morte, sangrando, foi um choque elétrico para Harry. Um choque elétrico o suficiente para perceber que não queria perder o Sonserino, pois ele tinha um lugar em sua vida. E o jovem era teimoso o suficiente para segurar o loiro e não deixá-lo escapar.

Promasse de Sang ( Tradução )Onde histórias criam vida. Descubra agora