Capítulo 1

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TRIM! TRIM! TRIM!
É sempre assim, no meio de um sonho lindo e maravilhoso, o despertador toca na maior altura. Desliguei aquela porcaria e me deitei de novo, olhando o teto. Queria não levantar, ficar ali, dormir por muito tempo, ao invés de levantar e encarar o mundo. As coisas não estavam muito boas para mim, na verdade, acho que nunca estiveram.
Reuni forças e me levantei da cama, fui para o banheiro, me arrastando de sono. Escovei os dentes, tomei um belo banho frio para despertar. Enrolei-me na toalha e voltando para o quarto, senti os pés molhados beijarem o piso frio.
No canto do quarto, perto do guarda-roupa, estava o cara mais lindo do mundo! Loiro, pele clara, olhos azuis.

— Olha só para você – falei — Bonito e cheio de personalidade.

Era o pôster enorme do Kurt Cobain, que eu tinha comprado no dia anterior. Kurt é meu ídolo, Nirvana minha banda favorita. Meu quarto era todo decorado com coisas deles, posteres, uma estante com CD 's, DVD' s, recortes de revistas, e meu poster grande que eu ia colocar na porta. Perfeito!
Terminei de pendurá-lo, então fui me vestir. Minhas aulas começavam às 7h e já eram 6h10. Vesti uma calça jeans e uma camisa azul, calcei meus Vans preto. Me encarei no espelho e dei uma ajeitada no cabelo. Ele estava bem grande, meio sem graça, castanho e liso. Olhei para minha cara pálida e sacudi a cabeça negativamente. Peguei minha mochila e saí do quarto.
Minha casa era minúscula, só tinha uma cozinha pequena, um banheiro e meu quarto. Era o que dava para pagar. De manhã eu tinha aulas na Universidade Estadual, e à tarde trabalhava em uma sorveteria no Centro. Administração não era bem a carreira dos meus sonhos, mas ainda não sabia bem o que cursar, e sentia que o tempo estava passando e eu não estava fazendo nada da vida, então comecei a estudar.
6h17. Passei um café sem açúcar e coloquei duas fatias de pão na torradeira. Abri a geladeira procurando uma geleia, mas tudo que tinha era: duas garrafas de água, um tablete de manteiga, provavelmente vencido, e um resto de manteiga de amendoim. Na verdade, não era bem um resto, o vidro só estava sujo. Comi as torradas puras mesmo, mastiguei e tomei café para ajudar a engolir.
Saí de casa, tranquei a porta e peguei minha bicicleta ali no jardim. De bicicleta levava mais ou menos uns vinte minutos para chegar na Universidade. Durante o percurso, o mesmo de sempre, sol brilhando entre as nuvens, pessoas indo para o trabalho, trânsito movimentado, idosos na praça alimentando pombos, comerciantes abrindo as lojas. As ruas de São Francisco têm lindas ladeiras.
Chegando na Universidade, tranquei a bike no bicicletário, e atravessei o jardim até a entrada. Aquele tumulto de alunos conversando me incomodava. Fui andando depressa pelo corredor, então topei com meu vizinho. Ele estava com uma geringonça nas mãos, cheia de fios e coisas estranhas.

—E aí, Greg? — cumprimentei.

—Ah, oi Harley! — sorriu exageradamente, exibindo o aparelho ortodôntico.

—O que é isso?

—Um trabalho de Física I. Ficou bom?

—Eu não sei o que é, mas, claro. Está ótimo.

—Obrigado!

Desejei boa sorte com o trabalho e continuei o caminho pelo corredor. No fim dele, havia a escada para o segundo andar. Subi por ela, me apoiando no corrimão liso. Tinham apenas alguns alunos ali, a maioria já estava nas salas, a maioria que não se atrasa como eu.
Quando estava passando em frente o banheiro feminino, alguém tocou meu ombro:

—Ei.

Me virei para olhar. Ali estava uma garota muito diferente. Usava uma saia longa preta, uma blusa estranha, lenço no cabelo, maquiagem preta, vários anéis nas mãos e colares chamativos no pescoço.

— Oi. — falei, ajeitando a mochila no ombro.

— Sabe onde é a classe do Sr.Val?

— Finanças Corporativas? Claro, estou indo pra lá. É novata?

In BloomOnde histórias criam vida. Descubra agora