19- Disputa familiar.

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- O que tem Mariana? - Confuso, Anderson quis saber.

- Simas saiu do cargo. - Elizabeth falou em seguida.

- Não me diga. - Comentou. A surpresa em sua voz era bem mais do que arquitetada, seus filhos perceberam... E aquilo os magoou de tantas formas, não que esperassem que fosse lhes contar, ajudar ou algo do tipo, mas ainda assim doeu. Ele era o seu pai, poderia ao menos ter... Sei lá, ele não deveria agir daquela forma.

- O senhor já sabia. - Theo constatou indignado. Elizabeth baixou a cara, e seu ânimo também mudou.

- Sim sabia, o próprio Simas me avisou um mês atrás. - Confirmou. Simas o avisou? O quão próximos eles eram, e porque ainda mantinha contacto? As perguntas sondaram a mente de seu filho.

- E por quê não contou nada? Me deixe adivinhar: Porque estava viajando. - Theo rebateu cheio de mágoa. Também estava chateado, e suas expressões faciais demonstravam bem.

- Se não contei nada foi apenas para proteger vocês. - Convicto, Anderson falou abandonando o prato intocado. Proteção, era uma conversa antiga, e deixava louca a sua filha.

- Do que está tentando nos proteger, papai? - Elizabeth perguntou já prevendo sua resposta.

- Da dor que vocês deliberadamente estão buscando com essa busca infinita. - Respondeu a encarando. - Mariana se foi, doeu. Mas procurar por um fantasma não vai trazer ela de volta, ou alguma coisa boa. - Acrescentou abandonando de vez a mesa para colocar o prato no balcão. Era triste para aquelas "crianças" saber que ele realmente acreditava em Simas, com quem aparentemente se dava bem. - Eu não quero que sofram novamente. - Afirmou.

- Não acha que acreditou demais nas coisas que disse seu melhor amigo? Não acha que deveria ser mais racional? - Theo rebateu tentando não soar ofensivo.

- Racional você diz, mas são vocês que não conseguem aceitar uma verdade só porque parece fraca demais para o ser... Preferem um assassino em série ou uma conspiração, ou o sofrimento. Mas eu que estou sendo irracional? - Apontou o médico. Contrariado, seu filho engoliu em seco.

- O senhor diz querer nos proteger da dor, mas nós já estamos sofrendo. - Interviu a mais nova.  - Pode até parecer idiota e tudo mais, mas essa dor não vai diminuir e menos ainda passar enquanto não tivermos respostas. - Explicou procurando compreensão.

- Elizabeth, essa não é a solução - Disse Anderson.

- É a nossa solução, e o senhor poderia ao menos respeitar isso. - Rebateu sua menina.

- Quantas vezes eu tenho que pedir... - Anderson começou por dizer, mas seu filho pirraguiou, então se calou.

- Por favor papai, pare com isso. - Theo pediu. - Eu não lembro do senhor ter pedido alguma coisa em relação a esse assunto nos últimos anos... Manipular e atrasar, isso o senhor fez. E muito bem, verdade seja dita. - Disse. - E eu realmente não quero trazer assuntos passados aqui, ou acabar com o pouco de paz que restou, mas porquê o senhor não pensa em nós e em como suas atitudes nos afetam? - Perguntou.

Todos naquela sala tinham um sentimento em comum,  mágoa. Por motivos diferentes, mas o compartilhavam.

-  Não me acuse, não estou sendo egoísta ou mau... Eu só quero proteger os meus filhos. -  Desolado, Anderson afirmou. Embora não concordasse com sua atitude, Elizabeth não gostava de ver seu pai triste. E se sentia mal, porque de certa forma, ela era a causadora daquele sofrimento.

Mas como abrir mão das respostas que precisava?

- Não precisamos de proteção, e nem queremos conflitos com o senhor. - Theo disse resoluto. - O caso de mamãe já está sendo analisado, e se o novo capitão não for como o Simas ou acreditar nos boatos que o senhor criou  sobre nós, em breve será reaberto. - Anunciou. A expressão do médico tornou-se a de uma pessoa derrotada.

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