06- Café.

12 11 0
                                    

Ainda longe do meio dia, a casa dos Molina era preenchida pela voz de Miranda, que irritada, tentava convencer o marido a não lhe deixar. Dentro do quarto, Clara tentava não se abalar pela mais recente briga dos pais.

Guardava esperança em seu coração, de que seu pai reconsideraria e que ficassem todos junto. Sua mãe não sofreria e sua família seguiria unida. Talvez fosse imaturo pensar assim, mas não podia perder a esperança na família que eram antes. Aquela alegre que fazia churrasco aos fins de semana, e passeava junto pelo parque. Aquela mesma de antes de se mudarem para Alura.

- Então é isso, vai mesmo sair de casa e me deixar? - Embora estivesse vendo as malas que ele carregava, Miranda não conseguia acreditar que seu casamento estava acabafo. E mesmo que não estivessem bem nos últimos meses, ainda amava o marido e esperava resolver as divergências. - Vai deixar a sua família, não se preocupa nem um pouco com a sua filha? - Voltou a questionar.

Tinha as mãos na cintura, uma postura ameaçadora e um cachecol a volta do pescoço. Assim como o marido, possuía olhos azuis. Talvez de um tom mais forte que o seu, mas ainda eram azuis...

- Miranda, entenda por favor. Esse casamento não está dando certo. - Miguel-Angel rebateu. Fazia gestos pausados e realmente esperava que ela compreendesse. - Eu não quero magoar você, sabe que lhe quero muito bem. Mas pense e verá que estou certo... Nosso casamento acabou faz tempo. - Acrescentou.

Angel era um homem alto, possuía o cabelo negro com algumas poucas faixas acinzentadas, e trabalhava com petrolífera. Estava caminhando para a reforma que exigia a profissão, então se dedicaria ao negócio de carros que vinha planejado.

- Quando foi isso, quando acabou, porque para mim até ontem nosso casamento tinha salvação. - Bradou a professora. Usava Chanel no cabelo loiro, e tinha o hábito de pintar os lábios de vermelho.

- Eu sinto muito que não tenha sido claro, mas isto realmente acabou. - Não querendo magoar a mãe de sua filha, Miguel-Angel proferiu. Pegou na mala para sair quando ouviu o som do telefone da casa, e por algum motivo parou.

- Alô. - Miranda respondeu levando o aparelho ao ouvido. Do outro lado linha estava Anderson com a notícia que a paralisou. - Como? - Questionou espantada. Não era propriamente amiga da mulher, mas se mostrou triste com a súbita partida. Era a mãe da melhor amiga de sua filha. Mas era a vida, o que ela poderia fazer? - É claro, eu avisarei. - Concordou. Confuso, Miguel-Angel, esperava que desligasse o telefone para que pudesse lhe contar o que estava acontecendo. - Eu sinto muito Anderson, de todo coração. - Proferiu antes de desligar.

- Era o doutor de Almeida? - Nervoso com as últimas palavras da esposa, Angel não evitou perguntar. - Fale Miranda, para com o suspense. - Retornou perante o silêncio e atitudes estranhas da esposa. Ela olhava o telefone de forma insistente, e por momentos acreditou que era de sua vontade entrar nele.

- A mãe da amiga da Clara, foi encontrada morta ontem de tarde. - Contou.

- O quê? - Foi tudo o que o homem conseguiu dizer.

- Preciso avisar a minha menina. - Miranda comentou meio desnorteada começando a marchar para o quarto da filha. Sabia que veria a filha sofrer, mas era necessário.

- Mãe. - Abaixando os fones de ouvido quando a mãe cutucou seu ombro, a menina se virou para ela em tom brando. Tinha marias-chiquinhas na cabeça e usava uma vestido rodado na cor azul. Uma boneca, assim a chamava seu pai. - Tudo bem, o papai se foi? - Questionou curiosa.

- Não, ele não foi. - Miranda respondeu o que sabia ser verdade, pois ainda se lembrava da imagem do homem em sua sala. Clara sorriu, abriu os braços e satisfeita se jogou sobre a cama. - Mas aconteceu uma coisa muito má querida, e eu preciso que seja forte. - Acrescentou.

O Segredo da Mentira.Onde histórias criam vida. Descubra agora