03- Cadê todo mundo?

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Elizabeth ficou estática ao ouvir o que sua amiga  havia dito. Duas vezes seus olhinhos  piscaram tentando, ao máximo, assimilar o que havia ouvido.

Seus pais iriam se separar?

Já era de seu conhecimento que os  pais de Clara não estavam muito bem nos últimos meses e que a relação deles estava meio abalada, mas não lhe passou em momento algum pela cabeça que eles, chegariam ao divórcio. Até porque fazia tempo que não ouvia a amiga falar sobre brigas em sua casa, nem chorar pelo caos que viviam seus pais, então pensou mesmo que já estava superada a divergência entre o casal Molina.

Sem muito o que expressar, principalmente porque não sabia o que deveria ser expressado naquela situação, passou a pensar que certamente, Clara,  iria sofrer muito com tudo aquilo. Bom, ela já estava sofrendo. Suas lágrimas caíam desenfreadas molhando por completo seu rosto alvo, e seu corpo tremia por conta dos soluços. Tão frágil, a dona dos olhos azuis parecia estar prestes a quebrar.

E Elizabeth desejou, com todas as forças, tirar dela aquela dor, mas não soube como, e isso a afetou. Abriu a boca para falar, mas rapidamente a fechou não sabendo mesmo o que lhe dizer. Abriu de novo, mas voltou a fechar. A boca secou, um nó se formou em sua garganta e sua respiração ficou pesada.

Então, sendo  incapaz de dizer uma única palavra, Elizabeth a  envolveu em um abraço tentando transmitir algum conforto. Não sabia se funcionava, pois a amiga ainda chorava copiosamente. Mas não havia nada mais de que se lembrasse, então, no abraço ficou.

De cabeça baixa, Clara não deixava que visse seu rosto, ou que observasse suas lágrimas. Estava cansada de ser a menina que sofria por culpa dos pais, estava cansada de parar na frente da amiga,  despedaçada, como se só ela tivesse problemas na vida. Então nenhum som era emitido, mas a tremedeira em seu corpo, este sim era um forte  indício de que de facto,  chorava.

Elizabeth pensou em alguma coisa para lhe dizer, não era nada espetacular, mas demonstraria que sentia muito. Organizou as palavras em sua mente, mas quando decidiu externar, Clara subitamente se desvenciliou do abraço  limpando as lágrimas com a mangas da camisa que havia tirado de  seu armário nos cedo.

Clara estava triste, destroçada e cabisbaixa, sua família estava se desfazendo. Era uma adolescente de dezessete anos, mas ainda mantinha a fantasia de que os pais ficariam juntos até a eternidade...Mas não queria ficar triste, não queria que a vissem triste.

Fazia meses que estava triste e ansiosa, e não se importava que os outros vissem. Mas na noite anterior, quando seus pais se sentaram com ela, pensou que diriam algo bonito, que se desculpariam pelo caos que trouxeram até si, que sua mãe finalmente voltaria a sorrir como antes, que seu pai chegaria sempre a tempo e hora para o jantar, mas eles apenas disseram que não podiam continuar juntos e que estavam iniciando o processo de divórcio.

  A decisão era unilateral, percebeu pela cara que fazia sua mãe enquanto ele explicava.

Clara não disse nada, apenas continuou em silêncio. Mas na madrugada, se sentiu  sufocada e decidiu sair. Se achava desesperada, mas quando acordou, decidiu que teria esperanças, que se conversasse, seu pai não as deixaria. Que sua família não iria desmoronar... Então não mostraria mais tristeza.

- Não precisa ficar triste por mim Elizabeth, eu vou ficar bem. - Proferiu. Sua voz estava rouca e sua expressão neutra. Sempre tentava ser forte, Elizabeth sabia bem. Mas também se preocupava que se esforçasse demais.

- É impossível eu não ficar triste por você Cla, tudo o que te afeta me afeta também. - A moça de pela castanha, falou segurando as mãos da outra. Três anos sendo melhores amigas, era um laço tão puro quanto o da irmandade.

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