05- Alma quebrada.

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- E então papai, o que houve? - Theo perguntou novamente vendo ele se sentar. Seu rosto não tinha expressão nenhuma, e isso acabou amedrontando ainda mais aquela cuja imaginação já não lhe dava tréguas, ou seja,  sua filha. - Papai. -  Repetiu, não queria, mas se tornou  impaciente e um pouquinho rude. Não percebeu a respiração ofegante, nem o coração acelerado, mas já começava a ficar desesperado.

Nessa altura, a menina conhecida como sendo a mais pessimista da família, se encontrava com o coração a todo vapor, mãos trémulas e suadas, e não mais conseguia pensar em outra coisa que não fosse o bem-estar de Mariana. Aquela sensação ruim da manhã estava se apossando dela novamente, e desta vez mais forte.

Dizia a sua mente  que se acalmasse, dizia que não deveria pensar besteiras, que tudo ficaria bem. Mas infelizmente, não só não lhe ouvia, como também não parava quieta. Ela ficava falando, gritando e chorando ao mesmo tempo que algo ruím aconteceu e que sua "mamãe" era o centro daquilo. Então mesmo sem saber o que era, sentia o peito rachar.

- Não sei por onde começar, não me preparei para isso... - Anderson começou por falar após um longo e pesado suspiro. Seus olhos estavam baixos e aos olhos dos filhos, pareceu muito, mas muito estranho mesmo. - O que tenho para dizer não é nada fácil de digerir, mas quero que saibam que sempre estaremos juntos e eu vou sempre cuidar de vocês. - Continuou. Perante aquelas palavras, uma lágrima escorreu pelo rosto de Liz, fazendo sua imaginação flutuante continuar no trabalho de arquitectar milhões e bilhões  de pensamentos ruins. - E-eu...s-sua...-  Anderson parecia perder o ar, e pela primeira vez naqueles quase dezoito anos de vida, Elizabeth ouviu seu pai gaguejar. E muito mais do que antes, aquilo a assustou. - E-eu não... - O doctor tremeu, respirou fundo e tentou se recompor. Fosso como fosse, ele precisava lhes transmitir a informação. - Sua mãe sofreu um acidente, se assim podemos chamar. - Continuou aparentando exatamente o que sentia, confusão.

Ele disse acidente, ele realmente havia dito acidente. E o mundo quase parou parou para aqueles que ouviram.

- Ela está bem, em que hospital está? - Sua menina perguntou desesperada. Mas sua voz não a traiu, ela não vacilou. Apenas com incerteza e medo, se fez ouvir, mas em momento algum vacilou.

Diante da pergunta feita, o doctor  baixou os olhos, sentido medo e também vergonha. Ela havia sofrido um acidente e estava em um hospital, aquilo era verdade. Mas havia uma outra coisa além daquela, e essa nem ele conseguia digerir.

- Pai. - Theodor chamou. Se ouviu medo em sua voz, e seus olhos esbugalhados não se moviam daquele que era seu progenitor.

- Ela está morta. - Soltou de forma pesarosa passando a mão pela cabeça. Os dedos passaram pelo curto "pelo" negro, e depois voltaram ao nada.  Largados ao lado do corpo, demonstravam bem o quanto ele tinha de força naquele instante, ou seja, nada. -   Eu sinto muito meus filhos. -  Pediu. Se moveu  e abraçou a mais nova.

Elizabeth sentiu o contacto, ouviu a voz sussurando palavras em seu ouvido, que sua mente lhe alertou, eram de conforto,  mas não se moveu, não conseguiu.

Estática.

Queria gritar, mas a voz não saía.

Se perguntava se não ouvi alguma coisa direito, se ele disse que sua mãe, que sua adorada mãe, estava morta?

Mamãe morreu. Minha doce e adorável mãe morreu, não pode ser verdade, não quando estávamos lhe esperando. Nós até fizemos um jantar especial, eu a vi essa manhã, ela estava linda... Não pode ser verdade.

Dizia para  seu subconsciente para ver se  acordava. Que lhe dissesse que era um sonho, ou um pesadelo, e ela viveria com vergonha dele pelo resto da vida, mas que tudo ficaria bem quando acordasse.

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