Capítulo 14 - Garota da Karla.

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Tento fazer carinho atrás da orelha de Bea, a buldogue francês que chegou junto comigo no abrigo

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Tento fazer carinho atrás da orelha de Bea, a buldogue francês que chegou junto comigo no abrigo. Sei que a maioria dos cães gostam de atenção nessa região, mas ela se afasta antes que eu possa sentir a textura do seu pelo. Bea foi resgatada de maus tratos com o antigo dono, e agora, ela está tão magra que as cavidades dos ossos são marcantes. O pelo branco está encardido, e a pele, machucada com várias marcas de cigarro que o infeliz queimava nela quando a mesma latia muito.

Ouvi essa história quando um dos funcionários do abrigo a entregou na minha mão para que eu a desse banho, e isso acaba comigo. Por que você pega a responsabilidade de um animal se não vai fazer o mínimo, que é cuidar? São vidas também. Vidas melhores e mais puras que a nossa, arrisco em dizer. Esses animais desenvolvem um amor e apego gigantesco por seus donos, e é tão lindo ver a forma que eles se alegram se você chegar em casa e dar o mínimo de atenção, repor a ração no pote pela manhã, deixar que eles lambam sua mão, que deite na sua barriga, que te acompanhe em um passeio. Não consigo aceitar que há pessoas que são tão ruins ao ponto de machucar um animal desses a troco de nada.

Minha sensibilidade em relação ao assunto volta a tona quando penso nisso, e preciso me obrigar a não começar a chorar feito uma idiota enquanto esmago Bea nos meus braços. Se eu pudesse, passaria na casa de um a um para fazer o mesmo que eles provocam a esses bichinhos.

— Você está gostando do sol, não é? – Pergunto a ela, que está deitada ao meu lado, alerta, mas com a língua para fora. – Mas não podemos ficar aqui, porque eu já tenho que ir embora. Prometo que amanhã venho com você de novo.

Bea ainda está relutante, com medo do toque humano, e me custou o dia inteiro para que ela me deixasse acariciar sua orelha por dois segundos. Toda vez que a carrego, ela se encolhe toda, chora, treme e, da primeira vez, até urinou, temendo que eu fosse a machucar também. Isso me corta o coração, e já coloquei na minha cabeça que irei conquista-la até que ela deixe que eu acaricie sua barriga, ou me aproxime o suficiente sem se encolher.

— Vou te segurar, tudo bem? – Mostro o dorso da minha mão para ela, e basta que eu me aproxime um passo para que Bea levante da grama, alerta. – Eu não vou te machucar, só vou te levar para a casinha.

Repito o que venho dizendo desde que cheguei, e paro de andar quando ela choraminga, encolhendo as orelhas e o rabo. Espero alguns segundos, enquanto ela se encoraja para cheirar minha mão, tão relutante quanto antes. E só quando acontece, eu a pego no colo, tomando o máximo de cuidado que consigo para não a causar nenhum desconforto.

— Vem, meu amor – a coloco no meu peito como um bebê, deixando que sua cabeça descanse no meu ombro. – Viu? Não vou te machucar. Nunca.

Ela está tremendo nos meus braços, e sinto suas unhas machucarem minha pele, mas não me importo com isso ao começar a andar apressada pelo jardim enorme do abrigo. Passo por alguns dos cuidadores, cumprimentando-os com um sorriso sem dentes, e assim que entro no prédio onde os cachorros ficavam, vou em busca da casinha de Bea. O espaço se trata de um salão gigantesco, formado por vários corredores de gaiolas grandes e espaçosas, onde os possíveis tutores também visitam para ver os animais.

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