Minhas costas estavam me matando quando acordei, e tenho certeza de que, se tivesse realmente enfrentado a experiência total daquele sofá, estaria com um torcicolo agora. Camila também não estava atrás nas dores, reclamando da cabeça que martelava após o sangue esfriar, mas o corte que se formou em sua testa não era grande, e nem me parecia fundo. E como nem ela mesma se preocupou com ele durante todo esse tempo, achei seguro não o fazer também.
Quando pegamos o carro que Camila usou para me buscar no aeroporto, não se passava nem das seis da manhã, e deveríamos ter ido mais cedo, mas ela parou para analisar a situação do seu Skyline, e ligar para um tal de Nicholas, que a ajudaria com o conserto do mesmo –o qual ela mantém na linha durante todo caminho que eu não tinha lembranças de ser da minha casa. Sei que já passei por aqui antes, me lembro de alguns detalhes na paisagem, algumas casas, mas nunca fui muito de observar o lugar pelo qual estou passando, principalmente criança, o que significa que, se me soltassem a duas ruas atrás, eu não saberia chegar aqui sem a ajuda do Maps ou informações de terceiros. Apenas quando viramos a esquina é que eu me lembro perfeitamente da rua na qual Ashley, Lewis, eu e as vezes até Camila brincávamos. Me sinto nostálgica voltando aqui, ao ponto do meu peito estufar e um sorriso brincar nos meus lábios. Senti saudades de Miami. Mesmo que eu não me lembre de muita coisa, sinto no fundo da alma que eu era mais feliz aqui. Isso foi o que me trouxe de volta para essa cidade, na verdade; a sensação que eu não conseguia largar de que eu deveria estar aqui.
— Mas enfim, Nick – Camila suspira ao meu lado –, vou deixar o carro com você assim que conseguir um gancho para tirar ele da pista. Preciso dele o quão antes possível, tenho que correr para alcançar os pontos que eu perdi, que não devem ter sido poucos.
Solto uma risada de descrença quando ouço aquilo, negando com a cabeça, desviando o olhar para a rua. Camila me olha de soslaio, parando o carro em frente à minha casa, que continua exatamente a mesma, com as pilastras robustas de quartzo branco, as paredes em um cinza-claro moderno. O jardim está maior do que me lembrava.
— A gente se fala depois – ela retira o celular da orelha, deixando-o no porta luvas, e joga o olhar em mim. – O que foi?
— Você ainda vai correr? Você meio que capotou, bateu a cabeça e teve uma arma apontada para você a menos de vinte quatro horas atrás.
— Isso é um dia normal na corrida de rua, Lauren. Estava esperando uma produção da Fórmula 1? Você precisa ver quando os traficantes resolvem trocar tiro com a polícia na pista. E Drake já apontou arma pra tantas pessoas nas ruas que ficaria por horas nomeando todas, mas nenhuma foi realmente acertada, porque ele é só um exibido – ela solta uma risadinha, como quem gostava daquilo, e eu só consigo negar com a cabeça de novo. – Mas bem, eu te falei que isso é meu sustento, e eu gosto desse mundo. Gosto da adrenalina.
— Eu costumava surfar na Califórnia, então entendo sobre a adrenalina, mas não acho que seja a mesma coisa – por algum motivo, desperto a atenção de Camila, que retira o cinto de segurança para virar o corpo na minha direção.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Racer
FanfictionEla pode pilotar os carros mais rápidos de Miami, mas não o seu coração. Quando Camila conheceu Lauren, ela ainda era uma criança - apenas a irmã mais nova mimada e que a odiava de seu melhor amigo. A irmã que foi embora com os pais para a Califórni...