15- Questões do coração.

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- Então está me dizendo que quando voltar da viagem, não terei mais sobrinha. É isso mesmo? -  Do outro lado do país, caminhando com os auriculares presos aos ouvidos, Donavan escutava atentamente do novo drama.

- Isso mesmo, vou me tornar um assassino. - Theo respondeu. Já com um humor melhor, se ocupava fazendo seu jantar.

- Sabe que está confessando seu futuro crime para um advogado, não é mesmo? - Don, como era frequentemente chamado, questionou achando aquela conversa bastante inusitada.

- Eu estou falando com o meu tio, se tiver algum advogado, isso eu não sei. - Esperto, rebateu o menor.

- _Está certo, mas o que fez a sua irmã para que tivesse se chateado? - Devolveu curioso. Palavras como: ela é uma traidora, está me deixando mal, não presta e algo mais foram proferidas, mas o motivo, esse ele não sabia.

- Eu sei que o senhor vai dizer que uma coisa não tem relação com a outra, e que trabalho é trabalho, mas eu fiquei magoado quando soube que a empresa dela está organizando. - Contou abaixando o volume do fogão. - Eu sei que ela não tem culpa, e tudo bem ficar feliz pela felicidade alheia... Mas desde que soube do casamento, que aliás, me avisaram por mensagem. - Havia uma entonação amarga em sua voz. - Não estou muito bem. - Admitiu sem medo de se mostrar fragilizado. E nem pretendia, aquele era seu tio, e com ele não existiam reservas.

- Theo, o que eu poderia dizer em uma situação como essa? Apenas que você precisa ser forte, e aceitar. - Tentando lhe acalmar, proferiu o senhor Covy.

- Isso não ajudou muito. - Emburrado, confessou.

- Não tem como ajudar nesse caso. Você fez sua escolha lá atrás, seja responsável e arque com ela. - Constatou.

- Eu sei o que fiz, e não é só isso o que me incomoda. - Contou.

-  Então, o que está te incomodando? - Donavan achou um lugar para de sentar, e então perguntou. Sinalizou ao garçom e pediu um copo com água.

- Foi algo que a Clara me disse essa manhã. Normalmente eu não presto atenção nas coisas que ela diz, mas dessa vez... - Começou por dizer apoiando as costas no balcão. - Ela disse que eu só não quero que a Kim seja feliz, porque eu não sou feliz. - Relatou. O choque ao ouvir aquelas palavras, o reboliço que lhe trouxeram na alma, ainda era tudo vivido.

-E isso é verdade, você não é feliz?- Comovido perante o tom de voz fraco que ouviu, seu tio perguntou.

- Eu não sei Don. - Admitiu em um fiapo de voz. Houve uma época em que responderia aquela pergunta sem titubear, mas já nem sabia. - O que é felicidade afinal? - Era uma pergunta retórica, seu ouvinte sabia. - Acho que é ver a Liz animada, não brigar com meu pai , ver Naninha algumas vezes por semana. Saber que tenho amigos com quem contar, acho que isso é felicidade. - Comentou.

Aquela conversa que começou descontraída e com ares de "vingança", havia se tornado profunda, melancólica e talvez até, dramática.

- Acho que a felicidade passa por isso.- Do outro lado da linha, antes de fungar o ar para afastar a sensação de choro que se instalou em si, Donavan Carlos conseguiu dizer. Por momentos sentiu pena do sobrinho, e não soube o que dizer. - Adotado. - Chamou. Theo riu com a brincadeira. - Não fique pensado demais no passado, e se possível, faça as pazes com ele...Tudo tem um tempo, e certamente vai encontrar a felicidade. - Garantiu.

- Olha, fazia tempo que não tínhamos uma conversa tal profunda. - Theo riu com a constatação. - Parece que ainda não perdeu o jeito para ser tio. - Provocou divertido. Em resposta o homem  a quem se dirigia, estalou a língua.

- Ah menino, vá para o inferninho. - Falou.

[...]

Após o almoço,  o trio de amigas voltou para a empresa, e cada uma foi fazer o respectivo trabalho.E contrariando todas as expectativas, Elizabeth não correu na direcção da delegacia.

O Segredo da Mentira.Onde histórias criam vida. Descubra agora