Permanecemos na sorveteria por mais tempo do que o planejado, distraídas demais com nossas respectivas histórias. Eu me limito a contar momentos felizes que vivi, longe da minha família, para que não pensássemos o clima, mesmo que eu saiba que ela não ligaria caso acontecesse, e Lauren me conta vários acontecimentos de sua infância, os quais eu estava presente, mas nunca prestando atenção de verdade nela.
É estranho ouvi-los assim, pelo ponto de vista dela. Posso dizer que vi Lauren crescer, que participei do seu desenvolvimento desde que nasceu, porque é a verdade. Aos dez anos, me lembro muito bem de estar na casa dos Jauregui, brincando com Lewis na área da piscina quando seus pais chegaram, voltando do hospital. A bolsa de Clara tinha estourado na noite anterior, e, para que Lewis não precisasse ficar supervisionado por Mike —que estava mais nervoso do que ela mesma— na sala de parto, Clara me chamou para dormir na casa deles, e assim, distrair Lewis. Nenhum de nós dois sabíamos que Lauren estava a caminho, e quando a babá veio nos chamar, avisando que tinha uma surpresa, meu queixo foi no chão primeiro que o de Lewis.
Ele ficou encantando no mesmo segundo, como se Lauren houvesse disparado um feitiço contra ele, e eu estava gostando da sensação de ter um bebê por perto para ficar paparicando, por mais que achava muito estranho a forma que Clara e Mike a tratava com tanto cuidado, enquanto meus pais não faziam nem mesmo um terço disso. Gostava de Lauren, até ela começar a andar e falar. Depois disso, minha vida ao lado do meu melhor amigo virou um inferno.
Lauren estava em todo lugar, grudada no braço dele, me olhando de cara feia, colocando o pé na frente para que eu caísse, me empurrando, cutucando, puxando meu cabelo, jogando um balde de minhocas em mim... posso fazer uma lista gigante de tudo que essa garota me fez passar.
Mas então, Lauren me conta que tinha um crush secreto em mim, que o ciúme surgiu porque ela pensava que Lewis era meu namorado. E agora, ouvindo todas as histórias através dos seus olhos, eu percebo que estava tão armada em relação a ela, na época, que sequer levei em consideração o dia em que ela me deu uma flor que achou na rua, porque tinha pétalas vermelhas e eu tinha dito que era minha cor favorita. Ou quando eu cheguei de surpresa na casa dos Jauregui, e ela deixou de beber o chocolate quente que a mãe havia feito para ela e Lewis e me ofereceu sua xícara. Não deixei de acreditar que ela me odiava nem mesmo do dia que eu estava cabisbaixa, poucas semanas depois de sair da casa do meu pai, e, percebendo isso de alguma forma, Lauren pediu ao pai para comprar sorvete, mas quando Mike voltou do mercado, ela colocou todos os potes na minha mão, e me disse para comer, porque sorvete deixava ela feliz.
No dia, lembro que ri, perguntando o que a felicidade dela tinha a ver com a minha, e Lauren, atrevida como sempre, mergulhou uma colher no sorvete e quase me fez entalar com ela, enfiando-a dentro da minha boca antes que eu pudesse reagir. Acabei cedendo, para ela sair da minha cola, e Lauren foi embora saltitando, satisfeita.
Não consigo deixar de sorrir toda vez que me lembro daquela cena agora, vista por outro ângulo.
Claro que eu só prestei atenção nela de verdade quando fui a buscar no aeroporto, e que, antes disso, ela era só a irmã mais nova e chata do meu melhor amigo, mas com todas as versões que ouço de Lauren agora, mudo a visão que tinha dela. A coitada só estava descobrindo que tinha uma quedinha em uma garota, e queria chamar a atenção dela, mesmo que seja despejando um balde de minhocas em cima.
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Racer
Fiksi PenggemarEla pode pilotar os carros mais rápidos de Miami, mas não o seu coração. Quando Camila conheceu Lauren, ela ainda era uma criança - apenas a irmã mais nova mimada e que a odiava de seu melhor amigo. A irmã que foi embora com os pais para a Califórni...