Capítulo 46

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Harry permaneceu em silêncio, apenas observando Draco agir com confiança. O jovem teve o reflexo de segurá-lo perto de si, recusando-se a perdê-lo de vista e agarrou-se a ele, aninhou-se em seus braços com um suspiro de alívio, com a impressão de estar perfeitamente em seu lugar.

Eles haviam deixado Hogwarts e ambos estavam bem. Eles estavam fora do alcance, tanto de Voldemort, quanto de Lucius Malfoy e de Dumbledore. Seguros, finalmente.

Naquele momento, ele estava exausto como nunca antes. Pensar em tudo o que lhe restava realizar literalmente o oprimiu, enquanto ele se perguntava se seria capaz de fazer o que o mundo mágico esperava dele. Encostado em Draco, ele franziu a testa, perdido em pensamentos, e pulou quando Draco rosnou.

— Droga, Potter! Pare de se preocupar e durma!

Harry fechou os olhos e apoiou a testa no peito de Draco. Ele respirou suavemente e com uma voz fraca falou.

— Não tenho certeza se consigo fazer isso…

****

Ao ouvir as palavras de Harry, um arrepio percorreu a espinha de Draco.

Até agora, ele tinha visto Harry Potter enfrentar muitas coisas. Sempre superou tudo, nunca perdeu a esperança nem a coragem que o caracterizavam. Sempre houve essa chama em seus olhos verdes, que ardia como um fogo ardente.

Porém, essas poucas palavras, ditas com uma voz vazia, não soavam como o Grifinório que ele conhecia. Harry Potter nunca foi um derrotista. Aquele maldito Grifinório conseguia ver a luz no meio das trevas, o bem no meio do mal... ele nunca desistia.

Harry havia escondido o rosto contra seu peitoral, mas Draco teve tempo de ver seus olhos opacos, seu olhar de resignação. Ele parecia quebrado e só o pensamento encheu Draco de pânico.

Draco não sabia o que fazer para tranquilizá-lo — ele não era alguém acostumado a cuidar dos outros — então reagiu da única maneira que sabia. Por uma ironia mordaz da qual ele imediatamente se arrependeu.

— Droga, Potter! Não faz nem uma semana que você jurou me proteger e já está desistindo?

Harry se encolheu como se tivesse sido atingido, mas não tentou se afastar de Draco. Ele deixou passar um longo momento, durante o qual Draco se repreendeu repetidas vezes por sua brusquidão, antes de murmurar.

— Você está seguro aqui. Vou me certificar de que ninguém possa expulsá-lo desta casa, não se preocupe.

A resposta sombria deixou Draco furioso. No entanto, ele moderou seu temperamento, porque por trás dessa raiva havia terror. Harry não poderia desistir assim, ele não podia parar de lutar.

Desde que chegou a Hogwarts, ele dizia muitas vezes que queria ver Harry Potter de joelhos, quebrado. Ele pensou que seria divertido, que ele iria gostar. Porém, agora que Harry havia perdido todo o seu espírito de luta, tudo que fazia dele um Grifinório chato, ele percebeu que não queria isso. Ele nunca quis isso. Queria discutir com ele, gritar com ele por se colocar em perigo. Ele queria ver os olhos dele brilharem e queria ouvi-lo rir quando se preocupasse com ele. Ele queria Harry inteiro, orgulhoso e indestrutível, com aquele fogo ardente nos olhos que o consumia na hora.

Essa concha vazia que ele lhe mostrava naquele momento estava rasgando seu coração e ele procurava por qualquer coisa que pudesse tirar Harry de sua apatia.

Depois de alguns momentos, Draco suspirou tristemente, ainda passando a mão pelas costas de Harry, pensando na melhor maneira de ajudá-lo. Sua mão subiu até a nuca, acariciando a linha do cabelo por alguns momentos antes de subir novamente para alisar o cabelo bagunçado por um longo tempo.
Harry soltou um gemido suave que fez Draco sorrir. Ele já havia notado que o grifinório parecia adorar ter sua mão passando por seus cabelos, e continuou, divertido ao senti-lo relaxar e se deixar levar completamente.

Quando ele soltou um suspiro de alegria do jovem em seus braços, ele empurrou os fios de cabelo para trás e o forçou a olhar para ele, para captar seu olhar. Harry piscou e cedeu sem protestar.

Draco se perdeu no olhar verde por um momento, seu polegar acariciando a têmpora de Harry em pequenos círculos concêntricos. Finalmente, ele suspirou.

— Você sabe, não sou uma pessoa particularmente corajosa. Não sou como você, pronto para me colocar em perigo, e realmente não tenho vocação para me sacrificar pelos outros. Longe disso.

Harry franziu a testa ligeiramente confuso, mas permaneceu em silêncio, ouvindo Draco. Ele permaneceu imóvel contra o sonserino, a cabeça erguida para olhá-lo, totalmente atento. Draco sorriu brevemente e os lábios de Harry tremeram em uma resposta fantasmagórica, uma sugestão de sorriso que fez o coração de Draco disparar. A reação de Harry, por menor que fosse, provou que ele ainda poderia trazê-lo de volta a si.

O sonserino continuou, com um suspiro.

— Essa marca no meu braço... é provavelmente a prova mais flagrante da minha covardia. Achei que estava protegendo meus pais, claro, mas também era muito mais... confortável seguir ordens sem me rebelar...

Harry não pareceu surpreso ou chocado, então Draco continuou.

— Quando… eu estava sangrando, eu ouvi você. Eu ouvi você chorando por mim e me implorando para continuar vivo. Eu… eu só queria morrer. Achei que seria mais simples. Ninguém poderia me culpar por isso, sabe? Mas você me segurou, com suas palavras e suas promessas. Sempre brigamos, sempre nos odiamos e você... você me ofereceu sua proteção incondicionalmente. Você fez mais por mim do que qualquer outra pessoa.

Draco falou, sem malícia. Ele ainda estava olhando para Harry e viu seus olhos verdes brilharem um pouco demais, enquanto se enchiam de lágrimas. O coração de Draco batia violentamente em seu peito, mas ele se forçou a continuar, para não desabar antes de terminar.

— Isso foi estúpido, Harry. Foi estúpido da sua parte parte fazer isso, porque para todos os outros eu era um caso perdido. O obediente Comensal da Morte, aquele que recebeu a marca antes de atingir a maioridade. Seu inimigo. No entanto... você fez isso e tenho certeza de que não tinha a menor ideia escondida por trás de sua ação. Você não agiu esperando algo em troca. Foi só você quem quis me salvar. Sem condição. Da mesma forma que sei que você quis dizer cada uma de suas promessas. Você jurou me proteger e... eu confio em você.

Promasse de Sang ( Tradução )Onde histórias criam vida. Descubra agora